Risco Cardiovascular

Quase metade dos portugueses sofre de Hipertensão

Atualizado: 
05/11/2019 - 10:26
A hipertensão arterial é considerada, atualmente, um dos mais importantes fatores de risco para doença cardiovascular. Primeiro, por apresentar alta prevalência. Segundo por ter forte relação de risco com eventos cardiovasculares fatais e não fatais, sendo esta relação contínua e independente de outros fatores de risco como a diabetes mellitus ou tabagismo.

A Hipertensão Arterial constitui um fator importante para aparecimento de múltiplas doenças do sistema cardio-circulatório, contribuindo globalmente para um impacto significativo na mortalidade global com relevância nas variáveis de saúde pública.

Trata-se de uma doença cuja presença aumenta a morbilidade e mortalidade global traduzida no aumento da morte súbita, acidente vascular cerebral, enfarte agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva, doença arterial periférica e insuficiência renal crónica. Estima-se que cerca de 40% da população portuguesa seja afectada por esta doença.

Como se deve medir?

A pressão arterial (PA) mede-se mediante um aparelho que se designa por “esfignomanómetro”, que deve estar obrigatoriamente homologado (pode conferir na internet pelo nome do aparelho). Para que a medição obtida seja correta, deve seguir uma serie de indicações:

Como a PA tem variações ao longo do dia e da noite, fazer a medição sempre à mesma hora.

  • Procurar uma zona calma, sem ruídos, com uma temperatura amena.
  • Não deve beber, comer, fumar nem fazer exercício físico nos 30 minutos anteriores.
  • Posição de sentado
  • Colocar a braçadeira 3 centímetros por cima da prega da flexura do cotovelo com a palma da mão virada para cima à altura do coração.
  • A medição no punho ou nos dedos, ainda que colocados junto ao coração, fornecem valores tensionais pouco credíveis.
  • Realizar várias medições separadas por 1 a 2 minutos e regista o resultado da média entre as várias medições.
  • Insuflar a braçadeira rapidamente 30mmHg acima do desaparecimento do pulso radial e proceder à sua desinsuflação à velocidade aproximada de 2mmHg/batimento. A PAS (máxima) será determinada pela auscultação do primeiro som e a PAD (mínima) pelo desaparecimento dos sons.
  • Deve‐se descartar a primeira medição, fazer duas medidas sequenciais nos dois membros e registar‐se a de maior valor. Na presença de arritmia, o número de medições deverá ser maior para calcular a média da PA.
  • Registar durante 1 a 2 semanas e mostrar ao seu médico

Automedição da pressão arterial (AMPA)

Quando é realizada por doentes ou familiares, não profissionais de saúde, fora do consultório, geralmente no domicílio, representando uma importante fonte de informação adicional. A principal vantagem da AMPA é a possibilidade de obter uma estimativa mais real dessa variável, tendo em vista que os valores são obtidos no ambiente onde os doentes passam a maior parte do dia.

Em determinadas situações o seu médico pode sugerir a realização de um exame designado por:

Monitorização ambulatória da pressão arterial (MAPA)

Este método diagnóstico complementar que permite o registo indireto e intermitente da PA durante 24h ou mais, durante os períodos de vigília e sono. Permite identificar alterações do ritmo circadiano, sobretudo durante o sono, que têm implicações prognósticas consideráveis.

Deve ser considerada em que situações:

  • suspeita de hipertensão do “bata branca” ou “falsa hipertensão”;
  • avaliação de eficácia terapêutica antihipertensiva;
  • quando a PA permanecer elevada, apesar da optimização do tratamento antihipertensivo
  • quando a PA aparentemente está controlada e houver indícios de lesão de órgãos-alvo;
  • avaliação de normotensos com lesão de órgãos–alvo;
  • avaliação de sintomas, principalmente hipotensão devido ao uso de  medicamentos

Quais são os sintomas desta doença

Existe um falso mito generalizado na população portuguesa que a PA elevada provoca determinados sintomas ou sinais clínicos. A grande maioria dos doentes não têm qualquer manifestação da doença e podem nalguns casos pontuais ter sintomas muito inespecificos e comuns a outras doenças (alterações da visão, dores de cabeça, cansaço, etc.)

Uns anos mais tarde surge toda a panóplia de sintomas e sinais resultantes das manifestações clinicas dos órgãos alvos lesados, como seja o caso do coração, rins e sistema nervoso central.

Como por norma a HTA não causa sintomas, o seu diagnóstico é difícil e passa obrigatoriamente pela necessidade da medição dos valores de PA e pela verificação de que os mesmos estão acima do limite normal.

Fatores que aumentam a probabilidade de HTA:

Idade

O envelhecimento populacional é um fenómeno Europeu e Portugal não foge á regra e vem ocorrendo de forma bastante acelerada. Com o evoluir da idade, aumenta a incidência de doenças crónicas, e, destas, a mais prevalente é a hipertensão arterial. Um sub-estudo derivado do Framingham Heart Study demonstrou que indivíduos normotensos com idade entre 55 e 65 anos tiveram 90% de risco de se tornarem hipertensos a longo prazo.

