Alternativa ao tabaco

Cigarros electrónicos vendem glamour mas têm riscos

Médicos dizem que os cigarros electrónicos não estão regulamentados. Reforçam que não serve para deixar o vício, senão teria de ser considerado medicamento.

Quem os comercializa defende que são uma forma mais saudável de fumar. Têm sabor a maçã, menta, Coca-Cola, mojito, caramelo. São ainda objectos estranhos na paisagem comercial portuguesa as lojas de venda de cigarros electrónicos mas quem lá trabalha diz que começam a ter cada vez mais adeptos daquilo que os fabricantes designam por “o novo paradigma de fumar”, notícia o Público Online.

Os médicos alertam para os muitos perigos dos cigarros que querem passar uma imagem de glamour, de não fazerem mal à saúde e até de ajudarem a deixar de fumar.

É uma alternativa segura aos cigarros tradicionais”, é este o argumento dos fabricantes e vendedores afirma João Rebelo, director comercial da Why Not, a loja de cigarros electrónicos.

 

Mas o que é afinal um cigarro electrónico?

É um dispositivo electrónico que junta uma cápsula onde é colocado um líquido, contendo nicotina, que, ao ser consumido, produz um vapor que imita o fumo. Tem uma bateria e um carregador que se liga à corrente, tal como um telemóvel. Existem para vários preços mas há kits que começam nos cerca de 30 euros e podem ir até aos 80. E depois há os líquidos que têm que se continuar a comprar e uma panóplia de acessórios, desde a bolsinha ao objecto onde pode ficar pousado.

Os fabricantes reforçam que o tabaco tem mais de quatro mil substâncias e que os cigarros electrónicos pouco mais incluem do que nicotina. De fora ficam as mais perigosas e cancerígenas, como o alcatrão e o monóxido de carbono, repete-se nos vários sites portugueses que comercializam o produto.

“Eventualmente podem ter menos riscos para a saúde, mas não libertam da dependência”, alerta o coordenador regional do programa de prevenção e controlo do tabagismo da região Norte, Sérgio Vinagre. O médico sublinha que nunca poderá ser visto como um instrumento para deixar de fumar, como se tenta fazer passar. “Os fins médicos devem ser devidamente fundamentados, com dados clínicos e científicos, e esses dados têm que ser submetidos às autoridades competentes para avaliação”, diz, citando uma circular da Autoridade Nacional do Medicamento - Infarmed sobre o produto.

Sérgio Vinagre lembra que não está sujeito a qualquer controlo de qualidade, de avisos para a saúde, não paga impostos, “e pode ser uma forma de iniciação no vício de fumar, nomeadamente para os jovens”. O responsável critica o facto de estes cigarros serem vendidos “como se fossem um produto de luxo, de glamour e que parece que até faz bem”.

A coordenadora da comissão de tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Ana Figueiredo, recorda que a introdução dos cigarros light e slim, anunciados como tendo menos nicotina, também pretendia diminuir o consumo, mas muitas vezes as pessoas acabam por fumar mais ainda. A pneumologista faz consultas de cessação tabágica e diz que não conhece ninguém que tenha deixado de fumar com e-cigarros ou sequer que tenha abandonado os cigarros tradicionais. Lembra que o tabaco é a principal causa de morte evitável no mundo, não só devido ao cancro mas também a doenças respiratórias e cardiovasculares.

Há uns anos, recorda, surgiram no mercado uns inaladores de nicotina que eram parecidos com os e-cigarros e que, tal como métodos como os pensos ou as pastilhas, se destinam apenas a evitar a síndrome de privação da nicotina. Mas percebeu-se que com o seu uso era muito difícil às pessoas cessarem o hábito, uma vez que se perpetuava “a dependência física de levar o cigarro à boca, prolongava o gesto” e os médicos abandonaram-no como método de cessação tabágica. Na opinião da médica, a venda de e-cigarros “é um retrocesso imenso na luta contra o hábito”, cujo grande objectivo “é a cessação tabágica, não é a sua substituição”.

Uma das vantagens apresentada por quem comercializa este produto é precisamente “a liberdade”: não está abrangido pelas restrições legais de fumar em espaços públicos. O mesmo é verdade para a venda a menores.

Todas as limitações ao tabaco na lei portuguesa não se aplicam ao cigarro electrónico, confirma a directora do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, Emília Nunes. Para ser abrangido pela legislação este tipo de cigarro teria que conter tabaco, ou seja, teria que incluir folha de tabaco. O tabaco tem mais de quatro mil substâncias, explica a mesma responsável, e os cigarros electrónicos contêm apenas uma delas, a nicotina (assim como aromas). Sendo de 2008, a lei portuguesa é anterior ao seu surgimento, uma vez que os e-cigarros só estão à venda em Portugal há tem cerca de dois anos. O vazio legal também existe nos outros Estados-membros da União Europeia, refere Emília Nunes.

Para criar um quadro legal que se aplique a todos os países da União, a Comissão Europeia aprovou uma directiva no mês passado. Mas só quando o processo legislativo terminar poderá ser transposta para Portugal, o que deverá acontecer este ano, explica ainda a directora do Programa Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo. Quando isso acontecer, os e-cigarros, como também são conhecidos, passarão a ter que obedecer a várias regras, nomeadamente a obrigatoriedade de explicitarem os seus ingredientes, assim como terem que incluir avisos sobre os seus malefícios para a saúde, tal como acontece com os maços de tabaco. Passará também a haver regras em relação à publicidade.

Fonte: 
Público Online
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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