Células estaminais mesenquimais promissoras no tratamento de Lupus Eritematoso Sistémico
O Lupus é uma doença crónica e autoimune que pode afetar qualquer parte do corpo, incluindo a pele, as articulações e outros órgãos, como os rins.
Em pessoas com esta doença há uma disfuncionalidade do sistema imunitário, responsável por combater vírus, bactérias e outros agentes infeciosos. Normalmente, o nosso sistema imunitário produz proteínas (anticorpos) que protegem o organismo dos “invasores”. A expressão autoimune significa que o sistema imunitário não consegue distinguir os “agentes invasores” dos nossos tecidos saudáveis e, por isso, cria anticorpos que atacam e destroem esses mesmos tecidos, causando inflamação, dor e danificando diversas partes do organismo.
Estima-se que 5 milhões de pessoas em todo o mundo tenham Lupus, estando algumas em fase aguda, correndo, por isso, risco de vida e outras com manifestações mais ténues da doença. Contudo, independentemente do estado de evolução, todos os casos devem ser acompanhados por um médico, pois um acompanhamento adequado poderá permitir uma vida plena aos doentes.
Neste momento, existe apenas um medicamento disponível no mercado especificamente desenvolvido para tratar pessoas com Lupus, que, embora tenha levado mais de 50 anos a ser desenvolvido, não funciona em todos os tipos da doença.
Alguns tratamentos incluem a administração de medicamentos imunossupressores, que muitas vezes são também utilizados em quimioterapia.
A terapia com células estaminais surge, assim, como uma promessa de tratamento, principalmente em doentes que não respondem eficazmente aos tratamentos atuais.
A investigação que tem sido feita nos últimos anos ao nível das células estaminais mesenquimais pode representar uma esperança para todos aqueles que padecem de doenças que atualmente não têm cura, tais como Lupus, Parkinson, leucemia, ataques cardíacos, esclerose múltipla, diabetes juvenil, osteoartrite e 80 outras doenças.
A medula óssea e o tecido do cordão umbilical são especialmente ricos em células estaminais mesenquimais, que graças às suas capacidades anti-inflamatórias as tornam muito atrativas para terapias em doenças autoimunes. Ao contrário de outras células estaminais, estas células não são “detetáveis” pelo sistema imunitário e, por isso, os dadores e recetores não têm de ser compatíveis para que o tratamento tenha sucesso, reduzindo-se, assim, o risco de rejeição.
O Lupus Eritematoso Sistémico (LES) é uma variante da doença, com sintomatologia muito diversa devido ao facto de afetar múltiplos órgãos, levando a taxas de mortalidade muito elevadas. A terapia de base nesta patologia passa pelo uso de corticosteroides, ciclofosfamida e outros fármacos, que, em 80% das vezes, levam à remissão completa da doença.
Em alguns doentes, pode existir danificação de alguns tecidos, havendo também impacto a nível físico e psicológico que, em alguns casos, pode causar a morte. Para além disso, os tratamentos com imunossupressores, levam muitas vezes a infecções oportunistas e complicações secundárias.
Assim, é necessária uma nova abordagem para o tratamento da LES. Nas últimas décadas, tem-se optado, nos casos mais severos do LES, pelo transplante com recurso a células estaminais hematopoiéticas alogénicas. Contudo, este procedimento encerra alguns inconvenientes, nomeadamente complicações associadas à doença do enxerto contra o hospedeiro. Ultimamente, têm sido levados a cabo ensaios clínicos para o uso de células estaminais mesenquimais obtidas a partir da medula óssea e do tecido do cordão umbilical. Recorrer às células estaminais mesenquimais, nomeadamente as que são obtidas a partir do cordão umbilical, tem-se revelado bastante promissor no tratamento desta doença.
No passado mês de março, uma revista da especialidade publicou um estudo em que 81 pacientes foram submetidos a um tratamento para LES durante 5 anos, tendo-se recorrido, em alguns dos casos, ao uso de células estaminais mesenquimais obtidas a partir de medula óssea e, noutros casos, ao uso do tecido do cordão umbilical.
A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que o transplante de células estaminais mesenquimais alogénicas (dador diferente do recetor) é seguro e resulta numa remissão da doença a longo prazo em doentes com LES, dando maior consistência à eficácia do uso das células estaminais nesta doença.
Fontes:
- Mesenchymal stem cells transplantation for systemic lupus erythematosus
Jun LIANG and Lingyun SUN
Department of Immunology and Rheumatology, the Affiliated Drum Tower Hospital of Nanjing Unive - 2011
- Mesenchymal Stem Cells in the Treatment of Systemic Lupus Erythematosus
Dr. Neil Riordan
University Medical School, Nanjing, Jiangsu, China - International Journal of Rheumatic Diseases 2015; 18: 164–171
- A Long-Term Follow-Up Study of Allogeneic Mesenchymal Stem/Stromal Cell Transplantation in Patients with Drug-Resistant Systemic Lupus Erythematosus
Dandan Wang, Huayong Zhang, Jun Liang, Hong Wang, Bingzhu Hua, Xuebing Feng, Gary S. Gilkeson, Dominique Farge, Songtao Shi, and Lingyun Sun - Stem Cell Reports j Vol. 10 j 933–941 March 13, 2018