Portugueses consumiram três milhões de Omeprazol
Dados da Consultora IMS Health, a que a Lusa teve acesso, revelam que no ano passado foram consumidas 2973591 unidades de omeprazol, no valor de 13,44 milhões de euros.
Nos últimos anos tem-se assistido a um crescimento acentuado do consumo deste fármaco, de tal forma que, em 2008, a autoridade que regula o sector (Infarmed) decidiu investigar o seu “consumo excessivo”.
Apesar deste aumento - o crescimento abrandou em 2010 - o valor gasto na compra destes fármacos baixou significativamente, passando de 77153835 euros por 2407520 unidades, em 2007, para 13447694 euros por 2973591 unidades, em 2013.
A diminuição do preço, associado a um desconhecimento sobre as verdadeiras indicações deste fármaco, bem como os riscos que podem resultar de uma toma prolongada, são razões apontadas por gastrenterologista Hermano Gouveia para o aumento deste consumo.
Este dirigente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) disse que a organização está atenta a este fenómeno e que há algum tempo estuda o seu impacto na saúde, sempre que a toma não tem justificação clínica.
“É um medicamento seguro, mas que está a ser sobreutilizado”, disse, afirmando que há quem o use como protector gástrico quando estão a tomar outros fármacos, mas sem necessidade, pois nem todos os medicamentos são lesivos para a mucosa do estômago.
Além disso, acrescentou, o facto de este fármaco ser um protector gástrico não significa que seja esta a sua indicação médica e muito menos como minimizador de efeitos associados a indisposições gástricas.
Um estudo recentemente publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos atribuiu à ingestão prolongada deste fármaco e de outros semelhantes uma carência da vitamina B12.
A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65% de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12, que tem um papel importante na formação de novas células, do que os que não ingeriram o fármaco.
Confrontado com este estudo, o Infarmed indicou que “a possibilidade de redução da absorção da vitamina B12 em terapêuticas a longo prazo com omeprazol foi já identificada há vários anos, especificamente actualizada na informação do medicamento desde procedimento de arbitragem a nível europeu em 2010”.
“O omeprazol, como todos os medicamentos bloqueadores de ácido, pode reduzir a absorção de vitamina B12 (cianocobalamina) devido a hipo- ou acloridria. Isto deve ser considerado em doentes com reservas orgânicas reduzidas ou factores de risco para a absorção reduzida da vitamina B12 na terapêutica a longo prazo”, lê-se na informação de um destes fármacos.
Além desta carência vitamínica, Hermano Gouveia refere outros riscos da toma prolongada de omeprazol, como a osteoporose ou o retardamento de diagnósticos graves, por estes estarem “disfarçados” com o efeito do fármaco.
O especialista alerta ainda para o risco acrescido de infecções e, logo, maior incidência de sintomas como diarreias.
Para Hermano Gouveia, o medicamento pode e deve ser utilizado, mas desde que prescrito por médico após avaliação clínica e nunca por iniciativa da pessoa.
A este propósito, lembrou que, apesar de o omeprazol ser um medicamento de receita médica obrigatória, pode ser adquirido sem necessidade de prescrição em doses mais baixas, o que não diminui o risco.