Bons hábitos de higiene oral indispensáveis no combate à Periodontite
De acordo com a Organização Mundial de Saúde quatro em cada cinco pessoas sofre de periodontite. Em Portugal é a patologia oral mais prevalente. Neste sentido em que consiste esta doença e quais os principais sintomas associados?
Periodontite, popularmente conhecida como piorreia, é uma doença gengival infeciosa e bacteriana adquirida por pacientes mais suscetíveis à acumulação de placa bacteriana, película de bactérias que se forma ao redor do dente, e que facilita o desenvolvimento do tártaro.
Fumar, apresentar uma baixa imunidade e hábitos alimentares pouco saudáveis são fatores que contribuem significativamente para este processo.
Os primeiros sintomas da doença estão relacionados com a irritabilidade dos tecidos gengivais, acompanhados de sangramento ao passar a fita dentária ou uma escovagem mais severa. Por exemplo, presença de aftas, gosto amargo na boca, gengiva vermelha ou com sangramento, pus e mobilidade dentária.
Quais as faixas etárias mais atingidas?
Estudos revelam que na faixa etária entre os 12 e os 44 anos, quando examinados, e utilizando índice de placa, profundidade de bolsa, índice de inserção periodontal e sangramento, a faixa etária dos 12-19 anos é a mais propícia a desenvolver gengivite e após os 25 anos a perda óssea associada é mais significativa, causando maiores problemas.
Uma vez que a doença gengival não costuma provocar dor ou desconforto, a que sinais devemos estar atentos?
Devemos estar atentos à presença de irritabilidade dos tecidos gengivais, acompanhada de sangramento e/ou mobilidade.
O que provoca a periodontite? E qual o papel da história familiar no desenvolvimento da doença? Em última análise, apesar dos hábitos de higiene serem seguidos escrupulosamente, há risco de desenvolver a patologia?
É claro que o fator genético, assim como o histórico familiar, é um alerta vermelho e um risco para o desenvolvimento da doença, assim como os maus hábitos de higiene e alimentares. Mas, se estiver sob orientação médica e fizer uma correta higienização, evita a progressão da doença travando o risco de perder os dentes.
Quais as principais complicações da patologia? É possível travar o avanço da doença ou até mesmo reverter a condição?
A principal complicação da patologia dá-se a partir do momento em que a doença periodontal passa de uma gengivite (inflamação da gengiva) para uma periodontite (inflamação do periodonto – fibras que sustentam o dente). Mas quando identificado a tempo, por um profissional de saúde, através de raio-X e sonda exploratória para avaliar o grau de avanço, poder-se-á travar e até mesmo reverter o quadro.
No entanto, reverter os danos pode ser uma tarefa muito difícil e nem todos os casos têm sucesso. Isso depende da gravidade do caso. Mas para o conseguir são necessárias técnicas específicas tais como o enxerto ósseo, PRF (fibrina rica em plaquetas) e até mesmo enxerto gengival. O que não dispensa consultas e controlo periódico. Por isso, a prevenção será sempre o melhor caminho.
No que diz respeito ao tratamento, em que consiste a terapia Periodontal e para que casos está aconselhado o tratamento cirúrgico?
Quando falamos de tratamento e identificamos o problema, iniciamos o uso de medicação após a verificação da anamnese e todo o historial do paciente. No caso de pacientes com problemas cardíacos, os cuidados devem ser redobrados, evitando que durante o tratamento a bactéria entre em contacto com a corrente sanguínea e se possa instalar na válvula cardíaca, causado a endocardite bacteriana.
O tratamento consiste na raspagem da placa bacteriana, tártaro ou qualquer outro fator irritante dos tecidos das gengivas e alisamento ao redor da coroa do dente, a nível gengival, para que as fibras possa estar protegidas e livres de infeção, mantendo as gengivas saudáveis.
Nos casos mais avançados, em que a doença periodontal saiu do nível gengival e caminhou para o nível subgengival, atingindo as fibras do periodonto, somente será possível remover o tártaro fazendo um acesso cirúrgico, que consiste em abrir a gengiva e fazer a raspagem a nível radicular.
Quando chegam a este nível, algumas fibras já foram perdidas, juntamente com o osso adjacente, deixando a raiz exposta o que poderá trazer sensibilidade e até mobilidade.
Em matéria de prevenção, quais os cuidados a ter?
Nada melhor que a prevenção, fator principal, para não desenvolver ou para reverter o problema.
Primeiro passo, devemos consultar o médico dentista regularmente, evitar maus hábitos de higiene e alimentares. Ter disciplina fazendo uma correta higienização, tendo em mãos a escova correta para cada caso. Sendo que deve evitar uma escova dura que poderá, por excesso de força, traumatizar a gengiva levando a uma retração gengival.
Preferir sempre uma escova macia ou elétrica, para quem não tem habilidade nem paciência para fazer uma correta higienização.
E, um aliado muito importante é o uso da fita dentária. A fita dentária também deverá ser usada de forma correta, passando sempre uma parte limpa do fio em cada espaço dentário. Caso use o mesmo pedaço de fio em todos os dentes, corre o risco de, além de não limpar corretamente, contaminar outros dentes por usar um pedaço já sujo.
Evite também o uso de dentífricos muito abrasivos, com promessas de clarear os dentes. Isso poderá desgastar o esmalte do dente. Em alternativa, procure usar um gel dentário por ser menos abrasivo.
Sabendo que ainda existe algum desconhecimento relativamente ao tema, quais as ideias essenciais que devemos reter? Que mitos estão associados a esta matéria?
Embora não exista uma confirmação oficial, a saliva parece ser a responsável pela transmissão da doença, que poderá ser revertida com uma boa higienização. Por isso, para mantermos uma gengiva saudável e livre de doença periodontal devemos apostar na prevenção, prevenção e prevenção!
Alguns mitos associados à doença:
Pastilha elástica sem açúcar auxilia contra a cárie?
Mito. A pastilha elástica sem açúcar não provoca cárie, além de aumentar o fluxo salivar. Mas não ajuda a prevenir a cárie. A prevenção faz-se pelo uso de escova e fita dentária.
Higienização eficiente é feita com grandes quantidades de dentífrico?
Mito. Devemos usar pouca quantidade e colocar no meio das cerdas para não ser facilmente engolido
Higienização noturna é a mais importante?
Verdade. O fluxo salivar que ajuda a limpar os dentes é menor à noite, pelo que o seu efeito protetor desaparece. Portanto, é muito importante lavar bem os dentes antes de dormir.
Uma boa escovagem deve ser demorada?
Verdade. Devemos fazer uma escovagem demorada, passando por todos os grupos de dentes e, em média, lavar os dentes três vezes por dia após o indispensável uso da fita dentária.