Número de celíacos aumenta mas comida sem glúten é mais cara
Um cabaz com vários produtos “proibidos” a quem não pode consumir glúten, elaborado a propósito do dia internacional dos celíacos - que se assinala na sexta-feira -, mostra que, em média, os alimentos custam 132% mais do que se tiverem essa proteína.
O cabaz inclui um pacote de bolachas, farinha para pão, farinha, massa, esparguete, pão de forma, cereais e queques, sendo que dois destes produtos custam mais do triplo no cabaz apto para doentes celíacos.
Um pacote de farinha “normal” selecionado custa 0,83 euros, enquanto um sem glúten fica por 3,07 euros, ou seja, mais 269%.
No caso do esparguete, um pacote “normal” ronda os 0,58 euros, menos 265% do que os 2,12 euros que custa uma embalagem deste alimento para celíacos.
“Há produtos em que se pode atingir três vezes a diferença de preço”, explicou Mafalda Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Celíacos (APC), lembrando que há “uma panóplia de coisas” que se podem comer exactamente iguais à alimentação de uma pessoa não intolerante.
Mafalda Carvalho adiantou que focar a atenção no preço de um cabaz de produtos sem glúten pode ser “desmotivador” para um celíaco e defendeu que, para ultrapassar a situação, deve fazer-se alimentação saudável e variada.
“Não precisamos de estar todos dos dias a comer massas ou fazer bolos sem glúten. Podemos comer peixe, arroz, carne, fruta, legumes, leguminosas, como qualquer outra pessoa”, sublinhou.
A Doença Celíaca (DC) é uma doença autoimune crónica, que afecta indivíduos com predisposição genética, causada pela permanente sensibilidade ao glúten que, ao ser ingerido, provoca lesões na mucosa do intestino e origina uma diminuição da capacidade de absorção dos nutrientes.
O único tratamento para a doença celíaca – que normalmente surge entre os seis e os 20 meses - é uma dieta isenta de glúten.
Nas crianças, os sintomas mais comuns são diarreia ou prisão de ventre crónica, vómitos ou distensão abdominal. Nos adultos, são anemia e aftas recorrentes, alterações dermatológicas, irritabilidade e cansaço crónico.
A dieta sem glúten tem-se tornado uma moda na sequência da sua adopção por várias actrizes que queriam emagrecer, facto que não desmoralizada a responsável, antes pelo contrário.
“Para nós é óptimo. Obviamente que, ao lado disso, passam mensagens erradas, quando dizem que comer sem glúten emagrece, mas isso não está de todo cientificamente provado. Há muitos gastroenterologistas que contestam estas dietas, dizendo que as pessoas devem fazer uma alimentação variada”, explicou.
Mafalda Carvalho admitiu, no entanto, que o preço dos produtos sem glúten poderá beneficiar desta nova moda, já que passa a haver mais consumidores de um “produto de nicho de mercado” que, pelas suas exigências de fabrico, é mais caro.
Nos últimos anos houve um aumento exponencial de marcas (mesmo as brancas) que disponibilizam alimentos sem glúten, o que levou à descida do preço de alguns produtos”, atestou.
Quanto à comunidade médica, Mafalda Carvalho considera que os gastroenterologistas estão “mais despertos e mais atentos”, salientando que “há muito mais pessoas a serem diagnosticadas ultimamente, quer na pediatria, quer na gastroenterologia adulta”.
No entanto, a responsável da APC explica que ainda “há muito trabalho a fazer” com os médicos de família, sobretudo aqueles que estão mais longe dos grandes centros urbanos.
“Cada vez mais há doentes que vão parar à gastroenterologia, vindos da reumatologia, da endocrinologia e também psiquiatria. Pessoas com elevada irritabilidade e instabilidade emocional, não havendo causa aparente para tal, e depois percebe-se que são doentes celíacos”, avançou.
A doença celíaca afecta entre 1 e 3% dos portugueses, estando 10 mil casos referenciados, pelo que especialistas consideram que a patologia é subdiagnosticada já que poderão existir cerca de 100 mil celíacos “anónimos”.