Pela primeira vez

Portugueses estão a estudar impacto ambiental de aterros urbanos

341 antigas lixeiras existentes em Portugal mantêm “montanhas” de resíduos em degradação. Investigadores vão estudar o seu impacto ambiental.

A Universidade de Coimbra (UC) está a desenvolver uma investigação sobre o potencial de “contaminação química e toxidade nos solos e nos cursos de água” e efeitos na biodiversidade dos antigos aterros de resíduos urbanos.

A investigação, que constitui “o primeiro grande estudo” a nível europeu sobre a matéria, envolve dez especialistas da UC, em parceria com a LIPOR (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto), “entidade que tem vindo a desenvolver um trabalho pioneiro na área de recuperação dos passivos ambientais”.

As 341 antigas lixeiras existentes em Portugal, “apesar de encerradas e seladas”, acondicionam ‘montanhas’ de “resíduos em degradação”, num “processo que pode durar várias décadas”, sublinha a UC numa nota hoje divulgada.

“Continuam, assim, a ser produzidos lixiviados (contendo um verdadeiro cocktail de contaminantes) e libertado biogás, desconhecendo-se se existem perigos efectivos das antigas lixeiras para a saúde humana e para o ambiente”, adverte a mesma nota.

Na expectativa de “mudar esta realidade”, uma dezena de investigadores do Instituto do Mar (IMAR) da UC, de áreas tão diversas como ecotoxicologia de solo e aquática, microbiologia, ecologia animal, biodiversidade e conservação, estão a realizar “o primeiro grande estudo europeu na matéria”.

 

Legislação desajustada

A investigadora principal do projecto-piloto, Sónia Chelinho, considera que “a actual legislação relativa aos aterros sanitários está desajustada, porque a monitorização exigida” se baseia “apenas na recolha, caracterização físico-química e tratamento dos lixiviados, do biogás emitido e das águas subterrâneas, registando uma lacuna ao nível da componente biológica”.

A avaliação da qualidade ambiental baseada “apenas em análises químicas não indica qual a fracção da substância que poderá afectar negativamente os organismos, nem informa sobre as consequências para os ecossistemas da existência de misturas de potenciais poluentes”, salienta a investigadora.

A inclusão da componente biológica/ecológica nos programas de monitorização das antigas lixeiras e aterros encerrados é essencial para obter uma visão mais realista dos potenciais impactos ambientais, sustenta a especialista.

O estudo, que tem por objectivo “avaliar o impacto ambiental nestas áreas e produzir informação que leve à implementação de novas práticas de avaliação e monitorização das antigas lixeiras”, colmatará, assim, “uma lacuna ao nível nacional e europeu”, ao propor um quadro de monitorização a longo prazo.

Esse quadro de monitorização integrará “um conjunto de ferramentas teste com a melhor relação custo-benefício, assim como a proposta de um conjunto de medidas que promovam a recuperação dos ecossistemas”, adianta Sónia Chelinho.

A investigação contempla a avaliação da “potencial contaminação química e toxicidade nos solos e nos cursos de água das zonas circundantes”, assim como “a avaliação da biodiversidade de vertebrados, nomeadamente mamíferos, aves e répteis, e de invertebrados de solo”, sintetiza a UC.

 

Fonte: 
Sapo Saúde
Nota: 
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