Socorro, sofro de insónia crónica!
Alice Alves já conta com uma longa e penosa “relação” com a insónia, praticamente desde os seus 19 anos. “Comecei a ter algumas dificuldades em adormecer em determinados momentos da minha vida, e que coincidiam com os períodos de maior stress associados à minha vida académica”, recorda admitindo que, no entanto, durante muito tempo, não lhe atribuiu qualquer importância. “Sempre pensei que fosse normal. Sentia-me ansiosa e isso refletia-se à noite...”, justifica.
Cansaço, irritação, perda de concentração e ansiedade passaram a fazer parte do dia-a-dia desta jovem professora. “Acho que, a dada altura, me habituei a esta instabilidade, ao ponto de já conseguir prever as noites que passaria acordada”, revela.
Não dormir tornou-se um hábito para Alice que passou a planear, ao longo do dia, tudo o que faria quando não conseguisse adormecer. “Pensava no que faria, por exemplo, se acordasse às 3 da manhã e não voltasse a conseguir pregar olho. Umas vezes lia, outras deixava tarefas que não tinha conseguido fazer para essa altura, como passar a ferro ou arrumar a casa”, conta revelando, no entanto, que a longo prazo a situação que estaria a tentar descomplicar lhe viria a trazer graves consequências quer a nível pessoal que a nível profissional.
“Eu acho que não tive noção do que me estava a acontecer até dar conta de que eu já não saía com os meus amigos, já não tinha vontade de falar com eles sequer e quando comecei a ter dificuldades em concentrar-me no trabalho. O cansaço era tal, que, a dado momento, eu só queria estar sozinha, não queria ouvir ninguém...”, recorda. Haviam-se passado vários meses e as insónias eram cada vez mais frequentes.
“Desconhecia que era possível sofrer de insónia crónica. Não se fala muito de perturbações do sono, pois não? Eu acho que seria muito importante as pessoas perceberem que não dormir pode prejudicar a nossa saúde fisíca e mental”, desabafa Alice.
A jovem professora, hoje com 27 anos, convive há três com a insónia crónica. “Há dias em que acho que vou enlouquecer”, afirma.
“Quando procurei o médico, ele rapidamente desvalorizou os sintomas e prescreveu-me uns comprimidos para dormir que funcionaram numa fase inicial. Com o tempo comecei a notar que estava a entrar numa espiral de dependência do farmáco...”, revela.
A facilidade com que são prescritas benzodiazepinas em casos como o de Alice deixa alarmados alguns especialistas. Sabe-se que, apesar dos alegados benefícios, estas apresentam vários riscos. Atuando sobre o Sistema Nervoso Central, com uma ação ansiolítica e hipnótica, estão associadas ao risco de depressão e a alterações no comportamento (agressividade, alucinação) quando utilizadas durante um largo período de tempo.
“Agora sei o quão importante é sermos bem acompanhados durante o tratamento desta doença. E que mais tão ou mais importante que a medicação é o tratamento não farmacológico, como a terapia”, refere. “Muitas vezes, a insónia surge porque algo dentro de nós não está bem, precisa ser resolvido. E a medicação por si só, não resolve o problema. Casos há em que o agrava”, acrescenta Alice.
A insónia é a perturbação do sono mais frequente e mais prevalente nas mulheres. Além de aumentar a incidência de várias doenças graves, a privação de sono potencia ainda a probabilidade de ocorrerem acidentes.