A cada 2 segundos uma pessoa sofre um AVC
O termo acidente vascular cerebral (AVC) engloba diferentes fenómenos que em última instância afetam a circulação cerebral, seja por obstrução do fluxo sanguíneo (AVC isquémico) ou por ruptura de uma artéria intracraniana (AVC hemorrágico), provocando alterações transitórias ou definitivas do funcionamento cerebral.
Cerca de 85% dos casos são AVC isquémicos, podendo a obstrução ser secundária a um processo de ateromatose local (processo inflamatório que promove a deposição de colesterol nas paredes arteriais), ou por trombo que migra do coração secundariamente a arritmia ou outra alteração cardíaca. Menos frequentemente, os acidentes vasculares cerebrais resultam de uma hemorragia, sendo na sua maioria provocadas por rutura de aneurisma ou pela rutura de pequenas artérias perfurantes por hipertensão arterial.
O AVC continua a ser a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. Segundo um relatório da DGS só o AVC isquémico representou cerca de 20 mil episódios e 250 mil dias de internamento. Este mesmo relatório reportou 11 571 mortes por AVC em Portugal continental no ano de 2013, o que fazendo uma analogia, equivale à queda de 52 aviões. O AVC é tão frequente que há estimativas de que por cada hora que passa 3 portugueses sofrem um AVC, e por cada 2 segundos 1 pessoa no mundo sofre um AVC. Este fenómeno apesar de ser mais frequente com o avançar da idade, pode afetar homens e mulheres de qualquer faixa etária.
Existem fatores de risco modificáveis, nomeadamente, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, obesidade e alterações do perfil lipídico (como aumento do colesterol LDL e redução do HDL). A tensão arterial elevada é muitas vezes desvalorizada pela população por ser “silenciosa”, mas atualmente sabe-se que cerca de metade dos acidentes vasculares cerebrais poderiam ser evitados simplesmente com o controlo da tensão arterial. Os fumadores apresentam mais do dobro do risco vir a ter um AVC, mas ao deixar de fumar o risco volta ao valor normal após 10 anos. Está demonstrado que a obesidade é um fator de risco estabelecido para AVC isquémico e estudos epidemiológicos reportam que a partir do IMC de 20Kg/m2, por cada aumento de 1 unidade no IMC o risco de ter um AVC aumenta em 5%. Por outro lado, sabe-se que a prática de exercício físico está associada a uma redução do risco de AVC em 25-30%, e que a dieta mediterrânea (ingestão alta de frutos e vegetais, frutos secos, leguminosas e azeite; ingestão moderada de peixe; baixa ingestão de carne vermelha e doces) diminui o risco de enfarte do miocárdio, AVC ou morte de causa cardiovascular.
Relativamente aos sintomas, podem ser variados e é fundamental que a sua identificação seja rápida para acionar os meios de urgência, pois no caso do AVC isquémico existem actualmente tratamentos quepoderão ser aplicados na fase aguda, estando assim a sua aplicação dependente do tempo de evolução dos sintomas. Existe uma regra amplamente difundida nos programas de alerta às populações chamada a “regra dos 3 F´s: FACE, FORÇA, FALA”, a qual facilita a identificação de alguns sinais cuja presença poderá corresponder a um AVC em curso. A forma de identificar a presença destes sinais é a seguinte:
FACE: Peça à pessoa para sorrir e verifique se algum lado está diferente.
FORÇA: Peça à pessoa para levantar os braços e verifique se um deles descai.
FALA: Peça à pessoa para repetir uma frase simples. Verifique se as palavras soam “enroladas” e se a pessoa compreende o seu pedido.
Importa reforçar a importância do tempo no tratamento agudo do AVC (daí a máxima “Tempo é cérebro”) e como tal, quanto mais cedo forem acionados os meios, maior é a probabilidade da aplicação atempada das terapêuticas existentes e, consequentemente, potenciar uma maior recuperação e limitar os défices incapacitantes. Sempre que sejam identificadas pessoais com algum destes sintomas, é imperativo ligar para o 112.
Bibiografia:
Das RR, Seshadri S, Beiser AS, Kelly-Hayes M, Au R, Himali JJ, Kase CS, Benjamin EJ, Polak JF, O'Donnell CJ, Yoshita M, D'Agostino RB, DeCarli C, Wolf PA. Prevalance and correlates of silent cerebral infarcts in the Framingham Offspring Study. Stroke. 2008;39: In press. Epub ahead of print June 26, 2008. DOI: 10.1161/STROKEAHA.108.516575.
Vermeer SE, Longstreth WT Jr, Koudstaal PJ. Silent brain infarcts: a systematic review. Lancet Neurol. 2007; 6: 611–619.[CrossRef][Medline] [Order article via Infotrieve]