Crianças obesas têm mais hipóteses de continuarem obesas
Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine com mais de 7 mil crianças revelou que um terço das crianças que tinha excesso de peso quando entravam no jardim-de-infância continuava obesa quando chegava ao 8º ano de escolaridade.
Também quase a totalidade das crianças que era muito obesa permanecia com o peso bem acima do considerado saudável nesse mesmo período.
Algumas crianças obesas ou acima do peso analisadas no estudo perderam o excesso do peso e outras de peso normal tornaram-se obesas ao longo dos anos. Mas a probabilidade de que uma criança obesa continue acima do peso com o passar do tempo é maior.
«A mensagem principal é que a obesidade é estabelecida muito cedo na vida, e que, basicamente, continua também na adolescência e na idade adulta», diz Ruth Loos, professor de medicina preventiva da Icahn School of Medicine, em Nova Iorque.
Esse resultado, surpreendente para muitos especialistas, surgiu a partir de um estudo que rastreou o peso corporal de crianças por anos, do jardim da infância até ao oitavo ano. Segundo os investigadores, isso remodela iniciativas de combate à epidemia de obesidade e sugere que os esforços devem começar mais cedo e serem focados em crianças com maior risco.
Os resultados não explicam por que isso ocorre. Predisposições genéticas e ambientes que estimulem as crianças a comerem mais são algumas das razões apontadas por especialistas.
Mas os resultados fornecem uma possível explicação do porquê muitos dos esforços feitos para que as crianças percam peso muitas vezes não surtem efeitos. A explicação pode estar no facto de que muitas campanhas de combate à obesidade foquem-se em crianças em idade escolar, ao em vez de começaram antes, em crianças matriculadas no jardim da infância e já com problemas de peso.
Estudos anteriores já relacionaram a obesidade à idade de crianças, mas não se o peso delas mudavam com o passar do tempo. Embora importantes para documentar a extensão da obesidade infantil, essas pesquisas deram um quadro incompleto de como a condição se desenvolve, disseram pesquisadores.
“O que é surpreendente é a diminuição relativa na incidência após essa explosão inicial da obesidade, que ocorre aos 5 anos de idade”, explica Jeffrey P. Koplan, vice-presidente do Emory Global Health Institute, em Atlanta. “É quase como se o estudo dissesse que, caso você consiga chegar ao jardim da infância sem aumento de peso, as hipóteses de não se tornar obeso são imensamente maiores”.
O estudo considerou 7.738 crianças de uma amostra nacionalmente representativa. Os cientistas mediram a altura e o peso dos participantes sete vezes, do maternal até ao oitavo ano.
Quando as crianças entraram jardim-de-infância, 12,4% eram obesas e 14,9% estavam acima do peso. No 8º ano de escolaridade, 20,8% eram obesas e 17% estavam acima do peso. Metade das crianças que era obesa no jardim-de-infância permanecia obesa quando chegava ao 8º ano e quase 3/4 dessas crianças que eram muito obesas permaneciam obesas por essa altura.
O risco de que uma criança obesa no jardim-de-infância também se torne obesa no 8º ano é quatro vezes maior que o de crianças com peso normal, conclui o estudo.
Raça, etnia e rendimentos familiares foram variáveis importantes para a definição do peso em crianças mais novas, mas no momento em que as crianças com excesso de peso chegavam aos 5 anos de idade, esses factores não afectavam o risco de aumentar de peso nos anos seguintes.