Doenças reumáticas representam gasto de 600 milhões de euros por ano em reformas antecipadas

“As doenças reumáticas são doenças para a vida. Temos as ferramentas, temos os médicos, temos as análises e os marcadores que permitem o diagnóstico precoce, temos os registos, temos o tratamento, mas os doentes reumáticos continuam a não ser tratados devidamente.” Estes são factos anunciados pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia que foram revelados na conferência promovida pela APIFARMA “Artrite Reumatóide: Contributos para um Diagnóstico Precoce.”
O diagnóstico precoce da Artrite Reumatóide, bem como de todas das Doenças Reumáticas, é fundamental e encerra um problema: O acesso à especialidade (reumatologia). É urgente que as Doenças Reumáticas se tornem uma prioridade nacional, o que não acontece por não terem o mediatismo de outras doenças com taxas de mortalidade elevadas, o que se reflete na falta de tratamento adequado e pior qualidade de vida para os doentes, que são os que mais dor têm.
Em Portugal, entre 2002 e 2015, continua-se à espera que abram 13 novas unidades de reumatologia, e os doentes continuam a não ser tratados corretamente, pela especialidade que tem que tratar estes doentes, a reumatologia, apesar de existirem reumatologistas suficientes no nosso país! O doente demora cerca de 2 anos a ter um diagnóstico, quando o recomendável é que o diagnóstico seja feito até um máximo de 6 meses, altura em que ainda é possível prevenir o dano estrutural e as sequelas articulares. Após os dois anos, é muito provável que o doente tenha já erosões ósseas e que o tratamento da doença fique comprometido.
A par destes dados, há uma enorme preocupação com a formação dos Médicos de Medicina Geral e Familiar, os que recebem o doente na primeira linha. Porém, perante um correto diagnóstico e referenciação para a reumatologia, o tempo de espera para o doente ser recebido pelo especialista é superior a 3 meses.
É evidente a urgência de investimento no diagnóstico das doenças reumáticas! Para além do impacto positivo na vida do doente, o diagnóstico precoce permite diminuir significativamente os custos que a doença acarreta para o Estado pois, quanto mais avançada estiver a doença, mais cuidados e medicação são necessários. Num cenário idêntico ao que hoje se verifica, a poupança poderia mesmo chegar aos 1800 euros por doente diagnosticado precocemente, o que somaria 51 milhões de euros no final do ano.
Segundo o Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Dr. Canas da Silva, a visibilidade destas doenças passa pela definição de uma estratégia que permita a literacia da população, uma referenciação precoce para a especialidade, a instituição de terapêuticas modificadoras e um seguimento feito por uma equipa multidisciplinar. Só assim se consegue a visibilidade suficiente para que os reumatologistas sejam distribuídos pelas regiões nacionais onde realmente carecem, bem como a melhoria das infraestruturas já existentes.
No caso da Artrite Reumatóide, é fundamental a sensibilização da população, da sociedade e dos centros decisores para as consequências da Artrite Reumatoide. Além da dor e incapacidade reconhecida, a AR associa-se a outras comorbilidades como Doença cardiovascular, osteoporose ou depressão condicionado elevados custos diretos e indiretos da doença para o doente, mas também para a sociedade. De acordo com a Reumatologista Dra. Cátia Duarte, o não reconhecimento pela sociedade do impacto da AR pode colocar em causa a implementação de estratégias para o seu diagnóstico e tratamento precoce.
A Sociedade Portuguesa de Reumatologia apela, assim, à criação de meios que permitam o diagnóstico precoce e o apoio devido a todos os que sofrem de artrite reumatóide ou de qualquer outra doença reumática. Nas palavras do Presidente, Dr. Canas da Silva, “a doença reumática não é uma doença de idosos, é uma doença de todos e para a vida!”.