Técnicas de deteção precoce do cancro da mama
Na Europa, a maioria dos programas de rastreio de base populacional são dirigidos aos grupos etários dos 50 aos 70 anos, nos quais a incidência é mais alta, consistindo na realização de mamografia de 2 em 2 anos e demonstraram benefício na redução da mortalidade pela doença. Estes programas de rastreio de base populacional, como o que a Liga Portuguesa Contra o Cancro leva a cabo em Portugal, obedecem a um rigoroso programa de controlo de qualidade e um dos aspetos mais importantes é que todos os exames são vistos por 2 médicos com treino em mamografia e de forma independente de modo a obter uma elevada taxa de deteção de cancro da mama.
Quanto mais precoce for a sua deteção, mais conservadores são os tratamentos, proporcionando maior qualidade de vida e maiores probabilidades de cura.
Na população em geral, as recomendações vão no sentido de se iniciar a realização de mamografia a partir dos 40 anos, idade a partir da qual aumenta significativamente a incidência da doença. A periodicidade recomendada para a realização de mamografia entre os 40 e os 50 anos é anual, podendo ajustar-se a cada caso em função de determinados fatores de risco que resultam da história familiar e pessoal, do padrão de densidade mamária e da presença ou não, de alterações nos respetivos exames.
Perante uma alteração duvidosa ou suspeita identificada na mamografia, o primeiro exame para confirmar a presença dessa alteração e que pode fornecer informação adicional é a ecografia. A ecografia é uma técnica complementar da mamografia e a primeira escolha em jovens e em mulheres sintomáticas, que permite confirmar ou excluir a presença de uma alteração suspeita em mamografia e orientar a realização de um procedimento de intervenção, como uma biopsia para diagnóstico histológico.
A qualidade da mamografia e sua reprodutibilidade são essenciais, sendo por isso que é fundamental que a mamografia seja realizada em equipamento totalmente digital e não com mamografia digitalizada, de modo a contribuir com maior deteção e com menor dose de radiação.
A dose de radiação de uma mamografia é mínima e claramente superada pelo benefício potencial na sua realização. A mamografia deve ser realizada e interpretada por médicos radiologistas com dedicação à patologia mamária e os relatórios estruturados de acordo com o Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS) do American College of Radiology e universalmente aceite.
A introdução de novas tecnologias como a tomossíntese [Digital Breast Tomosynthesis (DBT)], é um avanço importante da mamografia, contribuindo para identificar lesões ainda mais pequenas, sendo cada vez mais introduzida na prática clínica e em programas de deteção precoce. O aumento na deteção de cancro da mama e a redução de situações duvidosas, que se consegue com a tomossíntese, fazem desta técnica a mamografia do futuro.
Quando houver uma história familiar carregada, com vários casos de cancro da mama, especialmente se em familiares de 1º grau, devem ser referenciadas pelo médico assistente a uma consulta específica de risco familiar. Existem critérios concretos para referenciação a este tipo de consulta, na qual além de se determinar se existe ou não indicação para estudo genético, pode recomendar-se um programa de rastreio individualizado. Nestes grupos de mulheres de alto risco, como as portadoras de mutação genética ou com risco familiar muito alto embora sem mutação comprovada, por se tratarem de mulheres que pertencem a grupos etários ainda mais jovens e com padrões mamários densos, o exame de eleição para o rastreio e deteção precoce é a ressonância magnética (RM), uma vez que não utiliza radiação e é independente da densidade mamária. As recomendações atuais para este grupo específico incluem a realização anual de RM e mamografia entre os 30 e os 75 anos, de acordo com as guidelines da National Comprehensive Cancer Network.