Mais armas para combater o cancro
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O novo ano traz a promessa de uma vacina para o cancro do estômago, tal como nova medicação dirigida a mutações específicas nas células e terapias desenhadas para fortalecer o sistema imunitário do doente. As duas têm mostrado alguns resultados animadores no combate ao cancro do pulmão. Um caminho que tem de ser feito de mãos dadas com a prevenção: rastreios e alteração de comportamentos.
"O cancro é diferente consoante o órgão, se se é homem ou mulher, se se é velho ou novo", frisou ao Diário de Notícias Manuel Sobrinho Simões, investigador e diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, para explicar que ainda não é possível ter resultados iguais para todos. Se na mama e no cólon estamos a avançar na batalha, mais difícil tem sido no cancro do estômago. "Ao contrário do cólon, que temos um pólipo que se tirarmos não chega a ser cancro, não sabemos porque é que no estômago não fazem pólipos antes, invadem logo", adiantou.
Mas 2017 promete uma nova arma. "O que será a nossa solução é a vacina contra a bactéria Helicobacter pylori. Pensamos que vai aparecer para o ano. Os cancros do estômago não são só causados pela bactéria, mas são muito causados por ela. Induz um processo inflamatório crónico, uma gastrite crónica, e estas dão muitos radicais livres de oxigénio que dão muitas mutações", salientou o especialista, que fala noutra peça fundamental: "O desenvolvimento de novos medicamentos que não são para mutações de células, mas para o sistema imunitário e metabólico do hospedeiro aumentando a sua capacidade de reagir [ao cancro], induzindo o suicídio das células, impedindo que elas se mobilizem ou parando-as."
No caso do cancro do pulmão - um dos que têm maior taxa de mortalidade -, a investigação tem seguido os dois caminhos, que têm permitido alguns bons resultados: medicamentos inovadores que aumentam a capacidade do sistema imunitário e inovadores dirigidos a mutações específicas em determinadas células. Como exemplo, a Agência Europeia do Medicamento recomendou, recentemente, a utilização do pembrolizumab como tratamento de primeira linha, em vez de quimioterapia, em doentes com cancro do pulmão de células não pequenas cujos tumores tenham uma determinada mutação. Atualmente, o medicamento da Merck já é usado, mas como segunda opção. A aprovação como primeira escolha deverá acontecer no início do próximo ano.
Mas o combate faz-se também com a prevenção. "Outra coisa que vai ser muito importante é começarmos a perceber se tratarmos bem a obesidade e a diabetes vamos ter menos cancro e os doentes com cancro vão ter cancros muito menos agressivos. E temos de aumentar os rastreios, porque se o diagnóstico for precoce, primeiro o doente cura, depois os custos são completamente diferentes. No caso do cancro do cólon num estádio dois, o custo fica por quatro mil euros, se for num estádio avançado passa para 40 mil a 50 mil euros por ano. Na mama temos a mesma experiência. O Estado português pouparia imenso e os doentes poupariam imenso em sobrevida e qualidade de vida", salienta Sobrinho Simões.
O diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto fala da estratégia dos três C: curar, controlar e cuidar. "Calculamos que surjam 60 mil novos casos de cancro por ano. Cerca de 25 mil pessoas morrem. Mais de 50% das pessoas não morrem. O número de novos cancros está a aumentar, mas a mortalidade não, o que é muito bom. Sinal de que estamos a chegar mais cedo, a tratar melhor, os cuidados paliativos melhoraram. Mas ainda temos de melhorar a parte do cuidar", defende.