Complicações e riscos

Uma em cada 10 mulheres tem diabetes

Atualizado: 
02/06/2020 - 14:58
Estima-se que, em todo o mundo, a diabetes afete cerca de 199 milhões de mulheres. Em Portugal, uma em cada 10 convive com a doença, embora cerca de metade não esteja diagnosticada. A Organização Mundial alerta para o aumento de casos nos próximos anos, esperando-se que, em pouco mais de cinco anos, este número quase duplique.

O principal fator de risco para a diabetes é a hereditariedade. Hipertensão arterial, sedentarismo, obesidade e tabagismo são outros fatores determinantes para o desenvolvimento de uma doença cuja prevelência terá tendência a aumentar durante as próximas décadas. Uma previsão que preocupa os especialistas.

“A diabetes mellitus é uma doença crónica, de prevalência crescente. Uma desordem metabólica de etiologia múltipla, caracterizada por uma hiperglicemia crónica com distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas, resultantes de deficiências na secreção ou ação da isulina, ou ambas”, começa por explicar Sónia Gonçalves, especialista em Medicina Interna.

A diabetes mellitus tipo 1 surge, sobretudo, durante a infância ou adolescência e resulta da “destruição das células produtoras de insulina do pâncreas, geralmente a uma reação autoimune”. No entanto, ela pode atingir pessoas de qualquer idade.

Associada à obesidade e a estilos de vida poucos saudáveis, a diabete mellitus tipo 2 (DM2) é diagnosticada, habitualmente, após os 40 anos de idade. “Ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando o organismo não consegue utilizar eficazmente a insulina produzida”, revela a especialista.

O diagnóstico nem sempre ocorre numa fase inicial da doença (no designado estadio de pré diabetes), uma vez que nem sempre o doente apresenta sintomas. “Os sintomas relacionados com o excesso de açúcar no sangue aparecem de forma gradual e quase sempre lentamente, sobretudo na DM2. Por isso, o início da diabetes tipo 2 é muitas vezes difícil de precisar. Os sintomas mais frequentes são a fadiga, poliúria e sede excessiva”, explica Sónia Gonçalves.

A importância do diagnóstico numa fase inicial da doença reflete-se no sucesso do seu tratamento, uma vez que permite não só o início precoce da terapêutica adequada, como prevenir ou diminuir o risco de complicações da doença. “Importa referir que é nesta fase inicial que as mudanças no estilo de vida podem ter um impacto significativo na saúde da pessoa. Numa primeira fase, o ótimo controlo da diabetes previne o aparecimento de complicações”, acrescenta.

A diabetes é a principal causa de cegueira, insuficência renal e amputação dos membros inferiores, sendo ainda uma principais causas de morte ao contribuir para o aumento do risco de doença coronária e de acidente vascular cerebral.

“As complicações inerentes à doença vão além do sofrimento e sentimentos devastadores que causam nas pessoas com diabetes e seus familiares. Têm um forte impacto económico, podendo este ser reduzido mediante uma gestão adequada, por parte da equipa de profissionais de saúde, com prestação de cuidados individualizados à pessoa com diabetes e familiares”, revela a especialista em Medicina Interna.

O tratamento deve ser considerado através de uma abordagem multidisciplinar. “Tratar a adequadamente a pessoa com diabetes não se resume apenas ao controlo glicémico, passa pelo controlo das comorbilidades associadas, onde o papel da educação terapêutica é fundamental”, reforça Sónia Gonçalves.

“As pessoas com DM1 necessitam de injeções de insulina diariamente. Ao contrário da DM1, as pessoas com DM2 não são dependentes de insulina exógena, porém podem vir a necessitar de insulina para o controlo da hiperglicemia se não o conseguirem através da dieta associada a antidiabéticos orais”, esclarece quanto ao tratamento que, de acordo com esta especialista, deve ser individualizado e incluir programas educativos no qual o doente deve participar ativamente, assumindo o compromisso de autogestão da doença.

