Sem ciência não há cura para Alzheimer, Europa não pode cortar apoios, diz Carlos Moedas

“Isso é mau, a Europa tem de investir mais”, disse o comissário europeu hoje em Lisboa, onde participou numa mesa redonda sobre “Doença de Alzheimer: Estratégias Abrangentes de Aproximação”, no âmbito da conferência sobre a doença a decorrer esta semana na Fundação Champalimaud.
O responsável lamentou a “dualidade da Europa”, que por um lado tem um discurso de apoio à ciência e investigação, mas que por outro se propõe cortar 500 milhões de euros no orçamento para 2018 que está em debate.
O investimento na investigação na área da saúde foi superior a cinco mil milhões de euros nos últimos 10 anos, havendo mais de três mil projetos em curso, ainda que os objetivos de muitos deles não sejam à partida explícitos para o cidadão comum, disse o comissário a propósito da aposta europeia na investigação das doenças.
E porque as doenças não têm fronteiras, Carlos Moedas salientou a importância da cooperação afirmando: “nenhum país pode descobrir a cura para o Alzheimer sozinho”.
A cooperação foi considerada também importante para os outros dois participantes na mesa redonda, o ministro da Saúde de Portugal, Adalberto Campos Fernandes, e o diretor de saúde mental e abuso de substâncias da Organização Mundial de Saúde (OMS), Shekkar Saxena, este a afirmar que a doença de Alzheimer é uma prioridade para a organização e que cada país deve ter uma estratégia.
Salientando as consequências sociais e económicas das demências, Shekkar Saxena lamentou que em muitos casos não são diagnosticadas atempadamente e pediu um envolvimento não só dos especialistas mas de todo o sistema de saúde.
“O papel da sociedade civil é muito importante e um deles é criar comunidades amigas das pessoas com demência. Cada país deve fazer isso”, desafiou. Uma participante no debate, cuja mãe tem Alzheimer, deu exemplos de como falta essa comunidade amiga e acabou por ser a autora da única intervenção bastante aplaudida.
E de cooperação falou também o ministro da Saúde, exemplificando com o recente protocolo com Espanha para a compra de medicamentos em conjunto, mas também das novas realidades às quais se têm de adaptar as políticas de saúde, incluindo na área das doenças mentais.
Adalberto Campos Fernandes disse também que o Governo terá em breve uma estratégia para as doenças mentais, que são “um problema central para as próximas décadas” e que têm de ser vistas não apenas na perspetiva do doente mas também da família em que se insere.
Da plateia, Caldas de Almeida, professor de psiquiatria e especialista em saúde mental, disse ser necessário dessacralizar as doenças mentais, porque hoje as pessoas têm medo dos portadores de demências e não se relacionam com elas.
E Maria de Belém Roseira, antiga ministra da saúde, lamentou que nas conferências como a que agora decorre em Lisboa, e que junta 80 especialistas mundiais, todos concordem com estratégias e abordagens, embora muitas vezes se esqueçam mal saem do local dessas conferências. Também recebeu alguns aplausos.
O encontro sobre a doença de Alzheimer, até sexta-feira, junta mais de 80 especialistas e é organizado pela Fundação Champalimaud com o apoio da Fundação Rainha Sofia, de Espanha.
Pretende debater a investigação sobre saúde social e normalização da vida das pessoas com demência e suas famílias e os avanços científicos na investigação de doenças neurodegenerativas, especialmente as doenças de Alzheimer, Parkinson e Huntington.