Uma das doenças benignas mais comuns

Metade dos homens portugueses não sabe o que é a Hiperplasia Benigna da Próstata

Atualizado: 
24/05/2017 - 15:28
A Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) é uma das doenças benignas mais comuns, no entanto, estima-se que mais de 50% dos homens portugueses desconheçam a existência da doença, relacionando-a com o cancro da próstata ou a disfunção erétil. Mitos que os especialista José Manuel Palma dos Reis pretende esclarecer.

Afetando atualmente cerca de 70% dos homens com mais de 65 anos, a Hiperplasia Benigna da Próstata é uma condição médica que se caracteriza pelo aumento benigno da próstata e que pode conduzir a alguns sintomas do aparelho urinário inferior.

“Em bom rigor, a termo Hiperplasia Benigna da Próstata (HBP) é um termo histológico (vista da arquitetura de tecidos ao microscópio) e corresponde a um aumento de volume que acontece devido a um aumento do número das células”, começa por explicar José Manuel Palma dos Reis, chefe de Serviço de Urologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte.

Sabe-se, no entanto, que, e apesar da sua crescente divulgação, a maioria dos homens continua a desconhecer e a considerar como tabu uma doença que, na opinião deste especialista, faz parte do natural processo de envelhecimento.  

“Ter HBP apenas significa que houve a tal hipertrofia (benigna como o próprio nome indica), não é sequer necessário que existam sintomas e pode corresponder a uma situação perfeitamente “inocente”. O tal fenómeno histológico em si é um fenómeno normal do envelhecimento que costumo comparar com os cabelos brancos”, justifica referindo que “tal como há pessoas que aos 50 anos já tem muitíssimos cabelos brancos, outras quase não os têm”.

Tratando-se de um fenómeno variável e sem fatores de risco, pode surgir “em tempos de vida muito variáveis de pessoa para pessoa”.

Nos casos em que surgem sintomas do aparelho urinário inferior, estes resultam de uma forma mais ou menos indireta da obstrução provocada pela próstata ao normal fluxo da urina no esvaziamento.

Quer isto dizer que no ínicio os doentes podem ter dificuldade em começar a urinar ou sentir que a descarga de urina foi incompleta.

“Há sintomas mais diretos (a que agora chamamos sintomas de esvaziamento) que se traduzem, por exemplo, num jato urinário mais fraco e num tempo de micção mais prolongado”, acrescenta o especialista.

Os chamados sintomas de armazenamento são, de acordo com José Manuel Palma dos Reis, “os que mais incomodam os doentes e têm a ver com alterações mais crónicas da bexiga perante a obstrução crónica”.

Necessidade de urinar mais vezes, sobretudo durante a noite, ou sentir urgência em urinar são os sintomas mais descritos. “Não raramente esta urgência pode ser tão intensa que culmina num episódio de incontinência de urgência”, acrescenta o médico explicando que estas situações acabam por ter graves repercussões na qualidade de vida do doente, afetando tanto a sua vida social como laboral.

Apesar de ser, na grande maioria dos casos registados, uma doença benigna, que necessita de tratamento sobretudo pelos sintomas e sua repercusão na qualidade de vida, a HBP pode, no entanto, “acarretar complicações graves“.

“Uma das complicações relativamente frequentes é a chamada retenção urinária aguda, em que o doente deixa de conseguir urinar, normalmente acompanhada de queixas dolorosas intensas que levam o doente à urgência com a consequente drenagem da bexiga por algaliação, que alivia os sintomas”, descreve o urologista.

Menos frequentes, mas também mais graves, são as situações em que a obstrução progride de forma silenciosa, com dilatação da bexiga e de todo o aparelho urinário até aos rins que culmina numa insuficiência renal.

A formação de cálculos na bexiga “pela estase de urina” e de divertículos na parede da bexiga “pelo aumento da pressão dentro da mesma”, são outras das complicações possíveis da doença.

“Igualmente, em alguns casos da HBP, particularmente de grande volume, podem surgir hemorragias (perda de sangue na urina, chamada hematúria). Faço, no entanto, notar que qualquer doente com hematúria deve forçosamente ser avaliado por um urologista, mesmo que tenha uma HBP conhecida”, adianta explicando que a hematúria pode sugir na sequência de um tumor na bexiga que necessita de tratamento específico e urgente.

