Opinião

Sono normal e a evolução ao longo da vida

Atualizado: 
17/03/2023 - 14:16
Existem muitos mitos relacionados com o sono e alguns deles relacionados com a necessidade de dormir nas diferentes fases da vida. Se é verdade que o sono se modifica ao longo da vida, não é verdade que com o envelhecimento precisamos dormir pouco.

De facto, um dos fatores que mais influencia as fases do sono e o nosso ritmo circadiano (o nosso relógio interno) é a idade.

No recém-nascido, quando o ritmo circadiano começa a adaptar-se à luz (um dos principais sincronizadores no processo de sono-vigília), a criança dorme ao longo do dia e da noite, com uma duração esperada de 14 a 17 horas e por períodos curtos de sono. A partir dos 2 a 4 meses, começa a existir diferenciação da estrutura e funções cerebrais. Depois dos 4 meses, existe tendência a concentrar o sono no período noturno, à medida que a duração de sono esperada passa a ser de 12 a 15 horas.

A partir do 1º ano de vida, a duração de sono continua a reduzir (para 11-14 horas) e a partir dos 3 anos as sestas deixam de ser necessárias e o sono concentra-se definitivamente no período noturno. Nesta fase existem algumas regras e rotinas que devem ser implementadas para melhorar a qualidade de sono da criança e da família, que designamos por medidas de higiene do sono. É essencial a regularidade dos horários de sono, bem como dos horários das refeições e das sestas. A rotina na hora de deitar deve ser assegurada e a autonomia da criança na hora de adormecer deve ser estimulada.

O sono dos adultos começa a esboçar-se a partir dos 6 anos de idade e a partir desta idade até aos 18 anos a duração esperada começa a aproximar-se das necessidades das 9-11 horas e depois para 8-10 horas.

No início da puberdade, ocorre uma alteração fisiológica no horário de adormecer, que consiste num atraso da hora, razão pela qual surge a vontade de deitar mais tarde e em que a família deve estar alerta para hábitos de sono que podem ser prejudiciais.

A tendência para dormir mais tarde numa sociedade em que as aulas têm início muito cedo de manhã, a utilização de dispositivos eletrónicos até muito tarde e o início frequente do consumo de tabaco e álcool podem levar a hábitos irregulares de sono e a sono insuficiente. Sabemos que, entre as inúmeras funções do sono, estão a aprendizagem e memória, e por isso é fácil de antecipar o impacto no rendimento escolar e académico que a privação do sono ou o sono irregular podem ter.

A partir da idade adulta a duração esperada de sono é de 7 a 9 horas (habitualmente 7 a 8 a partir dos 60 anos), no entanto, este número de horas é meramente indicativo. Cada pessoa tem o seu número «mágico», aquele que permite repousar e acordar com sensação de sono reparador e sem sonolência durante o dia e esse número pode ser diferente de pessoa para pessoa.

Com o envelhecimento surgem alterações do estilo de vida: da reforma ao isolamento, da alteração de rotinas à diminuição da atividade física e social que podem ter impacto no sono e aumenta a probabilidade de desenvolvimento de doenças do sono.

Para evitar o aparecimento dessas doenças é necessário compreender que um bom sono começa numa vida saudável: o exercício regular e alimentação equilibrada são essenciais.

A preparação de uma boa noite de sono tem início durante o dia. Depois devem ser criadas condições para um bom sono: uma atividade relaxante à noite, evitar consumo de bebidas alcoólicas à noite, não fumar, evitar bebidas com cafeína após o almoço. É fundamental criar condições para uma boa noite de sono: quarto com temperatura 17-19 graus, sem luminosidade ou ruído e sem dispositivos eletrónicos.

O mais importante é reconhecer que o sono é essencial à vida e que é necessário que seja regular (horários de adormecer e acordar semelhantes dia após dia), contínuo (sem despertares durante a noite), na quantidade adequada e reparador.

Da infância à idade adulta, o sono é essencial à vida.

Autor: 
Dra. Susana Sousa – Pneumologista; Unidade de Medicina do Sono Hospital CUF Tejo e Hospital CUF Descobertas
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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