Informação incorreta sobre sarampo origina dúvidas e deve ser desmistificada
Ana Rita Cavaco salientou a importância "de desmistificar a informação que [as pessoas] têm e não está correta porque, quanto maior o grau de informação que temos e o acesso a ela, mais dúvidas se colocam, [o que] é normal".
"O conhecimento destas questões tem de chegar [às pessoas] para elas conseguirem tomar as melhores decisões e alterar e fazer mais leis não me parece [ser o mais adequado], as mentalidades não se mudam por decreto", disse, em resposta à agência Lusa sobre as regras existentes sobre vacinação.
Uma jovem de 17 anos com sarampo, internada no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, morreu hoje de madrugada, segundo fonte hospitalar.
A jovem estava internada desde o fim de semana na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos do CHLC – Hospital Dona Estefânia, na sequência de uma pneumonia bilateral – complicação respiratória do sarampo.
"Há uma coisa que não podemos perder de vista, Portugal é um país fortemente regulado na área da saúde, tem, de facto, muitas leis, e não é por isso que todas elas são cumpridas, isto vai de uma mudança da consciencialização de cada um de nós e como podemos ajudar as pessoas a tomar as melhores decisões", salientou a bastonária da Ordem dos Enfermeiros.
Referiu que, "muitas vezes, a taxa de não cobertura vacinal, não só desta vacina, mas de muitas outras, ocorre neste grupo de pessoas que tem mais acesso à informação".
Para Ana Rita Cavaco, "é preciso esclarecer as dúvidas que as pessoas têm" e que "são legítimas porque há muita informação a circular que não é fidedigna".
"Se eu não fosse enfermeira, teria, seguramente, as mesmas dúvidas", acrescentou.
"Há uma obrigatoriedade do plano nacional de vacinação, mas [por outro lado] não podemos interferir na liberdade de escolha de cada um que decide o que quer, qual a vacina que quer fazer, qual é o ato de saúde que deixa que lhe pratiquem, neste caso a administração de vacinas", defendeu a representante dos enfermeiros.
Segundo a especialista, esta "não é uma vacina que cause outros danos colaterais às crianças, até porque está amplamente testada no mercado".
O recente surto de sarampo que abrange vários países europeus causou em Portugal pelo menos 21 casos confirmados de sarampo.
Em 2016, Portugal recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS), um diploma que oficializava o país como estando livre de sarampo, até porque os poucos casos registados nos últimos anos tinham sido contraídos noutros países.
Com a vacinação gratuita das crianças, a partir de 1974, e sobretudo com a introdução de uma segunda dose de vacina em 1990, o sarampo acabou por se tornar quase uma doença esquecida ou invisível.
Mas entre 1987 e 1989 tinham sido notificados em Portugal 12 mil casos, contabilizando-se 30 mortes.
O sarampo é uma das infeções virais mais contagiosas e, apesar de habitualmente ser benigna, pode ser grave e até levar à morte, avisa a Direção-geral da Saúde.
A doença manifesta-se pelo aparecimento de pequenos pontos brancos na mucosa oral cerca de um ou dois dias antes de surgirem erupções cutâneas, que inicialmente surgem no rosto.