As praias estão mais perigosas
A violência das tempestades e das ondas gigantes não levou só o areal de boa parte das praias da costa portuguesa. As mutações que aconteceram durante o Inverno foram tão profundas que transformaram as estâncias balneares mais tranquilas em ratoeiras para banhistas desprevenidos.
Frequentar as praias durante esta época balnear não é como em anos anteriores. Nem banhistas nem nadadores salvadores poderão confiar nas praias que já conhecem há muitos anos e que frequentam sozinhos ou com a família. Quase todas estão diferentes, conta o presidente do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN).
Os temporais de Inverno alteraram o perfil das praias marítimas e será impossível avaliar a dimensão dessas mudanças, adverte o comandante Nuno Leitão. Surgiram fundões no mar onde antes era possível pisar o chão, baixios em lugares inesperados ou menos areia nos locais próximos das zonas de rebentação. Isto significa cautelas a triplicar para todos: "Banhistas e nadadores-salvadores têm de ter consciência que os fundos do mar estão completamente alterados e que a atitude e o comportamento neste Verão terão de ser ainda mais viradas para a cultura da segurança."
Cumprir as ordens dos nadadores-salvadores é a primeira regra para os banhistas, diz o presidente do instituto. Da parte dos vigilantes também há recomendações: "Os nadadores-salvadores, mesmo que conheçam bem a praia que vigiam há muitos anos, terão igualmente de fazer um reconhecimento da estância e, naturalmente, redobrar os cuidados."
Perante o novo perfil das praias costeiras, Nuno Leitão diz que o Instituto de Socorros a Náufragos preparou uma megaoperação de sensibilização, envolvendo escolas secundárias e básicas ou iniciativas em todas as praias marítimas. Verão Campeão é a campanha que arranca em Junho e que inclui simulacros de salvamento ou actividades e workshops de educação sobre segurança nas praias.
Mas como toda a ajuda é pouca, o ISN decidiu este ano recorrer ainda à ajuda dos surfistas. O objectivo deste projecto é reduzir o número de afogamentos e ensinar os praticantes de surf que estão todos os dias nas praias, sozinhos ou em conjunto com os nadadores salvadores, a salvar quem corre perigo. A primeira fase deste programa passa por dar formação aos responsáveis das cerca de 60 escolas de surf do país, que depois irão ensinar as técnicas aos seus alunos.
A segunda etapa irá decorrer ao longo deste Verão com os surfistas veteranos a darem aulas aos aprendizes e praticantes habituais desta modalidade que estão nas praias: "Há 150 mil surfistas em Portugal e eles são sempre os primeiros a chegar e os últimos a deixar as praias. Por isso são também os que melhor conseguem alertar e reagir em situações de emergência."
Os cuidados porém não são apenas importantes a partir do arranque oficial da época balnear, entre 1 e 15 de Junho. Embora o início da vigilância nas praias do Algarve, Cascais e Oeiras tenham sido antecipadas para Maio, o comandante Nuno Leitão adverte para os perigos das estâncias nestas semanas em que o calor faz com que boa parte dos banhistas corra para as praias, muitas delas ainda sem vigilância: "As pessoas estão ávidas de sol e mar, mas devem estar conscientes de que o mar ainda apresenta características de Inverno, sendo ainda perigoso frequentá-las sem precauções."
Apesar das adversidades de um Inverno atípico, as bandeiras portuguesas ultrapassam pela primeira vez a marca dos 300 galardões atribuídos este ano a 298 praias, das quais 18 fluviais, e a 17 marinas. Na comparação entre 2013 e 2014, houve uma subida de cerca de 8% nos galardões atribuídos a praias, já que se passou de 277 para 298 estâncias. Nas marinas a subida foi de 21%.
Albufeira, no Algarve, é o concelho que bate todos os recordes, com 22 praias distinguidas este ano pela Associação Bandeira Azul, mas Vila Nova de Gaia, na Região Norte, está igualmente entre os municípios com mais galardões e com as suas 18 praias todas elas distinguidas. A proeza põe este concelho à frente da esmagadora maioria dos municípios algarvios.