Por que é tão importante vacinar os rapazes contra o HPV

“Vacina tem um papel preponderante na diminuição do número de novos casos de cancro do colo do útero”

Atualizado: 
22/01/2021 - 15:01
Conferindo uma proteção estimada em 90% para o Cancro do Colo do Útero, a introdução, e recente alargamento aos rapazes, da vacina contra o HPV no Programa Nacional de Vacinação pode traduzir-se, já durante a próxima década, numa redução efetiva do número de casos da doença em Portugal. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Virgínia Monteiro, Coordenadora da Unidade Colposcopia-LASER do Hospital da Luz, explica como esta medida, embora não seja a única forma de prevenção, pode representar o início do fim deste tipo de cancro.

Em 2020, o Cancro do Colo do Útero foi o 3.º mais frequente entre as mulheres portuguesas com menos de 50 anos, tendo sido detetados cerca de 865 novos casos da doença. Diria que estes números estão em rota decrescente desde a introdução da vacina contra o HPV no PNV?

A vacina tem um papel preponderante na diminuição do número de novos casos de cancro do colo do útero. A vacina foi lançada em Portugal, em 2008, no PNV (Plano Nacional de Vacinação), abrangendo as meninas nascidas após 1992. Os efeitos preventivos da vacina são mais significativos antes do início das relações sexuais, uma vez que a vacina é profilática e não terapêutica. Isto significa que as primeiras mulheres vacinadas terão atualmente entre 29/30 anos.

A resposta à sua pergunta, é que os números estão em rota decrescente, mas dentro de 10-20 anos, o decréscimo será muito mais significativo.

Na sua opinião, o alargamento da vacina aos rapazes pode significar o início do fim do Cancro do Colo do Útero? O que se espera, ao número de novos casos, durante a próxima década?

Houve uma atualização do PNV, em outubro de 2020, que passou a incluir os rapazes na vacinação universal e gratuita contra o HPV, aos 10 anos.

O objetivo é duplo:

  • Diminuir a transmissão do vírus nas mulheres, ou seja, atuar na imunidade de grupo;
  • Prevenção individual de cada rapaz vacinado nas patologias dos homens associadas ao HPV, nomeadamente cancro do ânus, cancro do pénis, cancro da cabeça e pescoço, bem como outras lesões benignas, mas bastante frequentes, como os condilomas genitais (também conhecidos por verrugas genitais).

 Com a imunidade de grupo é expectável que a incidência do cancro do colo do útero diminua.

Em todo o caso, e embora a vacina seja uma ferramenta importantíssima em matéria de prevenção, ela não é a única. Em que consiste a chamada prevenção secundária?

A prevenção secundária é feita através do rastreio nacional organizado do cancro do colo do útero com teste HPV, entre os 25 e os 60 anos, através dos centros de saúde.

Podemos também falar no rastreio oportunístico, que é aquele que é feito nos consultórios privados e que deverá também ser feito através do teste HPV, que veio substituir a citologia (teste de Papanicolau).

Qual a importância dos rastreios? Quem deve fazê-los e em que periodicidade?

À semelhança do rastreio do cancro da mama e do cancro do intestino, o rastreio do cancro do colo do útero é fundamental para a diminuição da incidência do cancro do colo do útero. O rastreio tem como objetivo detetar precocemente lesões pré-malignas do trato genital inferior e tratá-las antes de progredirem para cancro.

O programa de rastreio do cancro do colo do útero destina-se à população do sexo feminino com idade igual ou superior a 25 anos e igual ou inferior a 60 anos.

 O teste primário consiste na pesquisa de ácidos nucleicos, dos serotipos oncogénicos e do vírus do papiloma humano (HPV), em citologia vaginal, a realizar de 5 em 5 anos.

Nos casos em que a pesquisa for positiva para os serotipos 16 e 18, as utentes devem ser encaminhadas para consulta de patologia cervical.

Nos casos positivos para os restantes serotipos oncogénicos, deve ser realizada citologia, sendo que as utentes com presença de células atípicas escamosas de significado indeterminado ou de alto grau, que apresentem células atípicas glandulares, bem como as que apresentem lesão intra-epitelial de baixo ou alto grau, devem ser referenciadas para consulta de patologia cervical.

As utentes que tiverem citologia negativa, com teste prévio positivo para o HPV, devem repetir a colheita no prazo de um ano.

Diria que, hoje, os portugueses estão mais despertos para esta doença?

Talvez um pouco mais despertos, mas ainda não o suficiente. Existem cofactores na história natural das doenças a HPV, que muitas vezes são ignorados pelas jovens. O tabaco, assim como as relações sexuais desprotegidas, deveriam ser mais amplamente divulgados como fatores que promovem a persistência da infeção por HPV e, consequentemente, o aparecimento de lesões no colo, vagina e vulva.

O que é que todos temos mesmo de saber sobre o HPV?

  • O cancro do colo do útero pode ser evitável através da vacinação e rastreio organizado.
  • As mulheres devem fazer regularmente uma consulta de ginecologia, no sentido da deteção precoce da doença.
  • As mulheres devem ter padrões de vida saudáveis, nomeadamente evitar o tabaco e alterações de comportamento sexual.
  • As mulheres que foram tratadas por lesões pré-malignas do colo do útero, vagina e/ou vulva, e que não fizeram a vacina no PNV (plano nacional de vacinação), poderão ser vacinadas no sentido de prevenir a recorrência da doença.

Depois de um ano como o de 2020, em que milhares de exames ficaram por fazer, que impacto pode ter tido a pandemia na vida de milhares de mulheres? Pode-se esperar um aumento casos ou casos mais graves nos próximos tempos?  

Em pleno pico de pandemia é difícil fazer futurismo.... Que esta situação irá ter seguramente impacto em todas as doenças não covid, não tenho dúvidas. 

No âmbito da Semana de Prevenção do Cancro do Colo do Útero que mensagem gostaria de deixar?

Apesar da grave situação pandémica que o País atravessa, não deixem de ser vacinadas, nem deixem de fazer o rastreio do cancro do colo do útero, pois só desta forma poderemos diminuir a incidência deste cancro em mulheres em idade fértil.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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