Doenças atribuídas a ansiedade podem encontrar explicação no intestino
Este é um dos temas que dominará o Congresso da Semana Digestiva da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, que decorre até sábado no Estoril.
"Muitas das perturbações do nosso organismo que têm sido atribuídas a factores como o ambiente, os hábitos de vida ou o stress são muito mais influenciadas pelo ambiente microbiológico do tubo digestivo e não tanto pelos factores a que atribuíamos responsabilidade", explicou o presidente da Sociedade de Gastrenterologia, Leopoldo Matos.
Até a obesidade pode estar relacionada e ser influenciada pelas alterações do ecossistema microbiano que habita o intestino humano -- a microbiota.
Modificações na microbiota estão actualmente a motivar a curiosidade e investigação da comunidade científica e surgem como estando cada vez mais associadas a distúrbios intestinais como a doença inflamatória do intestino, doença celíaca ou doenças metabólicas.
Na Semana Digestiva que tem início hoje [4 de Junho], as doenças do fígado são outros dos assuntos em destaque, em particular a nova medicação contra a hepatite C.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia frisou que os novos fármacos “garantem, pela primeira vez, uma eficácia muito perto de 100%, o que significa a erradicação do vírus do organismo infectado”.
Outra das características da nova medicação é a ausência de efeitos secundários significativos.
A autoridade do medicamento em Portugal ainda não aprovou o uso do novo fármaco para a hepatite C, que tem sido reclamado de forma insistente pelas associações de doentes e até pela Ordem dos Médicos.
Leopoldo Matos lembrou que as dificuldades de acesso à nova terapêutica são "um problema universal e não exclusivo de Portugal", indicando que o preço dos novos medicamentos é “inatingível”, na maioria das economias nacionais, para o número de doentes infectados com hepatite C. Contudo, o especialista recordou que as sociedades científicas têm criado regras rigorosas que permitem avaliar os doentes que mais cedo precisam das novas moléculas de tratamento.
“Não é paradigma da comunidade médica discutir o preço ou os modelos de financiamento [dos fármacos]. Entendemos que o caminho que os governos financiadores e a indústria [farmacêutica] devem fazer é o de um encontro de interesses e objectivos. Da parte médica, qualquer terapêutica com a qualidade e eficácia da que estamos a falar, desejamos sempre que seja para ontem”, declarou o presidente da Sociedade de Gastrenterologia.