Cuidar de um doente com Alzheimer
O cuidador do doente com Alzheimer
O papel do cuidador do doente com Alzheimer é extremamente importante, uma vez que assegura a satisfação das necessidades do doente e garante o fornecimento dos cuidados assistenciais. Além disso, é reconhecida a sua influência na redução dos problemas comportamentais e na deterioração das capacidades funcionais.
É normal que ao longo do tempo o cuidador sinta tristeza pela sensação de que a pouco e pouco vai perdendo alguém que lhe é muito querido. Sentirá também frustração, pois tem a consciência de que todos os seus cuidados, atenção e carinho não impedem a progressão da doença. Vai sentir culpa, pela falta de paciência que por vezes tem, pelo sentimento de revolta em relação ao próprio doente, pela situação que vive e por poder admitir a hipótese de procurar um lar.
Poderá também sentir solidão, pelo afastamento gradual da família e dos amigos, pela impossibilidade de deixar o doente, pela falta de convívio. Todos esses sentimentos negativos não significam que não seja um bom prestador de cuidados e de apoio. São apenas reacções humanas.
Por tudo isto, a tarefa de cuidar de um doente com Alzheimer é difícil e exige uma disponibilidade quase permanente, o que dá origem a que múltiplos factores contribuam para o desgaste do cuidador. Nesse sentido, frequentemente, o cuidador é ele próprio vítima de doença apresentando isolamento social, dificuldades psicológicas e até problemas financeiros. Nessa altura será necessário intervir junto do cuidador a diferentes níveis: apoio psicológico e assistência médica, educação e informação (através do médico assistente e associações de doentes) e apoio social.
Uma vez que são necessárias, diariamente, várias acções rotineiras para cuidar do doente com Alzheimer, sugere-se ao cuidador a adopção de diversas medidas para minimizar a fadiga física e psicológica.
Comunicação com o doente com Alzheimer
É normal o doente não encontrar as palavras que precisa para se expressar ou não compreender os termos que ouve. Assim, esteja próximo e olhe bem para o seu doente, olhos nos olhos, quando conversam e fale clara e pausadamente e num tom de voz nem demasiado alto nem demasiado baixo. Por outro lado, evite os ruídos (rádio, televisão ou conversas próximas) e mantenha uma atitude carinhosa e tranquilizadora, mesmo quando o doente parece não reagir às tentativas de comunicação e às expressões de afecto.
Minimizar os perigos do doente com Alzheimer
Andar sem saber para onde e com que objectivo é característico dos doentes de Alzheimer, a partir de uma determinada fase. Constitui um perigo uma vez que a memória do doente está afectada e não se lembra de coisas simples como o seu nome ou onde mora.
Se o doente quiser sair de casa, não deve impedi-lo de o fazer. É preferível acompanhá-lo ou vigiá-lo à distância e, depois, distraí-lo e convencê-lo a voltar a casa. Contudo, é importante que o doente tenha consigo algo que o identifique, por exemplo, uma pulseira com o nome, morada e telefone. Por outro lado, ajuda se prevenir os vizinhos e comerciantes próximos do estado do doente, uma vez que o podem ajudar em caso de o doente se perder. Em casa, feche as portas de saída para a rua, para evitar que o doente vá para o exterior sem que dê por isso. Tenha uma fotografia actualizada do doente, para o caso deste se perder e precisar de pedir informações.
Os cuidados diários do doente com Alzheimer
É normal o doente deixar de reconhecer a necessidade de cuidar da sua higiene pessoal e diária, como tomar banho, de lavar os dentes, etc. Não o obrigue e não complique, tente aguardar um pouco para que mude de "disposição”.
Tarefas como vestir-se podem, a certa altura, embaraçar o doente, ou mesmo recusar-se a fazê-lo. Para simplificar pode preparar as peças de roupa pela ordem que devem ser vestidas, evitar laços, botões, fechos de correr (substitua-os por velcro), sapatos com atacadores, etc. E, enquanto o doente tiver autonomia, deixe-o actuar conforme ainda pode. Procure elogiar o seu bom aspecto.
Na hora da refeição dê-lhe tempo para comer tranquilamente e não o contrarie se ele quiser comer à mão. Dê-lhe bocados pequenos de alimentos sólidos, ou se achar necessário pode optar por alimentos passados ou batidos. Deixe o doente sentado durante algum tempo após a refeição.
O doente com Alzheimer e a agressividade
Em certas fases da doença é normal que o doente se torne agressivo. Sente-se incapaz de realizar tarefas simples (vestir-se, lavar-se, alimentar-se), reconhece que está a perder a independência, a autonomia e a privacidade, o que é muito frustrante. A agressividade pode manifestar-se de diversas formas, tais como ameaças verbais, destruição de objectos que estejam próximos ou mesmo violência física.
Se possível, procure compreender o que originou a reacção agressiva. Não deve partir do princípio que o doente o quer agredir ou ofender pessoalmente, por isso, evite discutir, ralhar ou fazer qualquer coisa que se assemelhe a um castigo. Procure manter-se calmo, não manifeste ansiedade, medo ou susto. Fale calma e tranquilamente e procure desviar a atenção do doente para qualquer outra coisa. Por outro lado, não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente, deixe que o doente faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo, sem pressas e sem exigir a perfeição, não critique, antes pelo contrário, elogie (mas não exagere), ajude, mas de forma a não parecer estar a dar ordens e esteja atento a sinais que possam indiciar crise iminente e procure distrair a atenção do doente.
Seja como for, não tente lidar com tudo sozinho, uma vez que pode deprimir-se ou esgotar-se. Conheça os seus limites e procure ajuda e aconselhamento médico se não conseguir lidar com a situação.