Sépsis: será que estamos todos em risco?
A sépsis define-se como disfunção orgânica com risco de vida, devido a uma resposta inflamatória desregulada do hospedeiro a uma infecção.
Qualquer infecção pode cursar num continuum de gravidade que vai desde o momento em que um microrganismo (um micróbio) invade uma parte do nosso organismo (Ex: bexiga, pulmão, etc.), passando pela chamada bacteriemia (presença de bactérias no sangue) até à sépsis propriamente dita que pode rapidamente evoluir para choque séptico e disfunção multiorgânica – quando vários sistemas de órgãos começam a não funcionar eficientemente. O nosso organismo é uma organização com muitas interdependências entre os vários órgãos, que começa a falir quando os seus membros entram em disfunção, logo esta põe sérios riscos à nossa vida.
Todos nos arriscamos a uma sépsis? Sim, mas na verdade há alguns factores de risco que contribuem para que tal possa acontecer. São exemplos: internamento recente, infecções adquiridas em hospitais, idade avançada, indivíduos debilitados ou imunossuprimidos.
Há uma constelação de dados clínicos, laboratoriais, radiológicos, fisiológicos e microbiológicos que são necessárias para fazer o diagnóstico definitivo de sépsis, porém há vários sinais clínicos que nos fazem pensar logo nesta entidade, levando a que o doente seja rapidamente orientado para tratamento antibiótico associadamente a outros cuidados em termos hospitalares, por exemplo admissão em Unidades de Cuidados Intensivos/intermédios mediante o grau de gravidade e evolução nas primeiras horas.
Estes doentes geralmente apresentam-se com tensão arterial baixa, frequência cardíaca elevada, febre e analiticamente com glóbulos brancos elevados (embora em situações de maior gravidade ocorre o oposto, glóbulos brancos diminuídos), pele fria e acinzentada, diminuição de débito urinário e estado mental alterado.
O tratamento da sépsis, tratando-se de um estado decorrente de infecção, passa obrigatoriamente por administração de antibióticos, sempre que possível (isto é, quando conseguimos isolar um microrganismo) dirigidos ao agente infecioso. Tal nem sempre acontece numa primeira abordagem já que, frequentemente, o doente já nos aparece em sépsis e, embora se deva colher para cultivo sangue, urina e outros líquidos orgânicos quando existentes (como secreções brônquicas, ou pus se existir uma ferida ou abcesso acessível), não podemos protelar o início do antibiótico nestes doentes até existir crescimento de microrganismos em cultura já que isso pode levar até vários dias e nem sempre se consegue uma amostra capaz de identificação do “criminoso”. Assim sendo utilizam-se os antibióticos que, face à suspeita de local de infecção, sejam os habitualmente mais eficazes, modificando-se a estratégia, se necessário, aquando da identificação de um dado microrganismo (isto se a escolha antibiótico inicial se mostrar como não sendo a mais adequada). Porém o tratamento da sépsis é mais do que apenas antibióticos já que esta é o resultado de um conjunto de respostas à infecção que necessitam de outros cuidados – o que medicamente se chamam cuidados de suporte. Estes doentes precisam quase sempre de muitos fluídos, mais popularmente conhecidos como soros (e outros tipos de substâncias) capazes de proceder à melhor e mais rápida hidratação do doente, oxigénio e por vezes ventilação mecânica ou até hemodiálise.
Na verdade, a sépsis requer sempre uma avaliação e tratamento médico e, dependendo da sua gravidade, são frequentes os internamentos mais ou menos longos, sendo sempre um motivo de preocupação para os profissionais de saúde pela gravidade em que pode incorrer, nomeadamente risco de morte. Quando abordada precocemente, porém, é muitas vezes reversível, podendo o doente sobreviver-lhe sem sequelas.
*este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico, por opção do autor