Rastreio vai permitir consulta nos IPO em menos de um mês
Os 240 médicos dentistas que vão participar no programa de rastreio do cancro oral já foram seleccionados e a rede está pronta para arrancar assim que houver a luz-verde oficial. A ideia é que todo o processo demore menos de um mês, entre a primeira consulta com o médico de família ou o dentista que detectam a lesão suspeita, a biópsia que confirma o diagnóstico e a chegada dos casos positivos a um dos três Institutos Portugueses de Oncologia (IPO) do país.
O bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas explicou que o rastreio, que regra geral começa com uma avaliação de rotina feita pelo médico de família, “vai dar prioridade às pessoas com mais de 40 anos que sejam fumadoras e que bebam álcool em excesso”, por serem situações de risco para o desenvolvimento deste tipo de tumores que afectam a cavidade oral, dos lábios à garganta, incluindo as amígdalas e faringe.
Orlando Monteiro da Silva adiantou que a lista final dos 240 profissionais “calibrados especificamente para o programa” e que vão integrar a rede será entregue ainda durante esta sexta-feira à Direcção-Geral da Saúde, sendo que no total houve mais de 1100 candidatos. O despacho do Ministério da Saúde determina que oficialmente o rastreio arranca a 1 de Março, mas o bastonário afirmou que é preciso uma comunicação prática no sentido de poderem avançar no terreno, ainda que considere que na próxima semana os médicos já possam começar a sinalizar os doentes com lesões suspeitas.
Além do grupo de risco, sempre que o médico de família detecte uma lesão suspeita ou que o próprio doente apresente uma queixa, o cheque também será emitido e o utente pode ir à rede de dentistas seleccionados para ser avaliado e fazer uma eventual biópsia – já que ao contrário dos outros cheques relacionados com a saúde oral “a condição económica não é determinante”, disse Orlando Monteiro da Silva.
Se a lesão for detectada numa consulta particular com um dentista o doente pode também ser encaminhado para o médico de família, para que este ordene a emissão do cheque para biópsia. Orlando Monteiro da Silva adiantou que quando o exame confirma a existência de um cancro a informação é enviada para os IPO. Na biópsia será testada também a presença do vírus do papiloma humano (HPV), presente em alguns cancros orais e que pode levar a alterações no protocolo de cirurgia e de radioterapia a seguir.
Ao todo, entre o primeiro contacto com o médico e a chegada do doente ao IPO da área de residência para a primeira consulta deve passar no máximo um mês. “No caso de a lesão ainda ser pré-maligna o doente fica em vigilância e, em princípio, ao fim de seis meses repete a biópsia”, acrescentou o bastonário.
Principais sintomas
Alterações de cor, aumento de volume em alguma zona com presença de uma massa endurecida, feridas que não cicatrizam e dificuldade em engolir são alguns dos principais sinais de alerta, alertou Orlando Monteiro da Silva, que sublinhou que, muitas vezes, na primeira fase este tipo de cancro não dá dor, apesar de se estimar que mate 500 pessoas por ano em Portugal e de já estar entre os principais tumores malignos em termos de mortalidade. “O auto-exame é fundamental para se actuar a tempo, pois a detecção precoce aumenta a sobrevivência e permite até a cura”, acrescentou.
O rastreio insere-se no alargamento do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, que conta neste ano com um orçamento total de mais de 16 milhões de euros. Além dos anteriores cheques-dentista para diagnóstico, as pessoas passam agora a ter acesso até dois “cheque-biópsia” no valor de 50 euros e que o bastonário definiu como um “programa de saúde pública de vanguarda que permitirá a detecção precoce, melhorando o prognóstico” do doente. Ao todo a ideia é que neste ano sejam feitas 5000 biópsias a lesões suspeitas que serão analisadas no Ipatimup (Instituto de Patologia e Imunologia Molecular), no Porto.