Sono insuficiente e envelhecimento precoce
O sono considera-se insuficiente quando não é capaz de suportar um nível de alerta adequado nem um bom desempenho. A sua restrição tem sido associada a doenças neurodegenerativas demenciais, com efeitos quantificados na função neurocognitiva, mas também a outras comorbilidades e efeitos fisiopatológicos, para além dorisco aumentado de acidentes e de erros no trabalho.
É por isso importante fazer uma pesquisa direcionada aos sintomas relacionados com esta condição e que incluem: fadiga crónica, sonolência diurna, instabilidade do humor, irritabilidade, dificuldades cognitivas, diminuição da libido, entre outras. É ainda fundamental investigar distúrbios do sono como a apneia obstrutiva ou central, a insónia crónica, a síndrome das pernas inquietas e ponderar algumas condições que podem contribuir para a má qualidade do sono. Incluem-se as doenças neurológicas (considera-se hoje a qualidade do sono um potencial biomarcador para doenças neurodegenerativas demenciais, pelo que é importante estar sensibilizado para este facto), entre várias outras doenças médicas como a depressão ou alguma medicação com efeitos secundários na arquitetura do sono.
De realçar que, com o envelhecimento, há uma perda natural de neurónios no núcleo supraquiasmático, com redução da produção da melatonina, por vezes de forma mais significativa se na presença de patologia ocular, contribuindo para a dessincronização do ritmo circadiano no idoso, acontecendo muitas vezes um avanço na fase do sono. Sendo um processo normal do envelhecimento, as consequências negativas para a saúde são importantes e potenciam o processo de envelhecimento, devendo este distúrbio de fase do sono ser abordado, desacelerando assim o processo neurodegenerativo.
Em relação ao impacto no envelhecimento precoce, que se relaciona com a inflamação persistente, verificada pela elevação de marcadores pró-inflamatórios como a proteína C reativa, a restrição do sono é reconhecidamente um fator de risco para perfis cardiometabólicos adversos, como aliás foi verificado em estudos prospetivos de grande amostra dimensional como a do biobanco do Reino Unido.
Para além de promover um estado inflamatório, a privação crónica de sono também se associa a imunossupressão, obesidade e síndrome metabólico, contribuindo para a senescência celular.
A restrição do sono tem também um efeito disruptivo no maior órgão do corpo humano: a pele.
A pele, como a maioria dos outros sistemas, tem um ritmo circadiano associado à ritmicidade endógena. Uma série de genes circadianos CLOCK (Circadian Locomotor Output Cycles Kaput), BMAL1 (Braib and Muscle Arntlike 1), PER (Perio) and CRY (Cryptochrome) influenciam diretamente a proliferação celular, a sua renovação e o envelhecimento. Essa renovação celular cutânea ocorre sobretudo durante a noite, quando também há maior secreção de melatonina, adenosina, cortisol e hormona de crescimento e que vão influenciar as propriedades anti-inflamatórias e regenerativas da pele.
Quando esse ritmo não é respeitado, a aparência facial é afetada, favorecendo edema palpebral, olheira, olho vermelho, palidez cutânea e o aparecimento de rugas, para além de comprometer a recuperação da barreira cutânea após agressão externa.
A auto-percepção de atratividade também fica afetada, com repercussão até a nível social e relacional.
O sono é essencial para a saúde física e mental e regula praticamente todos os sistemas do nosso organismo. A sua perturbação pode acontecer em qualquer idade e, apesar do grande impacto que acarreta na qualidade de vida, muitas vezes não é valorizada pela pessoa que sofre dessa perturbação.
Cabe-nos, por isso, estar alerta aos sinais e promover uma boa qualidade do sono, prevenindo dessa forma a imunosenescência acelerada e o envelhecimento precoce.