Opinião

Características da dor são importantes para diagnóstico de Espondilite Anquilosante

Atualizado: 
08/05/2018 - 09:47
Dificuldades no diagnóstico podem condicionar a progressão da Espondilite Anquilosante, uma doença reumática crónica que tem vindo a atingir cada vez mais mulheres. Dor que não passa com o repouso e rigidez matinal são os principais sintomas.

A Espondilite Anquilosante (EA) é uma doença reumática crónica de características inflamatórias que se inicia habitualmente até aos 35 anos. O início depois dos 45 é muito raro.

A percentagem de mulheres diagnosticadas tem vindo a aumentar nos últimos 40 anos.

Habitualmente descrita como muito mais frequente nos homens (3 a 5 para 1 mulher),

mais recentemente a razão entre sexos aproxima-se do 1 para 1 se considerarmos todas as formas de apresentação.

A dificuldade do diagnóstico nas manifestações que atingem a coluna são nas mulheres por vezes mais difíceis de fazer, enquanto que a progressão das lesões no homem se fazem mais rapidamente e com maior intensidade.

Outro aspeto crítico no tratamento destes doentes é que o tempo que medeia entre os primeiros sintomas e a data do diagnóstico é de vários anos.

Para isto concorrem vários fatores: serem jovens, menor preocupação com as questões de saúde, sintomas muito diversos, com desaparecimento espontâneo das queixas ou mesmo remissão temporária muito variável, queixas estas que são em localizações de quadros mais benignos de dor, interpretados como “uma dor nas costas” , “um torcicolo” ou “uma entorse”.

Outros sintomas no início podem ser de tendinites com dor na inserção dos tendões de Aquiles (foto 1) polegares ou nos ombros. Nos dedos das mãos ou dos pés a inflamação dos tendões dá um inchaço com “aspeto de dedo em salsicha” muito característico. (foto 2)


Foto 1 


Foto 2

Sintomas de artrite podem ocorrer em qualquer articulação, mas são mais frequentes nos tornozelos, cotovelos, ombros e mãos. Apresentam-se com dor, inchaço articular e calor nas articulações afetadas. (foto 3) As limitações podem ser logo muito importantes o que leva o doente a uma consulta.

Foto 3 

As características da dor nesta doença são importantes para ajudar ao diagnóstico e devem alertar os doentes e seus familiares.

Tratam-se de dores que classificamos como inflamatórias, isto é são dores que NÃO aliviam com o repouso, que acordam o doente durante a noite, tipicamente de madrugada fazendo o doente sair da cama, com algum alívio mas que se repetem ciclicamente.

Alguns doentes referem algum alívio com os movimentos ou com o duche matinal, mas o ciclo da dor mantém-se. Queixam-se ainda de rigidez matinal (“ferrugem”) que dura habitualmente mais de 30 minutos.

A localização na coluna pode ser em qualquer segmento (cervical, dorsal ou lombar) localizado ou por extensão, mas também e muito frequentemente na bacia (nádegas) afetando apenas um lado por vezes com irradiação para a coxa com trajeto que pode simular a dor ciática, mas diferenciando-se dela por ser truncada à coxa, não irradiar para o pé e muitas vezes alternar com a nádega oposta, num quadro que chamamos de pseudo ciática basculante.

Na cervical comporta-se como um torcicolo limitando todos os movimentos da cabeça, na dorsal pode irradiar para as costelas ou “atravessar” o tórax. Como já dissemos não alivia com o repouso.

Mais raramente, manifestações de “olho vermelho”, unilateral, de início súbito com visão turva ou intolerância à luz que pode desaparecer espontaneamente mas com tendência a repetir-se e que levam o doente à consulta de oftalmologia e ao diagnóstico de inflamação ocular “uveíte” que remete o doente para avaliação pelo reumatologia para excluir doença reumática associada, habitualmente Espondilite.

Outras manifestações fora das articulações e que podem estar associadas são a Psoríase, a Doença Inflamatória do Intestino (DII), habitualmente doença de Crohn ou Colite Ulcerosa, ou a ocorrência muito frequente de aftas.

O que nos faz suspeitar do diagnóstico são os SINTOMAS e não análises, radiografias ou exames mais sofisticados e é aqui que o papel do REUMATOLOGISTA se destaca para um diagnóstico precoce.

A presença no meu consultório de um adulto jovem com menos de 40 anos, que se queixa de uma dor lombar de início insidioso, com rigidez matinal superior a 30 min, que melhora com o exercício mas não com o repouso, que o acorda de madrugada e com recaídas após melhoria com anti inflamatórios é muito suspeita e merece uma observação e exame médico cuidados.

Se neste contexto o doente refere episódios de artrite, tendinites ou “dedo em salsicha” então devemos colocar a hipótese de Espondilite.

História familiar, manifestações extra articulares como descritas acima e a presença radiológica de inflamação nas sacroilíacas confirma o diagnóstico.

A presença de inflamação nas análises ou de marcadores genéticos como o HLA B27, NÃO são critérios de diagnóstico.

Esta é uma doença em que o atraso no diagnóstico vai custar incapacidade, sofrimento e sequelas definitivas pela fusão (anquilose) articular que provoca. A coluna vai ficando rígida e em flexão extrema. (foto 4)


Foto 4

Os novos medicamentos vieram transformar o futuro e o prognóstico desta(s) doenças e dar nova esperança aos nossos doentes.

A ANEA associação nacional de espondilose anquilosante dá apoio médico social aos doentes com EA.

Autor: 
Dr. António Vilar - Reumatologista Coordenador da Unidade de Reumatologia do Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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