Poluição do ar excede limites em Lisboa e Zero pede aviso à população e prevenção

Nesses dois dias, "ocorreram 12 excedências do valor máximo permitido”, disse Carla Graça, da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, acrescentando que “por lei só são permitidas, por ano, 18 excedências [de partículas inaláveis] e, neste momento, já estamos nas 20".
Sete excedências aconteceram na quarta-feira e cinco na terça-feira, ou seja, "dois terços das excedências permitidas por ano [aconteceram] em dois dias", alertou.
Também os valores de óxido de azoto, calculados com base na média observada ao longo do ano, "até agora já excedem em muito o valor permitido médio e dificilmente recuperaremos o défice que existe" até final de dezembro, explicou a ambientalista.
Em termos de qualidade do ar, estes dois parâmetros - as partículas inaláveis e os óxidos de azoto - "são críticos para a saúde humana", resumiu Carla Graça.
Para a Zero, "é necessário, além dos avisos à população - que não estão a acontecer -, tomar medidas de emergência e até preventivas", para tentar, pelo menos, diminuir o impacto do tráfego automóvel na qualidade do ar.
As condições climatéricas excecionais, com vento fraco, temperaturas elevadas, pouca dispersão de poluentes, e mais o tráfego, levam a "uma concentração de poluentes e não há condições para a dispersão", especificou Carla Graça.
A ambientalista defendeu que "isto era previsível até pelas próprias indicações do instituto de meteorologia [Instituto Português do Mar e Atmosfera - IPMA] que já previa as condições atmosféricas".
Entre as medidas de emergência que a Zero defende estão a proibição de circulação e de estacionamento de automóveis em determinadas zonas, a disponibilização gratuita de transportes públicos ou a redução obrigatória de velocidade em zonas alargadas.
Carla Graça recordou que a situação se verificou na estação de monitorização da avenida da Liberdade, em Lisboa, "uma zona bastante bem servida de transportes coletivos".
A Zero considera, assim, que Lisboa e Porto, à semelhança de outras cidades europeias, como Madrid, Paris ou Bruxelas, com episódios de poluição semelhantes aos verificados nos últimos dias em Portugal, devem ter um plano de emergência, a ser ativado com a brevidade possível.
O dióxido de azoto, em concentrações elevadas, pode causar irritação dos olhos e garganta, afetar as vias respiratórias, provocando diminuição da capacidade respiratória, dores no peito, edema pulmonar e danos no sistema nervoso central e nos tecidos, afetando principalmente as crianças, os asmáticos e os indivíduos com bronquites crónicas.
As autoridades alertaram, através da Direção-Geral da Saúde (DGS), para "uma persistência das condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes, nos próximos dias, com efeitos adversos na qualidade do ar, e a ocorrência de eventos naturais de partículas nas regiões do Alentejo e Algarve”.