Investigadores querem saber se fazer exercício reduz mesmo o risco de cancro nos ossos
A Universidade de Queensland, na Austrália, está a desenvolver um programa que pretende perceber até que ponto é que a prática de desporto e de exercício físico pode ajudar vítimas de cancro nos ossos a recuperar. Paula Wilson, investigadora da School of Human Movement and Nutrition Sciences, é a coordenadora de um estudo científico que pretende facilitar a convalescência de pessoas que tenham feito uma cirurgia de substituição de osso, escreve o Sapo.
“Os pacientes com megapróteses [próteses metálicas inseridas cirurgicamente para substituir um osso canceroso] queixam-se muitas vezes de falta de força e de dificuldades de movimento depois do membro ter sido mexido. Nós queremos perceber até que ponto são permanentes e se são uma das consequências inevitáveis do ato cirúrgico e se podem ou não ser treinadas, digamos assim, através da prática de desporto”, justifica a responsável.
“Os resultados do nosso estudo vão fornecer-nos informação mais detalhada para percebermos, por exemplo, se estas pessoas são elegíveis para a prática de um desporto paralímpico”, acrescenta Paula Wilson. Nos últimos meses, procurou um grupo de voluntários. Precisa de entre três a cinco, com idades entre os 15 e os 35 anos, que já tenham feito a operação, para avançar com a experiência.
Cancro nos ossos é raro mas muito mortal
O cancro nos ossos é raro. “Representa menos de 1% de todos os cancros mas é a terceira maior causa de morte relacionada com esta patologia no segmento das pessoas com menos de 25 anos, logo atrás do cancro no cérebro e da leucemia”, realça a investigadora. “Nós sabemos que o exercício [físico] é benéfico para a maior parte das pessoas durante e depois de um tratamento contra o cancro”, informa.
“Outros estudos já nos demonstraram que [a atividade desportiva] melhora a qualidade de vida, minimiza os sintomas de fadiga e ajuda as pessoas a ficarem mais fortes e em forma”, ressalva a cientista. Nos últimos anos, foram muitos os trabalhos científicos que enalteceram os poderes do desporto na prevenção e no tratamento da doença. Em meados de 2016, uma investigação internacional veio defender essa tese.
Divulgada na revista The New England Journal of Medecine, assegura que o excesso de peso, que tem o sedentarismo como uma das causas, aumenta a probabilidade de desenvolver doenças cancerígenas. De acordo com os autores do estudo, que complementa outros tornados públicos na altura, a prática regular de exercício físico reduz em cerca de 20% o risco de cancro do cólon e de mama, de diabetes, de acidente vascular cerebral (AVC) e de doença cardíaca.
Um outro trabalho, tornado público no início do mês de agosto desse ano, apresenta conclusões que apontam no mesmo sentido. A análise, baseada no estudo aprofundado de 174 investigações científicas publicadas entre 1980 e 2016, foi destacada pelo Bristish Medical Journal (BMJ). De acordo com o relatório final, subir escadas durante 10 minutos, aspirar a casa durante 15 minutos ou jardinar durante 20 minutos já ajuda a prevenir essas doenças.
Cientistas do National Cancer Institute e da Harvard Medical School, nos Estados Unidos da América (EUA), em colaboração com outros colegas de vários pontos do mundo, analisaram também 12 estudos que abrangeram 26 tipos de cancro e envolveram 1,44 milhões de pessoas, entre os 19 e os 98 anos, residentes nos EUA e na Europa. O acompanhamento médio dos participantes foi de 11 anos e as conclusões não diferem muito.
A investigação, tornada pública nas últimas semanas, permitiu apurar que a prática de elevados níveis de exercício físico (uma hora e meia por dia, incluindo a atividade desportiva pura e dura e a realização de tarefas que obriguem a algum movimento, como é o caso de andar a pé, aspirar o chão, fazer a cama e/ou jardinar, por exemplo) pode reduzir o risco de 13 tipos de cancro. Saiba quais e em que percentagem:
- Menos 42% de risco de cancro esofágico
- Menos 27% de risco de cancro do fígado
- Menos 26% de risco de cancro do pulmão
- Menos 23% de risco de cancro dos rins
- Menos 22% de risco de cancro do estômago, um dos mais frequentes em Portugal
- Menos 20% de risco de leucemia mieloide
- Menos 21% de risco de cancro do endométrio
- Menos 17% de risco de mieloma
- Menos 16% de risco de cancro do cólon
- Menos 15% de risco de cancro da cabeça e do pescoço
- Menos 13% de risco de cancro do reto e da bexiga
- Menos 10% de risco de cancro da mama, um dos que mata mais mulheres em Portugal