Estudantes de medicina vão às aldeias dar apoio médico aos idosos
A iniciativa "Aldeia Feliz", promovida pelo Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM), já vai na terceira edição e já foi possível, com o apoio da Câmara dos Arcos, resolver problemas relacionados com o acesso à saúde e melhorar as condições na habitação.
"Na primeira edição, realizada aqui no concelho dos Arcos de Valdevez, assinalámos cerca de 12 casos de isolamento grave de idosos, com problemas de habitação ou mesmo de saúde que não estavam controlados e hoje viemos a saber que todos os casos foram já resolvidos e estão a ser seguidos. É bom saber do retorno da nossa atividade e do impacto que tem na sociedade", contou à TSF João Dourado, presidente do NEMUM.
Este estudante do 4º ano de Medicina é um dos 26 futuros médicos que estão a participar na iniciativa que decorre até domingo em seis aldeias dos Arcos (Soajo, Cabana Maior, Cabreiro, Sistelo, Rio Frio e Senharei) e que pretende chegar a cerca de 200 idosos.
"Não tenha medo, somos muitos mas somos bons", vai avisando Maria Adelaide Cunha, uma das habitantes da aldeia de Vilar de Cabreiro, que se disponibilizou a abrir caminho aos jovens estudantes no acesso às casas dos mais idosos. Manuel Afonso, 74 anos, recebe-os no alpendre de casa, desfiando conversa sobre a vida na lavoura. "Tenho perto de 20 animais, na serra e aqui, e semeio umas territas para dar de comer aos animais e tirar umas batatas, couve, cebola", conta.
As visitas ao domicílio incluem rastreios cardiovasculares (medição da tensão arterial e da diabetes) bem como a avaliação das condições de habitabilidade e o grau de dependência.
João Dourado, estudante, vai preenchendo um formulário com notas sobre patologias já diagnosticadas, medicação habitual e hábitos alimentares. "Faço umas três refeições. Quando acordo tomo um bocado de leite, vou levar as vacas ao monte e quando venho, por volta das 10 horas, já almoço qualquer coisa. Às vezes, um bife, se houver, ou um pão com chocolate ou um bocado de queijo. Com uma malguinha de vinho a gente vai", relata.
Manuel Afonso é solteiro e vive sozinho na aldeia de Vilar de Cabreiros. "Tenho uma sobrinha mas ela está na casa dela e eu na minha". Não se sente sozinho? "Em casa sinto-me, mas lá fora não. Ando com os animais e o tempo não me rende. Mas encontro pessoas amiúde e distraio bem a minha vida", conta-nos.
Foram poucos os que resistiram à emigração e ficaram. Adelaide Cunha dá uma ajuda no que pode, na lavoura ou nas boleias até à vila, que fica a 16 kms e 25 minutos de distância. "Se tiverem que ir apanhar a camioneta, é uma meia hora a pé (até à paragem) e para eles não é fácil. Só de boleia ou de táxi", revela.