Há deste modo uma associação direta e linear entre envelhecimento populacional e prevalência de HTA.

Ingestão de sal

A ingestão de sal (sódio) contribui para o estabelecimento de valores quer sistólicos (máximo) quer diastólicos (mínimos) aumentados.

O consumo excessivo de sal pela população é um dos maiores riscos de saúde pública em Portugal. De acordo com os dados do último Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física IAN-AF (2015-2016), a população portuguesa apresenta um consumo médio de sal de 7,3 g (2848 mg/dia de sódio), superior ao valor recomendado pela Organização Mundial da Saúde (não superior a 5g de sal por pessoa, por dia). A ingestão de sódio acima do valor máximo recomendado verificou-se em 65,5% das mulheres e 85,9% dos homens. Portugal, apresenta já desde 2009, legislação que estabelece o limite máximo para o teor de sal no pão (1,4g de sal por 100g de pão).

Ingestão de álcool

O consumo crónico e de grande volume de bebidas alcoólicas aumenta a pressão arterial de forma consistente. Aconselha-se habitualmente moderar o consumo: no homem não ingerir mais de 2 bebidas por dia (por exemplo 3,0 dl de vinho) e na mulher não mais de 1 bebida por dia (por exemplo 1,5 dl de vinho). No entanto um estudo recente publicado no Lancet sugere limites inferiores de segurança, tendo em conta impacto ao nível do sistema cardiovascular, limitando ao máximo o consumo a 100 gramas por semana, o equivalente a 4 copos de vinho semanais.

Sedentarismo

A realização de um exercício físico provoca uma série de respostas fisiológicas nos sistemas corporais e em particular no sistema cardiovascular.

O exercício contribui tanto na prevenção de HTA em pacientes normotensos como no controlo da PA em indivíduos hipertensos. Contribuindo para a redução da pressão arterial em hipertensos, tanto por um componente agudo tardio como quer pelo efeito crónico da repetição periódica e frequente do exercício físico. Além dos benefícios na PA, o exercício físico aeróbio, afecta favoravelmente a ficha lipídica (diminui os triglicerídeos e o mau colesterol (LDL) e aumenta o bom colesterol (HDL).

Obesidade

Existem vários estudos mostrando a associação entre obesidade e a presença de hipertensão arterial, mas esta relação ainda não está completamente explicada. Estimativas indicam que 20 a 30% dos casos de hipertensão estejam diretamente associados ao excesso de peso e que 75% dos homens e 65% das mulheres apresentem hipertensão diretamente atribuível ao sobrepeso ou obesidade.

Tabagismo

O tabagismo é um dos principais fatores causais das doenças cardiovasculares, como a hipertensão, é um dos maiores causadores de mortes súbita. O tabagismo aumenta a pressão arterial e a frequência cardíaca 15 minutos após o ato de fumar apenas 1 cigarro.

É um dos fatores  de risco cardiovascular mais importantes, sendo a incidência de doença das artérias coronárias três vezes maior nos fumadores que no resto da população. A probabilidade é proporcional à quantidade de cigarros fumados por dia e o número de anos que se mantem o vício.

Além do impacto cardiovascular, está associado a múltiplas doenças respiratórias e a cerca de 30 tipos diferentes de doenças oncológicas.

Tratamento

1) Medidas gerais

  • Dieta equilibrada com redução de gorduras e sal e açúcar;
  • Redução de peso corporal e manutenção do peso ideal;
  • Redução do consumo de álcool;
  • Não fumar;
  • Maior consumo de frutas e vegetais;
  • Prática regular de exercícios físicos, pelo menos 30 minutos diários;
  • Mais atenção ao lazer para prevenir o stress.

2) Tratamento farmacológico:

Os principais benefícios da terapêutica anti-hipertensiva devem-se à redução da PA per si, e parecem ser independentes de cada classe de medicamentos.

A escolha do fármaco: deve ser influenciada pela etnia, idade e outras características de cada doente. A escolha também deve considerar condições médicas concomitantes como a presença de diabetes e doença das artérias coronárias, bem como a gravidez.

Todas as principais classes de agentes anti-hipertensivos – diuréticos, inibidores da ECA, bloqueadores dos canais de cálcio, antagonistas do receptor da angiotensina II, betabloqueantes – demonstraram alterar o prognóstico desta doença através do controle tensional, embora na maioria dos estudos, utilizaram-se associação fixa de 2 ou mais antihipertensores (mais de um principio activo no mesmo comprimido).

Deve ser dada atenção aos efeitos adversos, pois é a principal causa de não adesão ao tratamento numa doença crónica e com necessidade na maior parte das vezes de administração ad eternum.

Os medicamentos de ação prolongada (24h) devem ser preferidos, sempre que possível, pois facilitam a adesão terapêutica por parte do doente, devido a comodidade de administração de apenas 1 vez ao dia.

Autor: 
Dr. Pedro Bico - Cardiologista Clínica Europa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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