Centro Materno-infantil inaugurado pelo “governo que o quis sabotar”
O Centro Materno-Infantil (CMIN) foi esta terça-feira finalmente inaugurado após uma espera de mais de 30 anos, desde que foi inicialmente idealizado. “É uma ironia ter sido inaugurado pelo Governo que o quis sabotar e que tanto fez para impedir a sua construção tentando sempre protelar. Agora deu jeito, compreendo, para cumprir calendário eleitoral”, disse o vereador da Habitação e Acção Social na Câmara do Porto e ex-secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro.
Também o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Porto (CHP), Sollari Allegro, lamentou as dificuldades vividas até à abertura do CMIN. “Até aqui o caminho não foi fácil e foi posto em causa por pequenos poderes. Houve boatos e maledicências vindos de outras unidades que se sentiram ameaçadas”, referiu o médico na abertura da unidade, junto à Maternidade Júlio Dinis, numa cerimónia que contou com a presença do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, do ministro da Saúde, Paulo Macedo, e do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.
Os governantes foram apupados à entrada por cerca de 30 manifestantes que, com cartazes, pediram a demissão do Governo. Aliás, perto da maternidade mantém-se um cartaz do PS onde se lê: “CMIN: este Governo não queria, mas o Porto venceu!”.
Manuel Pizarro, que também esteve presente e que enquanto governante desbloqueou a construção da obra que custou mais de 50 milhões de euros, diz que foi, apesar das criticas, um “dia de festa para todos os portuenses”. Esta foi, porém, apenas a inauguração da primeira fase do complexo e de um edifício ainda quase sem equipamento. “O material necessário para encher os espaços está na maternidade. Ao contrário do que se costuma fazer neste país, vamos aproveitar tudo”, esclareceu o presidente do conselho de administração do CHP.
Sollari Allegro já havia explicado que a abertura do CMIN, programado desde 1991 como parte do CHP, “sempre esteve prevista em três fases”. Até ao final de Maio será transferido o equipamento que está ainda na maternidade e só em Julho estará em funcionamento o internamento da pediatria. O serviço de consultas, contudo, já está a funcionar. Até ao final deste mês abrem o primeiro bloco de partos, o serviço de neonatologia e os internamentos de ginecologia e de obstetrícia. Estes serviços ainda estão a funcionar na Maternidade Júlio Dinis.
O CMIN receberá o nome de Albino Aroso, como forma de homenagear o médico, que faleceu recentemente, pelos serviços que prestou ao país em matéria de promoção do planeamento familiar e da saúde materna e infantil.
A conclusão do conjunto da obra estava prevista para Setembro de 2013, mas a inauguração desta terça-feira ocorreu sem que tivessem sido iniciada a reabilitação do antigo edifício da maternidade e a construção do parque de estacionamento de 314 lugares. O também líder da concelhia do PS/Porto, Manuel Pizarro, não compreende “como é tão difícil conseguir impulsionar a construção de um parque de estacionamento com tantos lugares e que se prevê ser um bom negócio”. Pizarro criticou ainda que, durante três anos, “o Governo não tenha transferido um cêntimo para o CHP, causando graves dificuldades na gestão financeira da unidade”.
“Nenhum governo faz de supetão uma obra”
Já o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, desdramatizou o atraso na construção e considerou que o CMIN é um “projecto ambicioso idealizado há mais de 30 anos e que só agora teve condições para emergir”. Passos afirmou que houve governos que “tomaram decisões” e outros que foram “sonhando e executando o projecto ao longo dos anos”. Aliás, o primeiro-ministro referiu que “nenhum Governo faz de supetão” uma obra deste tipo.
O ministro da Saúde, por seu lado, não comentou as críticas durante o seu discurso. Paulo Macedo fez antes questão de sublinhar que o CMIN terá capacidade para 4500 partos por ano e que na área da saúde “a região norte não é prejudicada face ao sul”, havendo “bons indicadores sobre isso”. “(Recentemente) abrimos até o centro de reabilitação do Norte”, observou.
O ministro salientou ainda que é no Norte que se localiza o “maior número de unidades de saúde familiar e de unidades de continuados” e que o CMIN concentrará o único banco de gâmetas do país. Paulo Macedo considerou, porém, que o CMIN, que vai contar com 45 valências de atendimento direccionadas para a mulher e para a criança, é um “mau exemplo de planeamento”.