Especialistas divididos

Altura certa para dar um contraceptivo a uma rapariga

A hipótese de dar contraceptivo às raparigas logo que têm a primeira menstruação divide especialistas. Há quem defenda esta estratégia em nome da prevenção de gravidezes indesejadas e há também quem a considere demasiado radical.

Num cenário de cor e de festa, várias raparigas entram na casa de banho acompanhadas de confettis. Entre saltos e gargalhadas, lançam os papelinhos sobre a amiga a quem acabou de aparecer a primeira menstruação. A imagem faz parte de um anúncio de há alguns anos a uma marca de pensos higiénicos, que tentou passar a ideia da naturalidade do momento. É com essa mesma normalidade que alguns especialistas internacionais defendem que os métodos contraceptivos devem ser introduzidos na vida das adolescentes, precisamente quando surge o primeiro período – para evitar o número de gravidezes indesejadas entre jovens.

Porém, especialistas portugueses consideram a ideia demasiado radical e defendem que, em Portugal, a existência do Serviço Nacional de Saúde aliada à educação sexual permitem que a escolha do contraceptivo seja feita de forma mais personalizada e na altura certa.

Para o ginecologista Christian Fiala, da Sociedade Austríaca de Planeamento Familiar, uma gravidez indesejada numa adolescente “é sempre mais errada do que proporcionar métodos contraceptivos antes das relações sexuais acontecerem”.

Em termos de dados portugueses, o estudo Health Behaviour in School-aged Children, conduzido por Margarida Gaspar de Matos junto de uma amostra de alunos do 8.º e 10.º ano, indica que mais de 80% dos inquiridos disseram nunca ter tido relações sexuais. Entre os que tiveram, 80% afirmaram que começaram com 14 ou mais anos, com 9% dos rapazes a referir que foi com menos de 11 anos, contra 2% nas raparigas. O preservativo esteve presente em quase todas as relações, com a pílula a reunir 37% das escolhas das raparigas.

Em relação aos motivos para começar a vida sexual, metade dos adolescentes responderam que queriam experimentar, 47% que estavam muito apaixonados, 28% que já namoravam há muito tempo, 18% admitiram que foi por acaso e 13% para que o parceiro não ficasse zangado. O mesmo trabalho mostrou, ainda, que os adolescentes que tiveram educação sexual até iniciaram a vida sexual tarde e são os que têm menos relações sexuais desprotegidas.

É precisamente no método a escolher que a presidente da Sociedade Portuguesa da Contracepção, Teresa Bombas, coloca a tónica, pois a toma não correcta compromete os resultados. Em mais de metade das gravidezes não planeadas as mulheres utilizavam algum tipo de contraceptivo. “Se vamos dar a pílula a uma rapariga, o que implica uma lembrança diária, e esta se esquecer então vamos estar a ser contraproducentes. Em termos de contracepção, a idade não é um marco mas sim a necessidade”, explica a médica, que lembra que a realidade de países nórdicos difere da portuguesa, onde o acesso gratuito a vários métodos contraceptivos tem permitido que a utilização seja proporcionalmente mais elevada em Portugal.

 

Fonte: 
Público Online
Nota: 
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