Investigadora portuguesa premiada pela Academia de Ciências Médicas britânica
A informação foi dada pela instituição britânica, que atribuiu o prémio na quinta-feira.
No estudo, publicado na quinta-feira na revista médica britânica e de que a investigadora portuguesa é a primeira autora, a equipa de cientistas debruçou-se sobre o papel dos anticorpos das mães em perturbações no desenvolvimento intelectual e motor das crianças.
Os anticorpos são proteínas do sistema imunitário que normalmente protegem o organismo contra infeções, mas, por vezes, podem levar ao aparecimento de doenças autoimunes.
A investigação de Ester Coutinho procura encontrar anticorpos nas grávidas que afetam o desenvolvimento cerebral do feto, que, mais tarde, se pode revelar em distúrbios ou doenças do neurodesenvolvimento das crianças, como paralisia cerebral, surdez, cegueira, autismo, dislexia, hiperatividade com défice de atenção e deficiências cognitivas.
"O que encontrámos foi uma associação entre um anticorpo contra uma proteína cerebral chamada CASPR2 [envolvida no neurodesenvolvimento] em mães que, depois, tiveram crianças com atrasos mentais. Essa associação foi validada em ratinhos", assinalou a cientista, que realizou o estudo na Universidade de Oxford, no Reino Unido, para a sua tese de doutoramento, ao abrigo de um programa cofinanciado pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal.
A equipa de investigadores estudou a presença da proteína CASPR2 em amostras de soro do sangue de mães com psicose pós-parto e com crianças com atraso mental ou outras disfunções no desenvolvimento psicológico, comparando-as com grupos de controlo. As amostras foram recolhidas na década de 90 e armazenadas num biobanco na Dinamarca.
Posteriormente, os cientistas avaliaram, em fêmeas de ratinhos, os efeitos da exposição uterina aos anticorpos contra a CASPR2 e, em seguida, o comportamento das crias já crescidas e o seu cérebro (depois de mortas).
"Vimos que houve alterações de comportamento e neuropatologias do cérebro. Tinham défice de interação social, alterações nas camadas corticais do cérebro, excesso de ativação de outras células cerebrais, como a microglia, e uma perda de sinapses [ligações entre neurónios, células cerebrais]. Tudo isto sugerindo uma patologia que é comum às pessoas que têm atrasos intelectuais e motores", apontou Ester Coutinho.
O próximo passo da investigação é validar as conclusões em disfunções específicas do neurodesenvolvimento, como o autismo, e estudar o mecanismo de funcionamento dos anticorpos durante a gestação.