Dia Mundial das Doenças Reumáticas

Intervenção precoce pode determinar remissão da Artrite Reumatóide

Atualizado: 
05/04/2019 - 10:25
No dia em que se assinala mundialmente as Doenças Reumáticas, António Vilar, reumatologista, fala-nos de Artrite Reumatóide, uma doença sem cura que afeta cerca de 50 mil portugueses, e da importância de uma intervenção precoce no tratamento de todas as patologias associadas.

“O FUTURO NAS TUAS MÃOS”

É com este lema que celebramos a 12 de outubro o dia mundial da artrite.

O objetivo é aumentar a visibilidade das doenças reumáticas e permitir ao publico em geral uma melhor compreensão do impacto das doenças reumáticas (DR) na vida das pessoas.

Pretendemos encorajar a partilha dos casos pessoais, da forma como convivem com as DR, como ultrapassaram os seus problemas profissionais , familiares e sociais por forma a encorajar os doentes reumáticos a viver com a melhor qualidade possível .

Procuramos o empoderamento do público em geral e dos doentes em particular, nas suas associações , em intervenções nas redes sociais e na vida pública.

No sector da saúde fazendo-se representar em todos os níveis de decisão e não apenas como meros espectadores das decisões que são tomadas sobre a sua saúde e sobre as suas vidas.

Aproveitem todas as oportunidades para AGIR e fazer a diferença na qualidade de vida dos doentes em Portugal.

TOMEM O FUTURO NAS VOSSAS MÃOS!

Este tem sido o exemplo da ANDAR associação nacional dos doentes com artrite reumatóide que há mais de 20 anos apoia os doentes com artrite reumatóide em Portugal.

Temos partilhado com os nossos doentes as grandes conquistas e descobertas no tratamento da artrite reumatóide (AR), e podemos mesmo dizer que nos últimos 15 anos, grandes avanços e progressos vieram modificar o prognóstico e a qualidade de vida na AR.

Os medicamento inovadores chegaram em 2000 e com eles uma nova oportunidade para os doentes com AR em Portugal. Em 2006 termina a discriminação no acesso aos medicamentos inovadores com o despacho de comparticipação.

As palavras de “resignação” e “não há nada a fazer” são hoje substituídas por “foi o melhor que me aconteceu na vida”, “pena não ter começado mais cedo” “ nem me lembro que tenho artrite”.

Mas ainda não é a cura! Na AR a remissão da doença sem medicamentos é ainda uma quimera, e mais de metade dos doentes que param os biotecnológicos (BT) vêm agravar a sua doença no prazo de 1 ano…

Noutras doenças reumática também surgem avanços. Na artrite associada á psoríase novos medicamentos inovadores vêm enriquecer a panóplia dos BT.

O Sekukinumab demonstra reduzir o dano estrutural após 1 ano de tratamento.

Na gota novos fármacos apareceram como alternativa ao alopurinol, para além do Febuxostat que tem mostrado eficácia e boa tolerância mesmo em doentes com insuficiência renal moderada a grave.

No Lúpus a remissão é possível após 3 anos em cerca de 1/5 dos doentes, mas recaídas podem ocorrer mesmo após 10 anos de remissão.

Novas enzimas (inibidores JAK) parecem tão eficazes como alguns BT.

Uma melhor compreensão pelos doentes do risco cardiovascular na AR, parece ser importante para além da correção dos fatores de risco conhecidos como a hipertensão e dislipidémia.

Novos marcadores de doença e fatores de risco são conhecidos na AR e fazem do diagnóstico precoce e do tratamento da artrite inicial uma vantagem no melhor prognóstico.

Na artrose a mais frequente doença reumática em todo o mundo, novos avanços são conhecidos e a imunologia começa a dar novas informações sobre a doença e esperamos os resultados dessas investigações.

Mas para além dos avanços mantém-se os cuidados do passado que vale a pena referir e insistir: os fatores de risco para a artrose são a idade…, o excesso de uso e traumatismos repetidos, os nossos genes e o excesso de peso nalgumas articulações de carga.

É possível intervir já nalguns deles pelo que a marcha, desde que não agrave os sintomas, (e uma alternativa são os exercícios em descarga ou dentro de água), a redução do peso que também é relevante no desencadear da diabetes e das alterações do colesterol, vão na direção de uma vida mais saudável, sem tabaco nem abuso de bebidas alcoólicas.

Na gota o controlo do peso e a DIETA são a base muitas vezes esquecida e ofuscada pelo aparecimento do Alopurinol. Os desmandos alimentares são ainda hoje uma causa de recidiva das crises agudas.

Uma boa parte das consultas de reumatologia são motivadas por manifestações músculo esqueléticas localizadas a que chamávamos inadequadamente de reumatismos justa articulares ou periarticulares.

Correspondem ás queixas localizadas ao cotovelo (epicondilite) também conhecida pelo cotovelo do tenista, do ombro com lesão dos tendões (tendinose/tendinite) , inflamação das bolsas (bursite) que podem ser muitíssimo dolorosas e incapacitantes. Também nas ancas podem ocorrer e imitar outras doenças crónicas ou ser uma manifestação inicial de um reumatismo inflamatório crónico.

Os quadros acima descritos aparecem também hoje associados ao trabalho e merecem a atenção da saúde ocupacional.

Estas e muitas outras (mais de 130) manifestações das Doenças Reumáticas  são bem conhecidas dos reumatologistas que devem ser consultados quando uma dor persiste para além das 4 semanas, ou sempre que um diagnóstico está em dúvida ou não surge resposta é terapêutica utilizada.

Autor: 
António Vilar - Reumatologista
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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