Distimia
A distimia é uma doença do humor, comparada a uma depressão minor, porém ocorrendo de uma forma crónica, com a persistência de tristeza por longo tempo (pelo menos dois anos), durando a maior parte do dia, na maioria dos dias. Ou seja, o indivíduo é capaz de realizar as suas tarefas habituais diárias, mas sente falta de prazer, tristeza, desânimo, desinteresse pela vida, baixa auto-estima, sentimentos de negatividade de forma prolongada.
Muitas pessoas com este tipo de perturbação descrevem ter estado deprimidas desde que se lembram, ou sentem que estão sempre a entrar e sair de uma depressão. Esta doença afecta duas a três vezes mais as mulheres do que os homens e pode surgir como reacção ao stress excessivo, devido a múltiplos acontecimentos de vida, nomeadamente o desemprego, perdas de familiares, dor crónica ou outras doenças.
Segundo diversos estudos, cerca de 3 por cento da população pode sofrer de distimia em qualquer momento da sua vida. Para além disso, pessoas que sofram de distimia têm um risco aumentado de 10 por cento de vir a sofrer/evoluir de depressão major.
A distimia surge, por vezes, associada com algumas perturbações de personalidade e com o abuso de substâncias. Já nas crianças a distimia está relacionada frequentemente com perturbações da ansiedade, perturbações da aprendizagem, deficits de atenção e hiperactividade, perturbações de comportamento e atraso cognitivo.
Sintomas
Os sintomas de distimia são semelhantes aos da depressão major, embora tendam a ser menos intensos. Em ambas as situações, uma pessoa pode apresentar um humor deprimido ou irritável, uma diminuição do prazer e perda de energia, sentindo-se relativamente desmotivada e desligada do mundo. O apetite e o peso podem estar aumentados ou diminuídos. A pessoa pode dormir excessivamente ou ter dificuldade em dormir, podendo igualmente evidenciar dificuldade na concentração, indecisão, pessimismo e uma auto-imagem negativa.
Normalmente, na distimia não há um período mais agudo da doença, uma vez que os sintomas estão presentes de uma forma estável durante anos. Para além disso, um doente pode não ter todos os sintomas.
Os sintomas podem evoluir para um episódio franco de depressão major. Esta situação é por vezes denominada “depressão dupla” devido ao facto de um segundo problema (o episódio depressivo major) se sobrepor aos sentimentos habituais de humor deprimido.
Embora a depressão major ocorra frequentemente de forma episódica, a distimia é mais constante, prolongando-se por longos períodos, por vezes com início na infância. Consequentemente, uma pessoa com distimia tende a acreditar que a depressão faz parte do seu carácter, podendo mesmo não pensar nem falar na sua depressão com os médicos, os familiares ou os amigos, levar ao isolamento ou a uma vida limitada, com pouca vida social.
Causas
Existem muitos factores que contribuem para o aparecimento da distimia, mas nenhum é causa única do seu desenvolvimento. Ela é causada por um conjunto de factores, como relações familiares complicadas na infância; pais abusivos, agressivos e distímicos. A probabilidade aumenta em famílias que tenham mais membros que sofram de depressão, pânico ou outras doenças ligadas a distúrbios de metabolismo de serotonina.
Como a distimia se inicia cedo na vida – muitas vezes na infância, adolescência ou início da idade adulta – facilmente se confundem os sintomas com as características pessoais da pessoa.
Diagnóstico
O diagnóstico aplica-se quando uma pessoa demonstra um humor depressivo durante pelo menos 2 anos. Para ser aplicado a crianças, bastará um ano de duração, e, em vez de tristeza ou humor depressivo, a criança poderá demonstrar irritabilidade.
Não existem exames laboratoriais para diagnosticar a distimia. No entanto, o médico pode pedir exames para investigar a presença eventual de doenças que podem ser responsáveis pelos sintomas, como uma doença da tiróide ou uma anemia.
