Centro Materno-Infantil Norte abre portas ao público para revelar doença pouco conhecida
A patologia consiste na presença de células do endométrio noutros órgãos que não o útero, ao qual deveriam estar confinadas, e resulta muitas vezes em invasões do intestino, da bexiga e até dos pulmões ou cérebro, provocando dor pélvica crónica incapacitante e infertilidade.
Segundo dados disponibilizados por esse hospital do Porto, a doença afeta, 10 a 20% da população feminina em idade reprodutiva, sendo responsável por até um terço dos casos de infertilidade registados a nível nacional.
"É a primeira vez que um hospital universitário público realiza em Portugal uma ação destas, aberta tanto a profissionais de saúde como a utentes já diagnosticadas e até a mulheres saudáveis que suspeitam ser portadoras da doença ou só têm interesse pelo tema", declarou Hélder Ferreira, coordenador da Unidade de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva do Centro Hospitalar do Porto (que integra o Centro Materno-Infantil do Norte) e responsável pela equipa multidisciplinar que aí trata casos de endometriose em pacientes de todo o país.
"Este Dia Aberto é uma forma de alertarmos a população para uma doença que, mesmo entre a comunidade médica, ainda é pouco conhecida e constitui um problema de saúde pública", explica o ginecologista.
"Mesmo quando as mulheres detetam alguns sintomas, há um desconhecimento enorme entre os profissionais de saúde quanto à endometriose e os médicos menos informados tendem a atribuir a dor descrita pelas pacientes a efeitos do período menstrual", afirma.
O especialista alerta, contudo, que "é preciso desmistificar" essa ideia: "A dor durante a menstruação não é normal; se existe, é importante estudá-la, pois muito provavelmente terá origem na endometriose".
A sessão de esclarecimento anunciada para as 14h30 no Centro Materno-Infantil do Norte contará com a intervenção de médicos de diversas especialidades, até porque a doença em análise obriga habitualmente a uma "abordagem transversal" envolvendo não apenas os serviços de ginecologia, mas também os de urologia, cirurgia colo-rectal, radiologia, etc.
Hélder Ferreira realça que a endometriose é "uma das causas mais frequentes de internamento de ordem ginecológica" e refere que, não sendo diagnosticada atempadamente, essa patologia "pode ter consequências graves nos aparelhos reprodutivo, digestivo e urinário" - afetando também o normal desempenho sexual feminino.
A situação reveste-se de maior gravidade se se considerar que, "até há pouco tempo, ainda havia em Portugal poucos centros hospitalares com os recursos técnicos adequados para o diagnóstico da doença", pelo que uma considerável percentagem da população feminina poderá estar a sofrer da patologia sem disso ter o devido conhecimento.
"O Serviço Nacional de Saúde tem tentado dar melhor resposta ao problema, mas ainda há um longo caminho a percorrer e a sociedade civil precisa ter consciência disso", admite o especialista. "A mudança passará por aumentar a capacidade de resposta dos hospitais e por investir em equipamento, porque a realidade é que os tratamentos à endometriose implicam recursos adequados e tecnologia avançada", conclui.