Cientistas põem ratos 'a correr' para avaliar benefícios cardíacos
Um grupo de investigadores da unidade de investigação Química Orgânica, Produtos Naturais e Agroalimentares (QOPNA) da Universidade de Aveiro (UA) tenta perceber como o estilo de vida activo regula a função cardíaca, através de uma abordagem inovadora: a proteómica. Recorrendo a modelos animais, o grupo concluiu que, com o exercício físico, os níveis de algumas enzimas aumentam nas mitocôndrias do coração, tendo um efeito cardioprotector.
Utilizando um modelo animal de rato submetido a um programa de exercício físico moderado em tapete rolante, durante 54 semanas (o protocolo mais longo já estudado em modelos animais), Francisco Amado, Rita Ferreira, Rui Vitorino, António Barros e Ana Padrão, investigadores do grupo de espectrometria de massa do QOPNA, analisaram mitocôndrias isoladas do coração com recurso à proteómica.
“Os resultados obtidos demonstraram que o exercício físico moderado realizado ao longo da vida tem efeitos benéficos pelo aumento dos níveis de enzimas específicas, com resultados positivos na actividade mitocondrial cardíaca. A activação destes processos biológicos parece estar associada ao efeito terapêutico do exercício físico na prevenção e tratamento de doença”, explicou Rita Ferreira.
Entre as enzimas identificadas e validadas, utilizando diferentes técnicas, como determinantes do efeito cardioprotector, estão a RAF e a p38.
Na sequência desse estudo, ratinhos com cancro estão também a ser submetidos a um programa de exercício físico em tapete rolante, para verificar se os mecanismos moleculares recentemente identificados intervêm com benefícios para a função cardíaca.
“Pretendemos ver se, após o diagnóstico, a prática de exercício físico melhora a função cardíaca e se os mesmos mecanismos moleculares influenciam a função cardíaca no doente”, acrescentou a investigadora.
O trabalho de investigação pressupõe a análise de proteínas utilizando técnicas de espetrometria de massa (proteómica) e está a ser realizado com a colaboração técnica do Instituto CRG - Barcelona, na análise de proteínas, e da Universidade do Porto e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), na avaliação hemodinâmica e na implementação do modelo animal.
O estudo foi já capa da revista científica Journal of Proteome Research e destacado em páginas de difusão científica como ScienceDaily, MedicalXPress e ScienceNews.