Opinião

Transformações Terrestres: Causa Humana ou Inevitabilidade Natural?

Atualizado: 
18/02/2025 - 10:16
Desde que me formei engenheiro, sempre tive um interesse particular em compreender os fenómenos naturais que moldam o nosso planeta. Embora a minha especialização não seja diretamente ligada às ciências da Terra, acompanho com atenção a evolução de vários estudos sobre geodinâmica, alterações climáticas, sismologia e magnetismo terrestre. Nos últimos anos, a narrativa dominante tem apontado a atividade humana como a principal responsável pelas mudanças climáticas e ambientais, mas, na minha perspetiva, há uma sobreposição de fenómenos que precisa de ser analisada com maior rigor.

Por um lado, reconheço que a ação humana tem impacto na Terra. A poluição, a desflorestação e as emissões de gases com efeito de estufa influenciam os ecossistemas e podem afetar o clima. No entanto, defendo que esta influência representa apenas uma pequena fração – talvez 15 a 20% – das mudanças que observamos. O que considero realmente relevante é o conjunto de processos naturais que ocorrem independentemente da nossa presença e que têm um impacto muito mais significativo (incluindo na nossa saúde, como o aumento de casos de cancro e dos problemas cardio-respiratórios e vasculares). A Terra está em constante transformação, e há fenómenos geológicos e cósmicos que moldam o planeta a uma escala muito superior à da atividade humana.

Nos últimos anos, a atividade sísmica e vulcânica tem vindo a aumentar em várias regiões do mundo. O deslocamento do campo magnético terrestre também está a ocorrer a um ritmo acelerado, e há estudos que indicam que uma enorme fenda se está a formar no Oceano Pacífico, podendo, a longo prazo, dividir massas continentais. Estes eventos não são causados pelo ser humano, mas sim pela dinâmica interna da Terra. Assim, faz sentido colocar a questão: será que estamos a sobrestimar o nosso impacto e a ignorar forças muito maiores que sempre estiveram em ação?

O Papel da Ação Humana: Um Fator Secundário

Ao longo das últimas décadas, a preocupação com as alterações climáticas tem sido amplamente debatida. O aumento das temperaturas médias, o degelo das calotes polares e a maior frequência de fenómenos meteorológicos extremos são frequentemente atribuídos à emissão de gases de efeito de estufa, em especial o dióxido de carbono (CO₂). A comunidade científica concorda que a industrialização e a queima de combustíveis fósseis têm um impacto no ambiente. No entanto, o que muitas vezes é negligenciado é que o clima da Terra sempre esteve sujeito a variações, mesmo antes da existência humana.

Há registos históricos que mostram que, entre os séculos IX e XIV, ocorreu um aquecimento global conhecido como Período Quente Medieval, seguido da Pequena Idade do Gelo (do século XV ao XIX). Estes ciclos naturais indicam que a temperatura do planeta oscila devido a fatores que vão além da atividade humana, incluindo variações na radiação solar, na inclinação do eixo terrestre e nas correntes oceânicas.

Se olharmos para os dados climáticos de longo prazo, torna-se evidente que o aquecimento global atual não é um fenómeno isolado nem inédito. Isso não significa que devemos ignorar a responsabilidade de reduzir a poluição e gerir os recursos naturais de forma sustentável, mas sim que devemos reconhecer que a Terra tem os seus próprios ciclos naturais, e que a nossa influência sobre eles é relativamente pequena.

Aumento da Atividade Sísmica e Vulcânica: Um Alerta Natural?

Enquanto se discute o impacto humano no clima, há fenómenos muito mais poderosos a ocorrer no planeta. A atividade sísmica e vulcânica tem vindo a aumentar em várias partes do mundo, e isso não pode ser atribuído à ação humana.

Nos últimos anos, temos assistido a um crescimento significativo da atividade vulcânica em áreas como a Islândia, o Cinturão de Fogo do Pacífico e algumas regiões do Mediterrâneo. Em 2021, a erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma (Espanha), foi um exemplo claro da força destrutiva que estes eventos naturais podem ter. Além disso, em 2023, a Islândia registou um aumento impressionante de atividade vulcânica, levando à evacuação de populações inteiras devido ao risco de novas erupções.

A atividade sísmica também parece estar a intensificar-se. O Japão, um dos países com maior registo de sismos, continua a sofrer abalos frequentes, alguns com magnitudes significativas. No Médio Oriente e na Turquia, a frequência e intensidade dos sismos têm vindo a aumentar, e os danos causados são cada vez mais devastadores.

Estes eventos fazem parte de um processo natural que ocorre há milhões de anos devido ao movimento das placas tectónicas. As forças que impulsionam estes movimentos são internas à Terra e estão muito além da capacidade humana de as influenciar. Podemos desenvolver tecnologias para prever sismos e minimizar os seus impactos, mas jamais poderemos evitá-los.

Mudanças no Campo Magnético da Terra e a Fenda no Pacífico

Outro fenómeno que tem despertado interesse na comunidade científica é a aceleração do deslocamento do Polo Norte Magnético. Durante grande parte do século XX, este polo movia-se a uma velocidade de cerca de 10 km por ano. No entanto, nos últimos anos, essa velocidade aumentou para aproximadamente 50 km por ano. Alguns cientistas acreditam que esta rápida deslocação pode ser um sinal de que estamos a caminho de uma inversão dos polos magnéticos – um evento que já ocorreu várias vezes na história da Terra, embora de forma irregular.

A inversão do campo magnético pode ter impactos profundos na vida no planeta, afetando desde os sistemas de navegação até à proteção contra a radiação solar. No entanto, este fenómeno ocorre independentemente da atividade humana e faz parte da dinâmica do núcleo terrestre.

Outro facto intrigante é a possível formação de uma fenda no fundo do Oceano Pacífico. Estudos recentes sugerem que uma enorme divisão geológica pode estar a ocorrer, potencialmente criando uma nova configuração das massas continentais ao longo de milhões de anos. Este é um processo natural que tem ocorrido ao longo da história geológica da Terra e demonstra que o planeta continua a evoluir, independentemente da presença da civilização humana.

O Futuro: Adaptação a um Planeta em Constante Mudança

Perante todos estes dados, parece-me claro que a visão simplista de que o ser humano é o único responsável pelas mudanças que ocorrem no planeta não faz justiça à complexidade da geodinâmica terrestre. O que está a acontecer resulta da sobreposição de dois fenómenos distintos: a inexpressiva influência humana, que representa talvez 15 a 20% das alterações que observamos, e a transformação terrestre natural, que é a principal força em ação.

O verdadeiro desafio para a humanidade não é tentar travar estas mudanças – algo que está fora do nosso controlo –, mas sim aprender a adaptar-se a elas. A obsessão em "combater" as alterações climáticas pode estar a desviar-nos de problemas mais urgentes, como o aumento da atividade sísmica e vulcânica, a possibilidade de inversão do campo magnético ou as mudanças geológicas que podem redefinir a configuração do planeta.

O que será o nosso futuro? A história da Terra ensina-nos que a mudança é inevitável. Como espécie, a nossa sobrevivência dependerá da nossa capacidade de compreender esses processos naturais e de nos adaptarmos a um mundo em constante transformação. A questão não é se o planeta mudará – porque ele sempre mudou e continuará a mudar –, mas sim se estaremos preparados para essa mudança.

Autor: 
António Ricardo Miranda - Engenheiro Electrotécnico e de Computadores de Controlo e Robótica e Pessoa com Deficiência Auditiva e Visual
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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