Doentes desvalorizam sintomas da Doença Venosa Crónica
A Doença Venosa Crónica é uma das patologias crónicas mais prevalentes da atualidade e que se encontra presente em mais de um terço da população.
Estima-se que cerca de três milhões de mulheres portugueses, com mais de 30 anos, sofram da doença. No entanto, este número poderá estar, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular (SPACV), aquém da realidade uma vez que “parece existir desconhecimento e desvalorização dos seus sintomas”.
A Doença Venosa Crónica (DVC) trata-se de uma patologia crónica e evolutiva que afeta, essencialmente, as veias do sistema venoso surperficial das pernas. “A Doença Venosa Crónica tem como causa principal um defeito estrutural da parede das veias e engloba todas as formas de apresentação da doença, desde as mais simples – onde cabem os estádios iniciais – até às mais complexas como varizes ou úlceras varicosas”, começa por explicar José Daniel Menezes, presidente da SPACV.
Sensação de peso e dor nos membros inferiores, sobretudo ao final do dia, e em alguns casos prurido ou cãibras, são alguns dos sintomas da doença.
“Nas fases iniciais, os doentes não valorizam os sintomas e poucos recorrem ao médico”, refere o especialista explicando que, tratando-se esta de uma patologia crónica e evolutiva, “por vezes, os doentes chegam à consulta já numa fase avançada da doença”.
Sensação de “formigueiro” ou dormência das pernas podem rapidamente evoluir para edema, hiperpigmentação (alteração da cor) da pele, varizes e úlcera varicosa. “A principal complicação é o aparecimento da úlcera varicosa e tromboflebite. Este é o estádio final da doença”, refere José Daniel Menezes.
Quando não identificada e tratada, a DVC pode dar origem a diversas complicações com elevado impacto clínico, afetando a qualidade de vida dos doentes. Por outro lado, a ela está associado um impacto social e económico bastante significativo, estimando–se que esta doença seja responsável, em Portugal, por 1 milhão de dias de trabalho perdidos, por 21% de mudanças nos postos de trabalho e 8% das reformas antecipadas.
Como principais fatores de risco destacam-se alguns hábitos comportamentais da sociedade atual como o sedentarismo ou a obesidade/sobrepeso, aos quais se juntam fatores biológicos como a predisposição familiar, idade ou gravidez.
“A idade é um fator importante de agravamento”, afirma José Daniel Menezes adiantando que, embora os estudos de prevalência mostrem que a doença venosa possa “surgir a partir dos 15 anos, são as pessoas mais idosas que têm casos mais graves”.
Por outro lado, parece haver uma forte associação da patologia às doenças reumáticas, “não por elas mas porque levam, muitas vezes, à imobilização por dor”.
Relativamente ao seu tratamento, este é indivualizado e depende da fase em que se encontra a doença, da presença ou gravidade de sintomas.
Deste modo, e tratando-se de uma doença cuja progressão pode ser travada, é importante que o doente “perante sinais específicos, procure, desde logo, conselho médico”.
De acordo com o presidente da SPACV, a grande maioria dos doentes que se estima sofrerem de doença venosa crónica encontra-se no estádio inicial da doença, a quem são recomendadas medidas de profilaxia do agravamento. “Evitar estados prolongados de pé ou sentado, realizar exercício físico ou controlar o peso”, explica o especialista.
A terapêutica medicamentosa (venoactivos orais), de compressão (meia elástica), esclerosante (secagem de pequenas varizes, em regra, através de injeção de um agente químico dentro da veia) ou tratamento cirúrgico (cirurgias ablativas ou não ablativas) são indicados caso a caso.
Não obstante, recomenda-se vigilância regular dado o seu carácter crónico e evolutivo.
Campanha “Alerta Doença Venosa”
A terceira campanha de sensibilização para a Doença Venosa Crónica, organizada pela Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular, pretende contribuir para um maior conhecimento da doença e suas complicações quando não tratada.
“Alerta Doença Venosa”: campanha sensibiliza para riscos da patologia
“A necessidade deste alerta foi algo que sempre identificámos e que se tornou notório com os dados do primeiro inquérito sobre Doença Venosa, que levámos a cabo no âmbito do primeiro ano de campanha, em 2015”, explica José Daniel Menezes em comunicado.
Este trabalho contou, na altura, com a colaboração de 1790 participantes que foram avaliados por uma equipa especializada (constituída por Cirurgiões Vasculares e Enfermeiros) e permitiu concluir que 97% dos inquiridos sofriam de Doença Venosa Crónica há vários anos mas apenas metade terá realizado tratamento.
“Diagnosticar precocemente e tratar de forma adequada é, portanto, imperativo, já que a Doença Venosa Crónica pode evoluir para complicações mais graves quando a patologia não é tratada de forma correta”, reforça o especialista.