Opinião

Superar uma catástrofe, leva tempo

Atualizado: 
13/02/2023 - 09:48
Sabemos que a ajuda internacional e humanitária começou a chegar a algumas zonas afetadas pelos sismos da Turquia e Síria - e esperamos que se mantenha por um longo período – porque ultrapassar/superar uma catástrofe com esta dimensão, levará tempo.

Nos primeiros três meses após uma catástrofe (fase aguda), poderemos assistir a reações emocionais extremas, que apesar da sua expressão “tão marcada”, pode servir de alavanca para a fase seguinte, onde muitas destas pessoas vão conseguir (pelos recursos internos e externos) fazer uma integração e ajustamento (e superação) à situação em que vivem e a tentativa de reconstrução “da vida”.

O trauma psicológico causado por uma catástrofe natural, com milhares de vítimas e de tão grande destruição provoca, em muitas pessoas, sofrimento psicológico - o sentimento de insegurança, o medo da morte, a falta de controlo do ambiente que me rodeia, as perdas materiais, a perda de pessoas significativas (luto) tem um impacto muito negativo a nível psicológico, emocional e social. Sabemos que muitas destas pessoas, desenvolverão quadros psicopatológicos e de doença mental, por exemplo, Perturbação de Stress Pós-Traumático. No âmbito da Psicologia de Emergência, existem ferramentas práticas que podem ajudar estas vítimas e, não resolvendo todas as necessidades, podem, ainda assim, contribuir entre outras coisas, para a diminuição do surgimento de quadros psicopatológicos futuros. A intervenção psicológica em crise e catástrofe e os primeiros socorros psicológicos têm-se mostrado benéficos, tanto em crianças como em adultos que foram expostas a eventos críticos potencialmente traumáticos (e que necessitam de apoio psicológico e social), contribuindo para uma estabilização emocional, para um funcionamento mais adaptativo, gestão/redução do stress inicial, capacitação para o desenvolvimento de estratégias a curto e médio prazo para lidar “com o embate” emocional que a vivência de um evento desta natureza representa na vida destas pessoas.

As pessoas capacitadas, no âmbito dos primeiros socorros psicológicos, começam por observar e ouvir, comunicam de forma eficaz e salvaguardam a dignidade, cultura e as capacidades da pessoa que está a ser assistida. Vão estabelecer uma ligação humana empática - de forma não intrusiva - devem promover a segurança, desde o primeiro momento e providenciar conforto físico e emocional – a possível; devem orientar e acalmar vítimas com reações intensas; ajudam os sobreviventes a comunicar as necessidades e preocupações imediatas e recolhem a informação necessária; oferecem ajuda prática e informação às vítimas; vão conectar as vítimas, assim que possível, à sua rede social de apoio, incluindo família, amigos, vizinhos, e recursos comunitários; tentam promover o coping adaptativo e que as vítimas tenham um papel ativo na sua recuperação e fornecem estratégias que as ajudem a lidar de forma mais eficaz com o impacto psicológico do incidente no imediato e no futuro.

Importante também é que a nível local, pessoas influentes nestas comunidades – com a capacitação necessária - possam ter um papel “nesta recuperação” a curto e médio prazo – A rede de apoio local e comunitário, poderá organizar-se e criar grupos de suporte “onde se acolham, ajudem e acompanhem as vítimas”. Permitindo ainda, o encaminhamento para serviços especializados, ajudar em processos de luto prolongado, identificar sinais/sintomas psicopatológicos persistentes (…).

O “embate psicológico” de eventos traumáticos, pode ser muito violento, no que respeita ao sofrimento psicológicos, as perdas são enormes (reais e simbólicas). A rede de suporte (sentida) e a comunidade, podem ser a “almofada” nestas situações. E a promoção destas redes, pode caber-nos, a todos nós.

Autor: 
Ana Carina Valente - Psicóloga e Docente do Ispa IU
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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