“Cabe ao doente assumir comportamentos para a saúde implementando o seu “estilo de vida”, tentar ser autónomo, gerir esclarecidamente a sua diabetes e evitar desperdícios (de maior importância nos tempos que correr)”, refere acrescentando que, hoje em dia, o doente tem à sua disposição uma ampla variedade de classes farmacológicas, muitas com efeitos cardiovasculares benéficos.


"A Diabetes Mellitus constitui um problema de saúde pública crescente. É urgente e prioritário investir na prevenção", afirma Sónia Gonçalves, assistente hospitalar de Medicina Interna

Mulheres com riscos acrescidos

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 199 milhões de mulheres vivem, em todo o mundo, com diabetes. Um número que chegará aos 313 milhões até 2020.

“No que respeita ao nosso país, em 2015 a prevalência estimada da diabetes na população portuguesa, com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos, foi de 13,3%, existindo uma diferença estatisticamente significativa da mesma entre géneros”, revela Sónia Gonçalves especialista na Consulta de Diabetes e Obesidade no Hospital CUF Santarém.

Estima-se ainda que 10,9% das mulheres têm diabetes e que, destas, quase metade não estão diagnosticadas.

Não obstante as complicações da doença que afetam ambos os sexos, sabe-se, no entanto,  que o sexo feminino apresenta riscos acrescidos.

“Sabe-se que a mulher com DM2 tem um risco 10 vezes superior de desenvolver doença coronária. No que concerne à DM tipo 1, as mulheres têm maior risco de sofrer abortos durante a gravidez e de desenvolverem malformações congénitas”, revela Sónia Gonçalves.

Por outro lado, os dados indicam que mais de 15% das grávidas portuguesas desenvolvem diabetes gestacional. “E embora seja um problema que normalmente termina com o nascimento do bebé, aumenta o risco da mãe vir a ser diabética no futuro”. Este risco é maior se houver história familiar de diabetes ou fatores de risco cardiovasculares associados, nomeadamente obesidade.

“A diabetes gestacional é a condição caracterizada por qualquer grau de anomalia/intolerância no metabolismo da glicose documentada, pela primeira vez, durante a gravidez”, explica.

“A gravidez caracteriza-se por uma hiperplasia das células beta do pâncreas, levando a níveis de insulina mais elevados em jejum e no período pós-prandial. Porém, a secreção aumentada de hormonas da placenta leva a uma maior resistência à insulina, especialmente durante o terceiro trimestes da gravidez. A diabetes gestacional surge quando a função das células beta é insuficiente para ultrapassar esta insulinorresistência”, esclarece a médica.

Estima-se que mulheres com idade superior a 25 anos, com história familiar de diabetes, excesso de peso e bebés de gestações anteriores com peso superior a 4 quilos, apresentam risco aumentado de desenvolvimento de diabetes gestacional. Pelo que, o controlo da glicemia durante a gestação se revela de extrema importância.
“O aumento do nível de glicose materna pode resultar em complicações para o recém-nascido, nomeadamente, macrossomia (tamanho excessivo do bebé), traumatismo de parto, hiperglicemia e icterícia”, adianta.

Sabe-se ainda que a diabetes gestacional está associada a um risco aumentado de perturbações do metabolismo da glicose e obesidade durante a infância e vida adulta dos descendentes.

Deste modo, Sónia Gonçalves alerta para importância da adoção de estilos de vida saudáveis, bem como para a sensibilização da comunidade em geral para a problemática da diabetes.

“A Diabetes Mellitus constitui um problema de Saúde Pública crescente, resultado em parte da elevada prevalência de complicações. Assim, é urgente e prioritário investir em prevenção”, afirma que é necessário sensibilizar as entidades oficiais, os profissionais de saúde, a comunicação social e a comunidade para esta matéria.

Segundo a especialista, "as mulheres são agentes chave para a adoção de estilos de vida saudável e para melhorar a saúde e bem-estar de gerações futuras”, acrescenta reforçando a importância de as dotar de conhecimento adequado sobre a doença “de forma a preveni-la no seio familiar e entre pares, promovendo desta forma a sua própria saúde”. É que, “educar modifica a história”, garante. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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