Idosos nos Açores tendem a envelhecer melhor
"Penso que nos Açores se envelhece melhor, porque há relações de vizinhança, relações sociais de identificação. As pessoas são mais sinalizadas, os casos são mais sinalizados e a rede social e o Governo [Regional] também contribuem para minimizar o isolamento", afirmou a docente da Universidade dos Açores.
A conclusão resulta de um estudo que integra o livro “(Re)pensar as pessoas idosas no século XXI”, que coordenou, e é lançado na terça-feira, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
O estudo, com uma amostra de 320 participantes, dos quais 200 mulheres e 120 homens, com mais de 60 anos, residentes nas ilhas de São Miguel, Santa Maria, Terceira e Flores, revela que a maioria dos inquiridos (75,9%) vive acompanhado, não está institucionalizado e, na sua grande maioria, já se encontra na reforma.
“Avaliámos a perceção da satisfação com a reforma na vida pessoal e verificámos que 50,7% das pessoas estão satisfeitas ou mesmo muito satisfeitas (33,1%). As fontes de suporte e apoio afetivo na situação atual são a família e/ou os amigos”, explicou a psicóloga, indicando, no entanto, que “os índices de satisfação diminuem quando se fala na saúde e com a situação económica”.
Segundo a docente, “as pessoas estão mais ou menos sinalizadas e têm apoios governamentais e familiares”, destacando-se ainda “a vivência da religião”.
A obra “(Re)Pensar as pessoas idosas no século XXI” tem 328 páginas, organizadas em quatro secções com 17 capítulos, “um testemunho vivo sobre o ser idoso”, referiu.
"O livro apresenta vários testemunhos de pessoas idosas e de técnicos da área da saúde. É um livro de sentimentos e emoções e tem a colaboração de muitos investigadores", sublinhou Teresa Medeiros, indicando que a obra integra estudos de Espanha, Brasil, Argentina e Portugal.
Teresa Medeiros considerou primordial “investir na prevenção e nas atividades de estimulação e de bem-estar que proporcionem uma atividade cerebral intensa para reduzir ou minorar o envelhecimento com demência”, exemplificando com o programa de Aprendizagem ao Longo da Vida que criou em 2003 na Universidade dos Açores.
Apesar de destacar a existência de uma boa rede de equipamentos sociais para a terceira idade, a docente defendeu, contudo, que os Açores poderiam evoluir também para um modelo de residências onde os idosos pudessem ter uma vida autónoma, mas apoiada com serviços de saúde e proteção.
Para a coordenadora da obra, "o envelhecimento não é mais que um processo de mudanças que se operam ao longo do tempo", salientando que "é possível encontrar maior bem-estar psicológico junto das pessoas que têm atividades de estimulação cognitiva e social".
A obra será apresentada por Joaquim Armando Ferreira, professor catedrático da Universidade de Coimbra, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.