Mulheres autistas são mal diagnosticadas
O projecto internacional dá pelo nome de “Autism in Pink”, foi financiado pela União Europeia e decorreu durante quatro anos, coordenado pela Sociedade Nacional de Autismo do Reino Unido e com a participação das organizações Edukacinai Projektai, da Lituânia, a Autismos Burgos, da Espanha, e a Federação Portuguesa de Autismo.
O principal objectivo deste projecto foi estudar as mulheres com autismo, as suas necessidades e competências, ajudando-as a ultrapassar as suas dificuldades.
No decorrer do projecto foi reconhecido “ser norma” que os diagnósticos são feitos de forma tardia nas mulheres, algo provavelmente explicado pelo facto de esta ser uma doença que afecta maioritariamente homens.
Segundo a investigadora Judy Gould, da Sociedade Nacional de Autismo do Reino Unido, o diagnóstico tardio é consequência da “natureza escondida” do autismo entre as mulheres, defendendo, por outro lado, que o diagnóstico é o ponto de partida para dar o apoio adequado e necessário a estas mulheres.
A mesma investigadora aponta que a prevalência do autismo é de 1 para cada 100 pessoas e que as investigações mais recentes dão um rácio masculino/feminino de 1,4 para 1 e 15,7 para 1, mas defendeu que “há um forte desvio de género em relação ao diagnóstico de rapazes”.
Por outro lado, Judy Gould sustenta que um diagnóstico atempado “pode evitar as dificuldades que as mulheres e raparigas sofrem durante a sua vida”, ao mesmo tempo que ajuda na avaliação das necessidades ao nível da educação, lazer, residência, relações sociais ou emprego.
A investigação mostrou que “o estereótipo masculino ensombrou o problema do diagnóstico” feminino e revelou também que enquanto os rapazes autistas são mais hiperactivos e agressivos, as raparigas são mais passivas e recolhem informação mais das pessoas do que das coisas.
“Os sistemas correntes não dão exemplos dos tipos de dificuldades mostrados pelas raparigas e mulheres e não são bons para reconhecer os sintomas do autismo nas raparigas e mulheres”, uma vez que “os métodos usados para diagnosticar estão desviados para a apresentação masculina da condição”, revela a investigação.
O estudo internacional defende que as dificuldades centrais são semelhantes tanto em homens como em mulheres com autismo, apesar de a forma como o autismo afecta cada individuo ser altamente variável.
Especificamente em relação às características das mulheres com autismo, o “Autism in Pink” mostra que são mais competentes para “cumprir ações sociais por imitação atrasada”, são mais conscientes e sentem necessidade de interagir socialmente.
Por outro lado, são socialmente mais imaturas e passivas do que os colegas sem autismo, na escola primária são mais “protegidas” pelas colegas, mas são normalmente vítimas de “bullying” na escola secundária.
Segundo esta investigação, as raparigas “têm capacidades linguísticas superiores à dos rapazes”, mas têm pouco conhecimento da hierarquia social e de como comunicar com pessoas de diferente estatuto.
Mostra também que elas “têm melhor imaginação” e “mais capacidade de jogo simbólico”, mas às vezes têm dificuldade em separar a realidade da ficção.
Estes e outros resultados serão apresentados sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no decorrer da apresentação do projecto “Autism in Pink”.