De acordo com o chefe de Serviço de Urologia do CHLN, é por isso importante que o doente procure ajuda médica sempre que existam sintomas do aparelho urinário. “Por um lado é importante que outras causas potencialmente mais graves para os sintomas sejam excluídas, e caso os sintomas tenham interferência, como frequentemente têm, na qualidade de vida dos doentes, estes sejam tratados”, reforça.

O diagnóstico da HBP começa por ser clínico, baseado na história clínica do doente e no chamado toque retal. “Através do reto, se consegue palpar a próstata, o que permite para além de uma estimativa grosseira do seu tamanho, detetar outras potenciais situações, como nódulos da próstata suspeitos de focos de carcinoma ou, por exemplo, a presença de uma próstata tensa e dolorosa que poderia corresponder a uma prostatite”, esclarece o especialista.

A estes dados juntam-se depois alguns exames complementares como a ecografia da próstata e da bexiga, as análises com o doseamento do PSA e a avaliação da função renal para despiste de eventuais complicações.

“O tratamento da HBP sintomática é feito, pelo menos numa fase inicial, com medicamentos que têm registado notável melhoria nos últimos tempos e que permitem controlar os sintomas na grande maioria dos doentes e mesmo, em alguns casos, alterar a história natural da doença”, explica José Manuel Palma dos Reis.

Quanto à cirurgia, esta é normalmente aconselhada quando existem complicações – retenção urinária, cálculos da bexiga, entre outros – a que os especialistas costumam chamar de “indicações absolutas” e quando não se conseguem controlar os sintomas com a medicação.

Ambas as formas de tratamento têm sofrido uma considerável evolução nos últimos anos. Para além de novos fármacos, também as técnicas cirúrgicas têm apresentado desenvolvimentos significativos, nomeadamente com a introdução de técnicas minimamente invasivas, como o laser e formas alternativas de energia.

Mitos: cancro e disfunção erétil

Apesar da crescente informação divulgada sobre a doença e os avanços observados nas suas opções terapêutas, alguns mitos ainda prevalecem.

“Por um lado, quanto à doença há ainda, de facto, o mito de que pode «provocar» cancro da próstata e também problemas sexuais”, começa por dizer o urologista,  José Manuel Palma dos Reis.

Quando surgem sintomas do aparelho urinário inferior, há quem os associe a cancro da próstata. “No entanto, não há qualquer relação entre as duas patologias. Um homem que tem a próstata grande (HBP) tem exatamente o mesmo risco de ter cancro da próstata que outro homem com as mesmas características de idade, etnia, etc, e que tenha a próstata de tamanho normal”, desmistifica o clínico.

“Costumo explicar aos meus doentes preocupados com o risco de cancro em função do tamanho da próstata que seria a mesma coisa que assumir que só teriam tumores da mama mulheres com mamas grandes”, afirma.

No entanto, admite que sendo a HBP bastante frequente e sendo o cancro da próstata “não raro”, sobretudo a partir de determinada idade, estas duas patologias podem coexistir.  “Claro, num doente com HBP a abordagem será completamente diferente se descobrirmos que, além da banal HBP, existem na sua próstata (assim como poderiam existir numa próstata de tamanho normal) focos de carcinoma da próstata”, esclarece.

Quando à disfunção erétil, ainda existe o mito de que a cirurgia indicada para tratar a HBP provocará “impotência” do doente. No entanto, o risco de disfunção erétil nas cirurgias para a doença benigna da próstata é muito reduzido.

“O que acontece com bastante frequência, após a cirurgia, é uma alteração da ejaculação em que surge a chamada ejaculação retrógada em que o doente mantém a potência sexual e o orgasmo mas, quando se dá a ejaculação, o esperma em vez de ser expelido pela uretra reflui para a bexiga”, explica o urologista.

Não obstante, sabe-se contudo, “através de estudos epidemológicos, que a disfunção erétil é algo mais comum nos doentes com mais sintomas relacionados com a HBP – os tais LUTS (Lower Urinary Tract Symptoms)”. Apesar de considerados dois fenómenos distintos, a sua relação tem que ver mais com a gravidade dos sintomas do aparelho urinário inferior do que com volume da próstata ou grau de obstrução de fluxo urinário. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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