Dor abdominal

Apendicite: sintomas e tratamento

Atualizado: 
07/08/2019 - 10:52
Apendicite é o nome dado à inflamação do apêndice, quadro que se apresenta habitualmente como uma intensa dor abdominal. Habitualmente, é uma emergência médica que necessita de tratamento cirúrgico.
Cicatriz derivada da remoção do apêndice

A apendicite é uma inflamação do apêndice que, se não for tratada a tempo, pode originar complicações graves e até ser mortal para o doente. O apêndice é um segmento pequeno e com forma de dedo que sobressai do intestino grosso, perto do ponto onde este se une ao intestino delgado (cego). Embora não se saiba concretamente qual é a utilidade e função deste órgão (que não é essencial para o organismo), parece contribuir para as defesas imunitárias a nível intestinal, dada a sua riqueza em folículos linfóides.

A apendicite ocorre geralmente quando o apêndice é bloqueado por fezes ou por um corpo estranho, o que faz com que as suas paredes inflamem e os seus tecidos sejam invadidos pelas bactérias intestinais. Afecta cerca de 8 por cento da população e surge, geralmente, na segunda ou terceira década de vida com o mesmo risco para homens ou mulheres.

Exceptuando as hérnias estranguladas, a apendicite é a causa mais frequente de dor abdominal intensa e súbita e de cirurgia abdominal em muitos países. Caso a intervenção cirúrgica seja efectuada a tempo e não haja complicações, as probabilidades de morte são muito reduzidas e o tempo de internamento é curto.

Causas

As causas da apendicite não estão totalmente esclarecidas. Na maioria dos casos, deve-se a uma obstrução (que pode ser causada por diferentes razões) dentro do apêndice e, em consequência disso, desencadear um processo inflamatório.

Qualquer que seja o motivo casual, que na maioria dos casos não se chega a identificar, as bactérias desenvolvem-se no interior do apêndice e infectam as suas paredes, provocando a consequente inflamação e congestão das mesmas. Caso não se faça nada para o remediar, as paredes do apêndice irão sofrer um rápido processo de deterioração (necrose) que culmina com a sua separação.

Por outro lado, se a inflamação não for tratada a tempo e continuar sem tratamento, o apêndice pode perfurar-se e espalhar o conteúdo intestinal carregado de bactérias pelo abdómen, causando peritonite, que pode conduzir a uma infecção com risco de morte.

A perfuração também pode provocar a formação dum abcesso e na mulher, podem infectar-se os ovários e as trompas de Falópio e causar infertilidade. Um apêndice perfurado também pode fazer com que as bactérias infectem a corrente sanguínea (estado potencialmente mortal, conhecido como septicemia).

Diagnóstico

Uma análise ao sangue mostra um aumento moderado na contagem de glóbulos brancos, em resposta à infecção. Normalmente, nas fases iniciais da apendicite aguda, os testes (como a radiologia, a ecografia e a tomografia axial computadorizada (TAC) não são úteis.

O diagnóstico baseia-se nos dados do exame físico. Para evitar a perfuração do apêndice, a formação de abcessos ou a inflamação do revestimento da cavidade abdominal (peritonite), o médico faz uma intervenção cirúrgica de urgência.

Em cerca de 15 por cento das intervenções feitas com o diagnóstico de apendicite, verifica-se que afinal se tratava dum apêndice normal. No entanto, se a cirurgia for protelada até se ter a certeza da causa da dor, a consequência pode ser mortal: um apêndice infectado pode perfurar-se em menos de 24 horas após o início dos sintomas. Inclusivamente, mesmo que o apêndice não seja a causa do processo, normalmente o cirurgião extrai-o.

Sintomas

A apendicite costuma apresentar-se subitamente, sem manifestações prévias, apesar de, em alguns casos, existir como antecedente a existência de certas dificuldades digestivas durante os dois ou três dias anteriores.

Numa primeira fase, o sintoma principal e geralmente o único, é uma dor abdominal. No início, a dor é mais ou menos intermitente e localiza-se na região superior do abdómen ou em redor do umbigo, apesar de se poder alastrar, em certos casos, de maneira difusa por toda a parede abdominal.

Ao fim de cinco ou seis horas, a dor torna-se mais intensa e constante, localizando-se com maior precisão na zona do apêndice, ou seja, na região inferior direita do abdómen. Esta dor acentua-se com os movimentos, às vezes de forma tão intensa que obriga o paciente a manter-se praticamente imóvel.

Momentaneamente, o doente costuma apresentar um quadro febril, com um aumento moderado da temperatura corporal, já que não costuma superar os 38,5°C, por vezes acompanhado de calafrios. Também costuma provocar náuseas e vómitos, embora não aconteça em todos os casos, bem como obstipação, com a ausência de evacuações e de gases.

Sem tratamento, esta sintomatologia mantém-se durante 24 ou 48 horas, podendo então acontecer duas coisas: o problema sara espontaneamente ou surgem complicações.

O principal perigo é que as paredes do apêndice fiquem tão deterioradas que acabem por se separar, provocando uma perfuração. Quando for o caso, é possível que a dor ceda temporariamente, o que não é nada tranquilizador, pois significa que o seu conteúdo, rico em bactérias, terá atravessado a cavidade abdominal, originando uma peritonite, ou seja, uma grave alteração caracterizada pelo aumento da temperatura e por um incremento da dor, acompanhada por uma contractura da musculatura abdominal.

A dor, sobretudo em lactentes e crianças, pode ser generalizada, em vez de localizada no quadrante inferior direito do abdómen. Em adultos e em mulheres grávidas, a dor é normalmente menos intensa e a área menos sensível.

Tratamento

O tratamento da apendicite passa quase sempre pela cirurgia - corresponde à extracção do apêndice, numa operação denominada apendicectomia. Trata-se de uma intervenção relativamente simples e que só raramente provoca quaisquer tipos de complicações. Por isso, é praticada sem que haja a certeza sobre o diagnóstico, pois mesmo que não se confirme a apendicite, o apêndice é retirado, apesar de aparentar um estado normal, para prevenir futuras inflamações.

Actualmente, a técnica mais indicada é a cirurgia laparoscópica, realizada através de três pequenas incisões, que permite uma recuperação mais rápida, bem como a inspecção de toda a cavidade abdominal, de forma a excluir outras causas de dor abdominal.

No caso de uma perfuração do apêndice, o prognóstico é mais grave. Há 50 anos, esta lesão era frequentemente mortal, no entanto, com a utilização dos antibióticos a percentagem de mortalidade reduziu-se drasticamente.

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Fonte: 
Manual Merck
Sapo Saúde
Nota: 
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