Sintomas e tratamento

Síndrome do Intestino Irritável: alimentação e stresse entre os fatores desencadeantes

Atualizado: 
16/09/2020 - 10:07
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio crónico muito comum, benigno, mas com grande impacto na qualidade de vida. É uma alteração funcional do intestino, não se objetivando inflamação, infeção ou lesões tumorais.

As causas não estão bem estabelecidas, mas o tecido muscular do intestino parece ser mais sensível e reagir mais intensamente a estímulos como a alimentação e stresse. Manifesta-se por dor abdominal difusa, tipo cólica, que alivia após as dejeções ou emissão de gases; diarreia, obstipação ou alternância entre as duas; distensão e sensação de gás abdominal, que pode agravar após as refeições.

Os sintomas devem ter uma evolução num período superior ou igual a 6 meses, e estar presentes nos últimos 3 meses, no momento do diagnóstico. As queixas podem ser ligeiras ou mais graves, variando ao longo do tempo. Pode ocorrer em qualquer idade, sendo mais frequente no adulto jovem e no sexo feminino. Está frequentemente associada a outras queixas funcionais, nomeadamente esófago-gástricas (azia, náuseas, dor epigástrica, saciedade precoce), urinárias, ginecológicas e reumatológicas (fibromialgia), bem como sintomatologia depressiva e/ou de ansiedade. Geralmente, não se verifica a presença de sangue nas fezes, febre, anorexia ou emagrecimento, que constituem sinais/sintomas de alarme sugestivos de doença orgânica. Os sintomas noturnos não são frequentes, mas podem ocorrer quando há problemas de insónia.

Na maioria dos casos, os sintomas são desencadeados ou agravados pela ingestão de determinados alimentos, que variam de indivíduo para indivíduo; stresse e ansiedade; infeções intestinais (embora a SII não seja causada por uma infeção, os sintomas podem ter início após um episódio de gastroenterite e prolongar-se por períodos variáveis).

Não existe um teste específico para diagnosticar a SII. A história clínica e o exame físico são fundamentais para o diagnóstico, podendo ser suficientes no caso de sintomatologia típica e ausência de fatores de risco e sinais/sintomas de alarme.

A realização de exames laboratoriais (ao sangue e às fezes), imagiológicos e endoscópicos, pode ser necessária uma vez que os sintomas da SII são comuns a outras patologias orgânicas, como a doença inflamatória intestinal, doença celíaca, tumores intestinais, inflamação associada a divertículos do cólon, intolerância à lactose, parasitoses intestinais, entre outras.

Não existe um tratamento curativo para a SII. As mudanças no estilo de vida e na dieta, a avaliação de problemas emocionais associados, e os tratamentos médicos podem ser necessários para toda a vida, de forma persistente ou nos períodos em que ocorre agravamento dos sintomas. A atividade física regular, redução do stress laboral e criação de rotinas no hábito de ir à casa de banho podem ajudar no controlo dos sintomas. É essencial manter uma boa hidratação e uma alimentação diversificada, com pequenas refeições regulares ao longo do dia, evitando alimentos processados. As medidas dietéticas devem ser ajustadas de acordo com os sintomas predominantes – distensão, diarreia ou obstipação. Está recomendada a prova terapêutica com uma dieta pobre em oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis (FODMAPs).

Quando as medidas dietéticas e de estilo de vida são insuficientes, é necessário recorrer ao tratamento farmacológico que pode incluir: probióticos; laxantes, no caso de obstipação; antidiarreicos, no caso de diarreia; agentes antiespasmódicos, para as cólicas abdominais. Alguns antidepressivos têm efeito na sensibilidade e motilidade intestinais, assim como no humor, e são opções importantes no controlo da dor abdominal associada à SII. A psicoterapia pode ser muito benéfica e eficaz, devendo ser equacionada nos casos de sintomatologia persistente e incapacitante.

Para o sucesso do tratamento, é fundamental o estabelecimento de uma boa relação médico-doente, por forma a tranquilizar o paciente e compreender a relação dos sintomas com o seu estado emocional.

Autor: 
Dra. Alexandra Fernandes - Centro Hospitalar de Leiria
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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