Opinião da maioria dos peritos em dor

Tratar a dor

Atualizado: 
16/09/2014 - 12:41
A dor é um fenómeno complexo que independentemente da causa pode e deve ser tratada. No entanto, a maioria dos casos de dor estão mal controlados. No sentido de melhorar o tratamento da dor um grupo de peritos publicou um documento com as principais recomendações nesta matéria.
Tratar a dor

As pessoas respondem de forma diferente à dor. Por exemplo, uma mulher em trabalho de parto consegue suportar melhor a dor, enquanto uma pessoa com lombalgias pode desesperar se a dor não aliviar e há doentes que aprender a gerir e a suportar melhor a dor. Há a considerar ainda que há doentes muito queixosos e outros pouco, uns pretendem alívio rápido e outros são mais tolerantes.

A dor é um fenómeno complexo e com variantes multidimensionais (biofisiológicas, bioquímicas, psicossociais, comportamentais e morais), sendo que são inúmeras as causas que podem influenciar a existência e a intensidade da dor no decurso do tempo, a primeira das quais é a que se identifica como presumível resultado duma agressão ou lesão.

Trata-se de um sintoma que acompanha, de forma transversal, a generalidade das situações patológicas que requerem cuidados de saúde e independentemente da causa, a dor pode e deve ser tratada.

Tendo sido verificado que a maioria dos casos de dor estão mal controlados qualquer que seja o país e conhecendo-se as implicações da dor, a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2007 publicou os resultados de um estudo no sentido de se avaliar da necessidade da criação de guidelines (recomendações) que orientem os profissionais nas suas intervenções efectivas para o controlo da dor.

Resumem-se as principais conclusões deste estudo:

1. Todos os respondentes concordaram que a OMS deve ter um papel activo na criação e revisão de guidelines para o controlo da dor;

2. As guidelines da OMS para a dor do cancro em adultos e crianças são largamente utilizadas. Estas guidelines chamam à atenção para o uso de opióides e têm promovido mudanças de abordagem terapêutica. Considera-se importante a sua actualização para a inclusão dos novos opióides e outros analgésicos, adjuvantes da terapêutica da dor, diferentes abordagens e novas modalidades terapêuticas não farmacológicas;

3. Tal como na dor oncológica também os outros tipos de dor devem ser tratados efectivamente sendo necessário mudar a opinião da sociedade, dos profissionais, dos políticos e a regulamentação da abordagem da dor. As novas guidelines devem dirigir-se a outros tipos de dor e a todos os profissionais (clínicos gerais, enfermeiros, farmacêuticos), políticos, agências reguladoras e administrativas, para legitimar o uso de opióides e melhorar a prática clínica. Salienta ainda, a necessidade de chamar à atenção entre o uso adequado de opióides e a prevenção do seu abuso garantindo o acesso adequado;

4. As guidelines da OMS são essenciais para ajudar os governos e o desenvolvimento do uso de opióides e não opióides assim como da terapêutica adjuvante. São necessários mais esforços da OMS e do International Narcotics Control Board (INCB) para garantir a disponibilidade legal de analgésicos opióides em todo o Mundo;

5. As guidelines da OMS devem ser baseadas nos seguintes princípios:

a. Todos os tipos de dor: nociceptiva, neuropática, psicogénica, considerando todas as dimensões (física, psicológica, emocional e espiritual);

b. Grupos etários: orientando a abordagem para recém-nascidos/crianças, adultos e idosos, dadas as suas diferenças quanto ao tipo de dor, avaliação, efectividade e escolha do fármaco ou abordagem não farmacológica;

c. Categorias da dor: as guidelines devem abranger a dor aguda, crónica maligna e crónica não maligna, incluindo ainda situações clínicas específicas e de recursos limitados;

d. Número de guidelines: pelo menos em número de três para o adulto considerando aspectos específicos para as crianças;

e. Guidelines para doentes com cancro e HIV: devem ser específicas para estes doentes e também abranger outras situações de risco de vida, integradas numa abordagem holística e em articulação com os especialistas;

f. Processo operacional: deve ter em atenção a disponibilidade e os custos;

g. Uso de guidelines existentes: havendo guidelines criadas por organizações de referência em cada país, elas podem ser utilizadas;

h. Documento único: os respondentes ao questionário que deu origem a estas orientações consideram que as guidelines da OMS devem estar num único documento que envolva todos os tipos de dor, grupos etários, abordagens e tipos de doentes;

6. As guidelines da OMS devem ser actualizadas regularmente, devem ser flexíveis e expansíveis para a inclusão de novas abordagens terapêuticas e de acordo com os diferentes níveis de cuidados de saúde, encorajando o uso de terapêutica de custo reduzido;

7. Devem envolver todos os profissionais de saúde para que sejam consideradas propriedade de todos. O papel do farmacêutico e do enfermeiro é crucial e devem ser considerados nas guidelines da OMS. Todos os profissionais devem ser educados quanto às boas práticas de controlo da dor;

8. Devem abordar as barreiras para a aplicação das guidelines e a forma de as ultrapassar;

9. Abordar ainda os cuidados a seguir no armazenamento dos medicamentos para garantir a sua estabilidade e a distribuição legal e segura de substâncias sujeitas a controlo;

10. Devem ainda incluir estratégias de aplicação das guidelines e para a aderência dos profissionais.

Fonte: 
Manual da Dor – Abordagem Geral
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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