Estudos concluem:

Mulheres têm menos acidentes mas estão mais sujeitas a doenças profissionais

As mulheres têm menos acidentes de trabalho mas estão mais sujeitas a doenças profissionais e à dificuldade do seu reconhecimento revelam vários estudos.

“Os homens são mais vítimas de acidentes de trabalho, mas as mulheres têm, pelo tipo de exposição a certos riscos, mais doenças profissionais. Os dados estatísticos nacionais e europeus mostram claramente esta diferença”, adiantou Marianne Lacomblez, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto e coordenadora do Seminário “Eles e Elas no emprego e no trabalho: questões de justiça e de saúde”.

Em causa estão “lesões músculo esqueléticas” provocadas por “trabalhos repetitivos” e ainda “dificilmente reconhecidas pelas empresas”, pelo que o objectivo do encontro na Faculdade de Psicologia é reunir profissionais de várias áreas em torno desta abordagem “pouco trabalhada e valorizada” da desigualdade de género, explicou a docente.

“O problema maior é que existe um estereótipo que diz que as mulheres têm trabalhos com menos arriscados. Não é verdade. Não são os mesmos riscos, mas também há riscos importantes no trabalho das mulheres. Isso vê-se também com as doenças”, alertou Laurent Vogel, responsável pela investigação sobre temas de saúde laboral do Instituto Sindical Europeu (ETUI -- European Trade Union Institute).

O representante do ETUI explica que, analisando as doenças das trabalhadoras, se encontram “muitas coisas relacionadas com o seu trabalho", nomeadamente “muitos transtornos músculo esqueléticos”. “Estamos a falar de dores ou patologias das articulações devido a movimentos repetitivos. É muito comum nas trabalhadoras”, descreveu.

De acordo com Laurent Vogel, “muitas vezes as instituições negam” as doenças femininas. “Reconhecem mais facilmente a doença de um homem que trabalhou na construção civil do que de uma enfermeira ou trabalhadora da limpeza”, afirmou.

“A tendência geral na Europa é que a divisão de trabalho entre homens e mulheres nunca é neutra. Essa divisão significa, em geral, uma invisibilidade dos problemas de saúde das mulheres. E isso significa menos prevenção para as mulheres”, vincou.

Também Marianne Lacomblez alerta que, para elas é “particularmente difícil dar a ver os riscos que correm e avançar com os processos de declaração de doença profissional”.

“Os casos de reconhecimento de doença profissional são inferiores à realidade”, afiançou.

Daí a realização de um seminário com o objectivo de “reunir pesquisadores, docentes, estudantes e representantes de organizações sindicais e profissionais da área da saúde ocupacional que pretendem estar mais atentos à exposição diferenciada dos homens e das mulheres aos riscos profissionais”, esclareceu Marianne Lacomblez.

“Temos sobretudo homens no sector da construção civil e mulheres na indústria ou sectores que recorrem a um trabalho repetitivo, com ritmos intensivos que provocam lesões músculo esqueléticas”, descreveu.

Fonte: 
RTP Online
Nota: 
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