Lancet Oncology publica:

Um sexto dos cancros a nível mundial deve-se a infecções

Um em cada seis casos de cancro são causados por infecções de bactérias ou vírus que, na sua maioria, poderiam ser evitadas. O estudo, com base em dados de 2008, foi publicado nesta quarta-feira, na revista Lancet Oncology, e mostra que é nos países em desenvolvimento que este problema é maior.

A nível mundial, em 2008 houve 12,7 milhões de casos novos de cancro, dos quais 2 milhões foram causados por infecções, ou seja, 16,1 por cento. Em números brutos, 1,6 milhões de casos, o equivalente a 80 por cento, ocorreram em países em desenvolvimento.

Nos países desenvolvidos – na Europa, América do Norte, Japão, Austrália e Nova Zelândia –, cerca de 7,4 por cento dos casos de cancro são devidos a infecções. No resto do mundo, os países em desenvolvimento, o número sobe para 22,9 por cento. Os extremos são a Austrália e a Oceânia com 3,3 por cento de casos e a África subsariana com 32,7 por cento. Na Europa, 7 por centodos casos de cancro foram causados por agentes patogénicos.

"Apesar de o cancro ser considerado uma doença não contagiosa, uma proporção significativa das suas causas são as infecções. Os paradigmas das doenças não contagiosas não são suficientes [para combater este problema]”, dizem Catherine de Martel e Martyn Plummer, da Agência Internacional de Investigação do Cancro, em França, autores do estudo.

O último trabalho que trazia uma análise do género foi publicado em 2002. Entre 2002 e 2008, a percentagem de cancros causados por infecções baixou de 17,8 para 16,1 por cento.

Os investigadores analisaram a incidência de 27 tipos de cancros em 184 países com base em estatísticas da GLOBOCAN 2008, um projecto da Organização Mundial de Saúde que analisou a percentagem de incidência, mortalidade e prevalência dos principais tipos de cancro. A partir destes dados, a equipa estimou a proporção dos casos que nas várias regiões mundiais podem ser provocados por infecções.

"Muitas das infecções relacionadas com o cancro podem ser prevenidas, particularmente aquelas que estão associadas ao vírus do papiloma humano (HPV), à bactéria Helicobacter pylori e os vírus da hepatite B e C (HBV e HCV)”, dizem os autores em comunicado. Estas quatro doenças são responsáveis por 1,9 milhões dos casos, que na sua maioria causam cancro do colo do útero, cancro gástrico do fígado, refere a equipa.

Num comentário escrito ao estudo, Goodarz Danaei, da Escola de Medicina Pública de Harvard, Estados Unidos, diz que a investigação mostra o potencial existente nos programas de vacinação e de terapias para evitar esta epidemia nos países em desenvolvimento. "Uma vez que existe uma vacinação eficaz e relativamente barata para o HPV e para o HBV, deve dar-se prioridade ao aumento da sua cobertura pelos sistemas de saúde dos países mais afectados.”

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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