Os doentes com distimia podem parecer medianamente deprimidas de uma forma crónica, de tal forma que parece fazer parte das suas personalidades. Quando finalmente procuram ajuda/tratamento, é provável que já sofram de distimia há vários anos.
Este carácter crónico, e que afecta o funcionamento normal, leva a que a distimia passe, frequentemente, despercebida e, logo, não seja tratada. Por isso, quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores as probabilidades de recuperação. No caso das crianças, muito em particular, o diagnóstico e correcto tratamento são fundamentais para prevenir o desenvolvimento posterior de perturbações graves do humor, dificuldades académicas e sociais e, mesmo, o abuso de substâncias mais tarde.
Critérios de diagnóstico da distimia
A pessoa tem humor depressivo a maior parte do tempo, quase todos os dias, durante pelo menos 2 anos. As crianças e os adolescentes podem apresentar irritabilidade e basta uma duração de um ano.
Quando deprimida, a pessoa exibe pelo menos dois dos seguintes sintomas:
- Comer em demasia ou perda de apetite;
- Dormir demais ou dificuldades em dormir;
- Fadiga, falta de energia;
- Baixa auto-estima;
- Dificuldades de concentração ou tomada de decisão;
- Sensação de impotência;
- Durante o período de dois anos (um para crianças e adolescentes) não existiu nenhum período assintomático;
- Durante esse período (2 anos adultos, 1 ano crianças/adolescentes) não existiu nenhum episódio de depressão major;
- Não existiu nenhum episódio maníaco, misto ou hipomaníaco;
- Os sintomas não ocorrem apenas na presença de outra perturbação crónica;
- Os sintomas causam forte perturbação ou dificuldades no funcionamento familiar, ocupacional ou outra área importante.
Tratamento
O melhor tratamento para a distimia é uma combinação de psicoterapia e de terapêutica medicamentosa.
A psicoterapia dependerá de diversos factores, incluindo a natureza dos eventos causadores de stress, a disponibilidade da família e de outro apoio social e as preferências pessoais. A terapia deve incluir a educação sobre a depressão, sendo essencial a existência de apoio. A terapia cognitivo-comportamental tem por objectivo examinar e ajudar a corrigir padrões de pensamento auto-críticos errados.
As pessoas com distimia que pensam que “sentirem-se tristes” faz parte da sua vida podem ficar surpreendidas ao descobrir que a medicação antidepressiva pode ser muito útil. No entanto, nas fases iniciais de tratamento um pequeno número de pessoas medicadas com estes fármacos sente-se francamente pior em vez de melhorar. É que, de um modo geral, são necessárias duas a seis semanas de utilização do antidepressivo para se observar uma melhoria. A dose deve geralmente ser ajustada até se identificar a dose certa para cada pessoa. Frequentemente, serão necessários alguns meses até que se observe um efeito positivo pleno.
Além disso, o primeiro medicamento prescrito pode não resultar, podendo ser necessário experimentar mais do que um antidepressivo diferente antes de se encontrar um que proporcione alívio dos sintomas. Por vezes são prescritos concomitantemente diferentes medicamentos antidepressivos ou então o médico pode combinar outros tipos de fármacos (um estabilizador do humor ou um ansiolítico) com um antidepressivo.
Deste modo, a pessoa deve comparecer a todas as consultas de seguimento e comunicar imediatamente ao médico quaisquer alterações perturbadoras.
Com o tratamento, o prognóstico de uma pessoa com esta perturbação é excelente. A duração e a intensidade dos sintomas diminuem frequentemente de forma significativa e, em muitas pessoas, os sintomas desaparecem completamente. Sem tratamento, é mais provável que a doença persista, que a pessoa tenha uma qualidade de vida reduzida e que apresente um risco aumentado de desenvolver uma depressão major. Mesmo quando o tratamento é bem sucedido, a manutenção do tratamento é frequentemente necessária para prevenir a recorrência dos sintomas.