Incerteza sobre nova sede para a Agência Europeia dos Medicamentos
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"A primeira mudança depois do referendo foi o humor das pessoas. Primeiro, uma tristeza generalizada e depois a tomada de consciência de que iam provavelmente acontecer profundas alterações", explicou o professor de microbiologia italiano, na chefia da EMA desde novembro de 2011.
Desde que foi criada em 1995, a agência aprovou 1.100 medicamentos, incluindo 82 em 2016, entre os quais 17 contra o cancro, 14 contra infeções e nove para doenças cardiovasculares.
A agência trabalha como "uma cadeia de produção" sofisticada com um total de "três mil peritos que devem intervir exatamente no momento certo" para a certificação dos novos medicamentos, que deve ser feita no prazo de 201 dias, disse à agência noticiosa France Presse (AFP).
Farmacêuticos, farmacologistas, biólogos, médicos ou bioquímicos estão encarregados de avaliar cientificamente os pedidos de autorização de comercialização de novos medicamentos na UE e garantir que todos os fármacos disponíveis no mercado europeu são seguros e eficazes.
Depois do referendo, em julho passado, saíram oito funcionários que desempenhavam "funções-chave na agência, lamentou Guido Rasi, apesar de explicar que estas saídas decorreram ainda nos 5% dos movimentos anuais habituais para a EMA.
"Estamos a tentar avaliar o número máximo de peritos que podemos perder. O limiar crítico seria de 20%", considerou.
À exceção de Malta e do Luxemburgo, todas as nacionalidades da UE estão representadas na agência. Os franceses formam o maior contingente, com 112 elementos.
Os britânicos, 59 pessoas, "são os que estão mais preocupados", uma vez que o seu destino "faz parte das negociações" do 'Brexit', afirmou.
Qualquer agência europeia deve também estar instalada em solo da UE, o que torna inevitável a saída do Reino Unido, mas o destino da EMA continua a ser desconhecido.
"Tanto quanto sei, a escolha vai caber ao Conselho Europeu, portanto aos primeiros-ministros, que vão decidir também o momento da mudança", disse, sublinhando "não ter qualquer certeza" sobre quando acontecerá.
Várias cidades manifestaram já interesse em receber a EMA, como Lyon, Lille, Milão, Granada ou Barcelona.
"De momento, a nossa opção preferida era saber agora ou o mais depressa possível e ter tempo suficiente para fazer uma mudança sem perturbar a agência", sublinhou o responsável, esperando que "seja tido em conta aquilo que é essencial para funcionar".
"O meu maior medo é ser confrontado com uma decisão tardia, pouco tempo para fazer a mudança, para uma cidade sem acessibilidades satisfatórias e onde o ambiente não seja compatível com a vida dos funcionários", resumiu.
Guido Rasi lamentou a perda de um "sentimento de universalidade", até aqui presente entre os funcionários da agência.