Diagnóstico precoce trava evolução da doença
O fígado é um órgão único, composto por células, os hepatócitos, correspondendo a inflamação, e, a eventual morte destas células, ao que genericamente se designa por hepatite.
Os processos inflamatórios, e morte celular, presentes numa hepatite condicionam a formação de vários graus de fibrose, sendo a cirrose, a forma mais avançada. Alguns doentes poderão desenvolver complicações graves da cirrose como a insuficiência hepática e o carcinoma hepatocelular.
As hepatites têm etiologias muito diversas podendo ser causadas por: produtos químicos, drogas (incluindo, aqui, alguns dos chamados medicamentos naturais), medicamentos, plantas, bactérias, vírus e tóxicos como, por exemplo e em particular, o álcool. Algumas doenças autoimunes, nas quais o sistema imunitário deixa de reconhecer as próprias células produzindo anticorpos contra elas, evoluem, muitas das vezes, também, com quadros de hepatite que apresentam graus de gravidade variável.
O diagnóstico precoce das hepatites é muito importante dado que a suspensão do agente causador e/ou o início de um de tratamento específico pode evitar a evolução para cirrose e para a insuficiência hepática.
Os vírus são agentes etiológicos relevantes, quer pela sua frequência, quer pela potencial gravidade, quer por questões epidemiológicas, de casos de hepatite.
São diversos os vírus que podem causar hepatite no decurso de doença sistémica, como por exemplo o Vírus da Febre Amarela, o Vírus do Dengue ou o Citomegalovírus.
Todavia, associamos à designação de hepatite vírica, a causada apenas pelos vírus que apresentam um tropismo preferencial para o fígado.
Assim, existem seis tipos diferentes de vírus da hepatite: Hepatite A, Hepatite B, Hepatite C, Hepatite D, Hepatite E e Hepatite G e, apesar de todos causarem hepatite, são muito diferentes entre si, por exemplo, o ponto de vista genético o Vírus da Hepatite C é muito mais similar ao vírus do Dengue do que a qualquer outro dos vírus da hepatite.
As hepatites virais são também infeções ou doenças muito diferentes entre si, com tratamentos e prognósticos específicos e distintos pelo que se torna imprescindível um acompanhamento médico especializado.
Coletivamente os Vírus das hepatites A, B e C correspondem a mais de 90% dos casos de hepatite viral a nível mundial.
Hepatites virais
A Hepatite A transmite-se de pessoa para pessoa, pela via fecal-oral, quando os alimentos ou a água estão contaminados, situação que é mais comum em países menos desenvolvidos devido às insuficiências nas redes de saneamento básico, e em crianças e adolescentes.
A Hepatite A pode corresponder apenas a uma infeção, assintomática, ou seja, sem manifestações de doença, num elevado número de casos. A infeção pela Hepatite A, confere imunidade protetora e não evolui para a cronicidade. Existe uma vacina eficaz, conferindo proteção superior a 80% após a primeira (das duas administrações que são preconizadas).
A Hepatite B apresenta múltiplas vias de transmissão possíveis: transmissão sexual, picada por agulhas contaminadas e transmissão vertical, de mãe para filho, incluindo durante o parto. O Vírus da Hepatite B apresenta uma elevada infecciosidade comparativamente a outros, como por exemplo o VIH.
O maior problema da infeção por este vírus reside nas elevadas taxas de evolução para a cronicidade, o que acontece em 5 a 10% dos casos. Nos casos em que a infeção é adquirida no período perinatal esta percentagem de evolução para formas crónicas pode ir até aos 90%.
Apesar de existirem, segundos dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 350 milhões de infetados, a prevalência em Portugal é muito reduzida e existe uma vacina, com eficácia superior a 80%, e, integrada no Plano Nacional de Vacinação.
A Hepatite C apresenta uma via de transmissão, através do sangue, preponderante, sendo a transmissão por via sexual muito reduzida.
A infeção pelo Vírus da Hepatite C é, habitualmente, assintomática ou com os doentes a apresentarem poucos sintomas em 75% dos casos, mas, por outro lado, com cerca de 80% dos doentes a evoluírem para infeção crónica e, dentre estes, cerca de 25% apresentarão evolução para cirrose em 20 a 30 anos após a infeção.
O vírus foi identificado há pouco mais de 25 anos, pelo que apenas atualmente começam a emergir os casos de complicações da infeção crónica.
Dos 170 milhões de infetados a nível mundial estima-se que existam 50 000 a 150 000 em Portugal.
Apesar dos esforços dos investigadores não existe qualquer vacina disponível.
Por outro lado, a investigação recente permitiu obter, nos últimos anos, medicamentos coletivamente designados agentes de ação direta (DAA, sigla em inglês), que representam um avanço muito importante, no tratamento destes doentes, por apresentarem taxas de “cura” em mais de 90% dos casos.
O vírus da Hepatite D, conhecido desde 1977, é um vírus defetivo (defeituoso) que apenas é viável como coinfecção ou superinfeção em doentes com infeção pelo Vírus da Hepatite B.
O Vírus da Hepatite E partilha semelhanças epidemiológicas com o Vírus da Hepatite A, sendo muito rara a ocorrência, atualmente, em Portugal. A sua principal importância reside nos casos em que a infeção ocorre durante a gravidez.
O Vírus da Hepatite G é o mais recentemente identificado (1995) pelo que, para além da transmissão por via sanguínea seja comummente aceite, há poucos dados científicos sólidos. Apresenta aparente evolução para a cronicidade em todos os infetados, mas com ausência de doença hepática associada.