Enfermagem dos hospitais de Coimbra reduz declínio funcional de idosos internados
Segundo António Marques, diretor de enfermagem, que abrange 2.700 profissionais, a implementação deste programa resulta de um estudo pioneiro em Portugal realizado este ano no CHUC por um grupo de enfermeiros.
"A investigação decorreu este ano e, por isso, temos resultados e vamos incorporá-los na prática quotidiana e tirar partido deles, que era uma das nossas intenções", disse o responsável à agência Lusa, salientando que o projeto se insere na linha estratégica da investigação em cuidados de enfermagem.
O estudo abrangeu as quatro enfermarias de Medicina A do Hospital da Universidade de Coimbra, que são as áreas com mais idosos, dividido por um grupo de controlo, em que foi mantida a prática habitual, e outro caso, no qual foi implementado o programa educativo sobre o Cuidado Centrado na Funcionalidade.
Os dados foram recolhidos em quatro momentos (até duas semanas antes da hospitalização, entre o terceiro e o quinto dia de internamento, na alta e três meses após a alta), numa amostra de 101 idosos internados.
De acordo com António Marques, o estudo confirmou "que mais de metade dos utentes tem uma perda de funcionalidade a partir da linha de base que lhe foi diagnosticada até ter alta hospitalar".
"Constatámos ainda que 41,6% das pessoas incluídas no estudo não recuperaram o estado funcional que tinham antes da hospitalização e o que é curioso é que estas pessoas recorrem muito mais ao serviço de urgência após terem alta do que as pessoas que não tiveram episódios de internamento", salientou.
O diretor de enfermagem dos CHUC salientou que o "cidadão que foi cuidado no hospital e teve declínio na funcionalidade procurou a urgência 39,6% a mais, em comparação com aquele que não teve declínio".
O objetivo da implementação do programa de Cuidado Centrado na Funcionalidade é aumentar a taxa de funcionalidade do idoso, uma vez que o "declínio é fator preditor para recorrer mais à urgência".
"É um trabalho muito recente e temos de estabelecer um rumo realista, não sei qual a percentagem que podemos estimar ganhar neste domínio, mas estou convencido, por causa de resultados comparados a outros níveis, que, no mínimo, somos capazes de conseguir mais de 10% de recuperação da funcionalidade", sublinhou António Marques.
Desde 2012, com a criação de um núcleo de investigação em enfermagem, que o CHUC tem desenvolvido um plano estratégico que contempla 30 projetos de melhoria, que, segundo António Marques, apresentam uma taxa de consecução de 94%.
Entre eles, destacam-se também o projeto do Sistema de Classificação de doentes por Graus de Dependência dos Cuidados de Enfermagem, para a determinação da carga de trabalho, que tornou o CHUC no "maior produtor de dados do país".
Os dados, de acordo com a direção de enfermagem dos CHUC, revelaram um desagravamento da sobrecarga de trabalho dos enfermeiros e a qualidade e fiabilidade dos serviços subiu de 42 para 88%, "o melhor resultado no país".
Outro dos projetos com grande impacto prende-se com o internamento de pessoas dependentes, em que, nos últimos quatro anos, foram introduzidas medidas corretivas que permitiram aumentar o número de serviços de excelência (acima de 90%) e reduzir a zero os que estavam abaixo de 75%.
O projeto "Sucesso e Benchmarking", que visou a partilha de experiências bem-sucedidas e a sua adaptação em diversos contextos, contou com a apresentação de 56 iniciativas e a participação de 1.106 enfermeiros, culminando na publicação de duas coletâneas de comunicações.