Será possível reverter o envelhecimento cerebral?
Um cérebro envelhecido desenvolve menos neurónios do que um cérebro jovem. Com menos neurónios para lidar com a troca rápida de impulsos, o cérebro começa a desacelerar.
Bem, prepare-se para uma surpresa. Os cientistas do Queensland Brain Institute (QBI), na Austrália, alteraram com sucesso o processo e conseguiram, de facto, estimular o crescimento dos neurónios, revertendo assim a deficiência cognitiva. E fizeram-no administrando suplementos de selénio, um micronutriente essencial que é encontrado na nossa alimentação.
Estimular o crescimento dos neurónios
Estudos anteriores sobre o impacto do exercício em cérebros envelhecidos descobriram que os níveis de selenoproteína P, uma proteína chave para transportar selénio no sangue, foram elevados pela atividade física.
Sabe-se há cerca de 20 anos que o exercício físico estimula o crescimento dos neurónios no cérebro, embora o mecanismo não seja totalmente compreendido. Por conseguinte, a equipa australiana de cientistas queria ver se o selénio poderia replicar o efeito rejuvenescedor do exercício sobre o cérebro, e descobriram que poderia.
Quando deram suplementos de selénio a ratos, a produção de neurónios nos seus cérebros aumentou, revertendo efetivamente o revés cognitivo do envelhecimento.
Reverter as lesões causadas pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC)
No entanto, não fica por aqui. Os investigadores do QBI também testaram se o selénio poderia de alguma forma influenciar o retrocesso cognitivo dos cérebros em ratos que tinham sofrido um AVC. Também aqui o selénio revelou o potencial de restaurar a capacidade cognitiva normal.
Os ratinhos jovens e saudáveis são normalmente muito bons a aprender e a memorizar. Um AVC, contudo, priva-os da capacidade de realizar estas tarefas. No entanto, os cientistas conseguiram restaurar a capacidade normal de aprendizagem e a função de memória em ratos afetados por um AVC.
Nova esperança terapêutica para seres humanos
Embora a investigação tenha sido realizada em ratos de laboratório, a equipa australiana de cientistas acredita que os resultados do seu estudo abrem uma nova oportunidade terapêutica para impulsionar a função cognitiva em indivíduos que são impedidos de se exercitarem, seja devido a uma saúde precária ou à velhice.
O selénio não é apenas importante para a função cerebral, mas também para a saúde cardiovascular e o bem-estar geral. Isto foi demonstrado no estudo KiSel-10 que foi publicado em 2013 no International Journal of Cardiology.
Neste estudo, os idosos que tomaram uma levedura de selénio chamada SelenoPrecise juntamente com cápsulas de coenzima Q10 tiveram 54% menos mortes relacionadas com a doença cardiovascular.
Factos:
O que é o selénio?
O selénio é um oligoelemento essencial (e um mineral) que obtemos em variados alimentos, tais como os cereais integrais, marisco, miudezas e nozes. O corpo precisa de selénio para produzir entre 25-30 proteínas diferentes dependentes de selénio - ou selenoproteínas - que são necessárias para apoiar diferentes funções biológicas como o sistema imunitário, o crescimento de unhas e cabelo, a fertilidade, o metabolismo e a produção celular. A ingestão média de selénio na Europa é substancialmente baixa devido aos solos agrícolas serem pobres em nutrientes.
O que é a selenoproteína P?
No nosso organismo, temos uma série de selenoproteínas que desempenham diferentes funções. Uma delas é denominada selenoproteína P e é a proteína com maior teor de selénio, razão pela qual é utilizada para avaliar o status de selénio do organismo. A selenoproteína P transporta o selénio do fígado para os diferentes tecidos do corpo, incluindo o cérebro. A selenoproteína P é capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica, que serve para proteger o cérebro contra agentes patogénicos e toxinas circulantes na corrente sanguínea. Devido à sua capacidade de penetrar esta camada protetora, a selenoproteína P é essencial para o fornecimento de selénio ao cérebro.
Fontes:
Selenium mediates exercise-induced adult neurogenesis and reverses learning deficits induced by hippocampal injury and aging, Cell Metabolism, February 3, 2022